A partir de 1253, séculos depois do greco-budismo ter sido amplamente destruído, novas interações entre a cultura europeia e o budismo recomeçaram a surgir.
Tradução sob permissão do artigo “Interactions between Buddhism & Modern European culture”, da European Buddhist Union | Ver original.
O encontro documentado mais antigo entre um cristão ocidental e um budista oriental foi em 1253, quando o rei da França enviou um embaixador à corte do Império Mongol (os mongóis mais tarde, no século XVII, fundaram a Calmúquia, que até ao presente é a única nação budista no continente europeu. Hoje, a República da Calmúquia pertence à parte europeia da Federação Russa).
No mesmo século, viajantes internacionais europeus começaram a escrever os primeiros relatos sobre o budismo (e os cristãos nestorianos no Oriente), o mais famoso deles, sem dúvida, Marco Polo. O livro do século XIII ‘Livre des Merveilles du Monde’ (literalmente ‘O Livro das Maravilhas do Mundo’, mas em inglês mais conhecido como ‘The Travels of Marco Polo’) contém a primeira narrativa completa no Oeste sobre a vida do Buda.
No entanto, foi somente nos séculos XVI e XVII que as primeiras tentativas para entender o budismo corretamente foram feitas pelos europeus cristãos, que era principalmente o trabalho dos missionários jesuítas na Ásia.
O italiano Ippolito Desideri (1684 – 1733)* foi um missionário jesuíta no Tibete e foi o primeiro europeu conhecido a estudar a língua tibetana e a filosofia budista em mosteiros tibetanos durante vários anos. Em 1728 ele terminou o relato europeu mais completo e preciso da filosofia budista escrito antes do século XIV. Infelizmente, a cúria vaticana não aprovou a sua publicação, e assim o manuscrito desapareceu nos arquivos da Igreja.
Enquanto isso, a Europa ainda não estava familiarizada com o ‘budismo’. “Os viajantes europeus na Ásia não entenderam que o que se praticava no Ceilão, Tailândia, Mongólia, Tibete, China, Japão e Coreia pertenciam à mesma religião. Eles pensavam que todos esses diferentes aspetos do budismo eram diferentes cultos regionais. Foi somente no final do século XVII que toda a extensão e diversidade do budismo foi reconhecida. E tivemos que esperar até meados do século XIX para que a primeira compreensão académica do budismo começasse a surgir.”
“A figura chave aqui foi o francês Eugène Burnouf (1801-1852), que foi o primeiro a providenciar aos europeus uma compreensão coerente do budismo como filosofia e modo de vida.
E então, de repente, os europeus ficaram surpresos ao descobrir que na Ásia havia uma figura, o Buda, comparável em muitos aspetos ao Cristo, que antecedeu Jesus em vários séculos, cujos ensinamentos não apenas foram disseminados tão amplamente quanto os do cristianismo, mas também pareciam incorporam muitas das virtudes que os cristãos defendiam. Veio como uma descoberta bastante surpreendente.“
(Stephen Batchelor, A Buddhist Voice for Europe)
Ao contrário da crença comum, as raízes de uma presença budista estabelecida no Ocidente remontam à muito mais tempo do que à década de 1960 e podem ser rastreadas até ao final do século XIX.
Em 1881, a Pali Text Society foi fundada por Thomas William Rhys Davids “para fomentar e promover o estudo dos textos Páli”. Ela publica textos páli usando caracteres romanos, faz traduções para inglês e trabalhos auxiliares, incluindo dicionários, uma concordata, livros para estudantes de páli e um jornal. A maioria dos textos e comentários clássicos já foram editados e muitas obras traduzidas para o inglês.
Em 1891, Anagarika Dharmapala fundou a Maha Bodhi Society. Filiais da Sociedade foram criadas nos EUA (1897), Alemanha (1911) e Grã-Bretanha (1926).
O discurso de Dharmapala no Parlamento Mundial das Religiões em Chicago no ano de 1893, recebeu muita atenção dos média e foi visto como um sinal do renascimento budista no final do século XIX.
Os primeiros mosteiros budistas na Europa (ocidental e central) foram estabelecidos na década de 1920 (Das Buddhistische Haus em Berlim em 1924 e The London Buddhist Vihara em 1926, ambos Theravada. O templo budista mais antigo (fora da Calmúquia) na Europa Oriental foi construído em 1909 em São Petersburgo).
Os primeiros Congressos Budistas Europeus aconteceram na década de 1930. O primeiro congresso foi no Das Buddhistische Haus em Berlim (23-25 de setembro de 1933), o segundo no The Buddhist Vihara em Londres (22-23 de setembro de 1934) e finalmente Paris (16-18 de junho de 1937, organizado pela Les Amis du Boudhisme).
O budismo europeu está crescendo rapidamente. De 1970 a 2000, por exemplo, o número de organizações budistas no Reino Unido cresceu de 74 para 400, e na Alemanha de 40 para 500 (Baumann, “Global Buddhism: Developmental Periods, Regional Histories, and a New Analytical Perspective”, in Journal of Global Buddhism, volume 2, 2001).
Hoje, as autoridades políticas da maioria dos países europeus passaram a ter alguma forma de reconhecimento oficial do budismo. Uma pesquisa da EBU feita em 2012 comparou os dados numéricos de budistas na Europa fornecidos pelas organizações que são nossos membros com os de outras estimativas internacionais: com base nos dados disponíveis, assumimos que existem aproximadamente 3 milhões de pessoas que se identificam como budistas na Europa (incluindo a Rússia).
* N. do T.: Foi no entanto, em 1624, o padre português António de Andrade (1580-1634) o primeiro Ocidental a visitar o Tibete. Em 1626 os padres Estevão Cancela e João Cabral são os primeiros europeus a chegar ao Butão, Siquim, Nepal e Tibete central. E em 1631 o padre Francisco de Azevedo visita Leh, a capital do reino tibetano Ladaque, atual território da Índia.
Imagem de destaque: Das Buddhistische Haus (Casa Budista). Complexo de templos budistas Theravada (Vihara) em Berlim, Alemanha. É considerado o maior e mais antigo centro budista Theravada da Europa e foi declarado Patrimônio Nacional. | Créditos: Wikimedia (Ekem) – CC BY-SA 4.0
Veja também:
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