O incenso tem sido utilizado desde há milhares de anos. Neste artigo vamos conhecer um pouco mais sobre essa fragrância e a sua utilização dentro do budismo.
Conteúdo:
- O que é e para que serve?
- Breve história do incenso
- O incenso na prática budista
- Os budistas têm que usar incenso?
- Estudos revelam benefícios para a saúde mental
- Avisos e dicas de segurança para a queima de incenso
O que é e para que serve?
O incenso é um material vegetal que quando queimado liberta fumo e um aroma agradável. Eles são feitos a partir de elementos diversos, tais como diferentes plantas, cascas de árvores, sementes, e até resinas. Os incensos também são frequentemente infundidos com óleos essenciais para gerarem uma grande variedade de cheiros agradáveis. Os quatro tipos comuns de incenso assumem as formas de vareta (sem núcleo ou com núcleo, como um bastão de bambu central), espiral, cone e pó.
Incensos não são usados apenas no budismo, eles são usados por pessoas e grupos em todo o mundo para propiciarem um ambiente aprazível para terapias, pratica meditativa, cultos e cerimónias. Além disso, muitas pessoas queimam incenso apenas para fins recreativos e estéticos e não atribuem nenhum significado religioso ou específico a ele, elas simplesmente apreciam o aroma. Alguns incensos também podem servir como repelente de insetos.
Breve história do incenso
A palavra incenso vem do latim incendere que significa “queimar”. O incenso tem sido utilizado desde há milhares de anos, as evidências mais antigas remontam ao antigo Egipto, Babilónia, Civilização do Indo e China.
No Egipto bolas de resina foram encontradas em muitas tumbas pré-históricas, evidenciando a proeminência do incenso e de compostos relacionados na antiguidade egípcia. Um dos mais antigos queimadores de incenso existentes é originário da 5ª dinastia egípcia (século 25 aC até meados do século 24 aC). O Templo de Deir-el-Bahari contém uma série de esculturas que retratam uma expedição de incenso. Algumas fontes referem que os incensos eram usados para atividades místicas como deter demónios malévolos e apaziguar os deuses com o seu aroma agradável, mas também para neutralizar maus cheiros de habitações. Também os babilónios usavam incenso enquanto ofereciam orações aos oráculos de adivinhação e a partir de lá se espalhou para a Grécia e Roma.
Antigos queimadores de incenso da Civilização do Indo (3300-1300 aC) foram encontrados e evidências sugerem que foram os primeiros a usarem partes subterrâneas de plantas. Óleos e sementes, tais como sementes de salsaparrilha, foram usados na fabricação de incensos. A queima de incenso foi usada tanto para criar aromas agradáveis quanto como uma ferramenta medicinal. A sua utilização na medicina é considerada a primeira fase do Ayurveda e foi assimilada nas práticas religiosas.
Na China Antiga o incenso foi usado desde os tempos neolíticos, tendo-se tornado mais difundido nas dinastias Xia (2070–1600 aC), Shang (1600 -1046 aC) e Zhou (1046 – 256 aC). O uso documentado mais antigo do incenso vem dos antigos chineses, que utilizavam incensos de produtos vegetais, como cássia, canela, styrax e sândalo, como uma componente de numerosos ritos cerimoniais. O uso de incenso atingiu o seu pico durante a dinastia Song (960–1279), com inúmeros edifícios erguidos especificamente para cerimónias de incenso.
Voltando à Índia, após a fundação do budismo, os budistas também começaram a usar incenso, e à medida que o budismo se espalhava para outras culturas, essa prática também era levada pelos monges. Foi assim que no século VI, levado por monges budistas coreanos, o incenso chegou ao Japão. O incenso japonês de alta qualidade (Koh), com os seus delicados aromas, tornou-se uma fonte de diversão e entretenimento para os nobres da Corte Imperial durante o período Heian. A utilização do incenso se espalhou e deu origem ao Kodô (Caminho do Incenso), que consiste na arte de apreciar o incenso japonês, e que passou a ser uma das três artes clássicas japonesas de refinamento, juntamente com o kadô (Caminho do Arranjo Florar) e o chadô (Caminho do Chá).
O incenso na prática budista
O ato de queimar incenso é uma prática antiga que é observada pela generalidade das escolas budistas. O incenso é mencionado frequentemente nas antigas escrituras budistas do Cânone Páli*; juntamente com flores, comida, bebida e até vestimentas, era uma oferenda comum feita como sinal de respeito a uma pessoa reverenciada.
O incenso também passou a ser usado no altar budista e prática devocional. Ele representa o perfume do Dharma, a virtude e as boas ações, representa os ensinamentos do Buda a espalharem-se por todas as direções e representa a realidade absoluta. Ao honrarmos as 3 Joias (Buda Dharma e Sangha), considera-se que criamos várias condições positivas favoráveis ao bom karma, tais como o desenvolvimento da generosidade, paciência, diligência, concentração, da superação do orgulho e das nossas tenências egocêntricas, entre outras. Além de servir como oferenda (sem que exista a finalidade de receber algo em troca), muitas vezes também serve para cronometrar a prática budista, com por exemplo uma sessão de meditação entre 40m a 1h, que é a duração de muitos varetas de incenso.
A queima de incenso serve para “purificar” o espaço de prática e pode ajudar a acalmar a mente e a criar um ambiente inspirador e propicio para as diversas práticas budistas. Mas a forma de o usar assim como as representações simbólicas podem variar entre as escolas budistas.
Oferenda de incenso em vareta (um exemplo)
Suponhamos que você montou um altar doméstico e deseja fazer uma oferenda de incenso. Se o altar possui uma vela, normalmente ela é acendida primeiro. Uma prática padrão é curvar-se para a imagem de Buda com as palmas das mãos juntas, acender o incenso e fazer 3 reverências. Depois da oferenda, se assim se desejar, prosegue-se com a leitura de sutras, cânticos, prática meditava, ou outro tipo de prática budista. Se for necessário apagar o incenso, geralmente considera-se que não deve ser através do sopro.
Normalmente nos templos as varetas de incenso são colocadas em tigelas de cerâmica ou de metal com cinzas de incenso acumuladas durante vários anos. As cinzas além de servirem para segurar a vareta, são uma indicação da quantidade de práticas que foi feita. Se não existirem cinzas acumuladas pode ser colocado arroz ou areia dentro da tigela para servir de suporte, ou ser utilizado um incensário. Quando é necessário descartar cinzas, geralmente são depositadas na natureza.
Os budistas têm que usar incenso?
O uso de incenso não é absolutamente um requisito no budismo. Rituais como queimar incenso podem servir como uma ferramenta valiosa no caminho budista, mas você certamente pode praticar e progredir sem usar incenso. O budismo é um caminho gradual de transformação que visa o despertar. Embora os rituais possam ser úteis, tente não colocar muita ênfase neles à custa do seu treino mental. Queimar incenso deve ser usado para complementar a sua prática, não substituí-la. Alguns templos e mosteiros para evitar certos riscos optaram por não usar incenso, mas em muitos outros a sua utilização continua amplamente.
Estudos revelam benefícios para a saúde mental
Alguns estudos* revelam a existência de benefícios para a saúde, sendo que isso não se trata de um mero efeito psicológico ou de placebo.
Uma equipe internacional de cientistas, incluindo pesquisadores da Universidade Johns Hopkins e da Universidade Hebraica de Jerusalém, descreve como a queima de incenso (resina da planta Boswellia), ativa canais iónicos pouco compreendidos no cérebro que aliviam a ansiedade ou a depressão. Outros estudos demonstra que odores agradáveis funcionam como antidepressivos.
Também para a memória parecem existir efeitos positivos. Uma pesquisa* da Universidade de Freiburg, na Alemanha, afirma que adolescentes que estiveram a estudar e depois foram dormir sentindo o cheiro de incenso, memorizaram melhor aquilo que aprenderam nos seus estudos.
Mas nem todas as pesquisas trazem boas notícias, como veremos no próximo tópico.
Aviso e dicas de segurança para a queima de incenso
Alguns estudos informam sobre os potenciais perigos para a saúde devido à libertação de fumo e de substâncias químicas. Para evitar possíveis riscos, e independentemente de estudos, existem alguns cuidados a ter, tais como:
- Você nunca deve deixar o incenso ou velas acesas sem vigilância em nenhuma circunstância. A segurança deve ser uma prioridade ao usar o incenso. Deixar o incenso sem vigilância, mesmo que por breves momentos, pode criar um risco desnecessário de incêndio. Se você tem animais, redobre os cuidados. Evite potenciais problemas para si a para as outras pessoas.
- Tente optar por incensos mais naturais, sem substâncias químicas. Alguns desses estudos referem o risco de algumas substâncias químicas, mas existem muitos tipos de incensos, substâncias duvidosas não estão presentes em todas as marcas. Ainda assim, há que ter cuidado com o fumo libertado.
- Mantenha o local onde está a queimar o incenso arejado.
- Não esteja demasiado próximo/a do incenso para evitar respirar o fumo e gases nocivos, como o monóxido de carbono e outros possíveis poluentes tóxicos, que não são saudáveis se inalados.
- Inalar grandes quantidades de fumo de incenso por um longo período de tempo pode aumentar o risco de cancro. Portanto, você deve usar incensos com moderação.
- Não precisa de queima o incenso todo de uma só vez, principalmente se for num local fechado e pequeno. Nessa situação, acender o incenso, deixar queimar por uns segundos e apagar, é o suficiente para deixar o aroma no ambiente, sem que o local fique com fumo ou um ar pesado.
- Se você tem problemas alérgicos e/ou respiratórios, redobre os cuidados, e se for caso disso, não utilize incensos.
- O uso de óleos essenciais (geralmente aquecido numa tigela de água sobre uma vela) pode ter todas as deliciosas sensações do incenso sem a libertação de fumo, que pode ter riscos associados.
- Outra alternativa são os queimadores de incenso elétricos, que podem queimar incenso natural, com menos fumos e com uma queima mais longa.
- E se tiver paciência, pode tentar fazer o seu próprio incenso sem utilizar substâncias consideradas nocivas.
Seguindo algumas dicas simples como estas, você evitará riscos e poderá utilizar incensos de forma segura (a não ser que tenha problemas alérgicos e/ou respiratórios que não o permitam). Desde há milhares de anos que o incenso é utilizado, apenas há que ter alguns cuidados no seu uso.
Veja também:
Discover more from Olhar Budista
Subscribe to get the latest posts sent to your email.