“Como podemos encontrar sentido e satisfação duradoura quando tudo o que buscamos é temporário? Se formos honestos connosco, veremos que não são apenas as coisas às quais nos apegamos que são temporárias, mas também nós somos temporários. No fundo, podemos sentir que, com toda essa incerteza, qual é o sentido?” – Khensur Rinpoche
Neste post, 5 mestres budistas respondem à pergunta “qual é o sentido da vida?” As seguintes respostas são uma tradução autorizada das respostas originalmente publicadas no site Excellence Reporter.
Este é o 2º post desta série, consulte também o 1º post.
Sulak Sivaraksa
O sentido da minha vida é respirar adequadamente, a fim de sincronizar a minha cabeça com o meu coração, transformar a cobiça, o ódio e a ilusão em mim mesmo em generosidade, bondade amorosa e sabedoria.
Com paz interior, espero trazer paz ao mundo, enfrentando a estrutura social – que é opressiva e violenta – sem odiar o opressor.
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Sulak Sivaraksa é fundador e diretor da ONG tailandesa “Fundação Sathirakoses-Nagapradeepa”. Iniciou também vários movimentos e organizações sociais, humanitários, ecológicos e espirituais na Tailândia. Sivaraksa é conhecido no Ocidente como um dos pais da Rede Internacional de Budistas Engajados (INEB), criada em 1989 com um grupo de budistas relevantes, incluindo o 14º Dalai Lama, Thich Nhat Hanh, Bhikkhu Maha Ghosananda, entre outrios. Sivaraksa foi agraciado com o prémio Right Livelihood em 1995.
Taigen Dan Leighton
O sentido da vida é exatamente a investigação sustentada do sentido da vida. Isso envolve despertar a nossa capacidade onipresente de insight e bondade, e a integridade natural que cada um de nós expressa nas nossas próprias situações particulares. Essa consciência necessita ser expressa na nossa atividade quotidiana, para apoiar e incentivar todos os seres a também expressarem consciência, e espalhar ainda mais o nosso bem-querer, a fim de aliviar o sofrimento e promover o despertar.
Essa atividade requer paciência ativa e responsiva. Quando pacientemente prestamos atenção, podemos empregar os nossos melhores esforços para responder de maneira útil e não prejudicial aos problemas do mundo e das nossas próprias vidas.
A capacidade de responder utilmente não vem dos nossos padrões de reatividade, das nossas histórias habituais e confortáveis sobre nós mesmos e do mundo, mas da comunhão alegre e paciente com o que vai além. Assim a mudança acontece, a bondade é possível.
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Taigen Dan Leighton é professor e sacerdote Budista Soto Zen, académico e autor. É o fundador e professor orientador do Ancient Dragon Zen Gate em Chicago.
Robina Courtin
Há um ditado no budismo que diz que um pássaro precisa de duas asas: sabedoria e compaixão.
Compaixão é o ponto, mas, como diz o Dalai Lama, compaixão não é suficiente; nós precisamos de sabedoria.
O que é a sabedoria?
Esse é o trabalho que fazemos para diminuir o nosso próprio medo, apego, raiva, depressão e tudo o resto. Percebemos que essas vozes debilitantes do ego são o que nos arrastam para baixo, nos retêm, criam barreiras entre nós mesmos e os outros. Com esse trabalho interior – nos tornando o nosso próprio terapeuta, como um monge tibetano coloca -, naturalmente nos tornamos mais contentes, mais confiantes, mais claros.
Nós percebemos que estamos todos no mesmo barco: vemos a mesma dor em todos e queremos ajudar – a desenvolver a asa da compaixão. Mas não apenas queremos ajudar, o grau em que quebramos essas barreiras artificiais é o grau em que conseguimos realmente ajudar.
Sabedoria e compaixão juntos: pelo nosso bem e pelo dos outros.
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Robina Courtin foi ordenada no final da década 70, desde então trabalha com o Lama Thubten Yeshe e na FPMT do Lama Zopa Rinpoche. Ao longo dos anos, atuou como diretora editorial da Wisdom Publications, editora da revista Mandala, diretora executiva do Liberation Prison Project e como professora budista. A sua vida e o trabalho com prisioneiros foram destacados nos documentários Chasing Buddha e Key to Freedom.
Khensur Rinpoche
A maioria de nós cai na armadilha de acreditar, num ponto ou noutro, que acumular riqueza, fama, poder, amizades e até a própria felicidade é o propósito da vida. É claro que essas coisas podem, e geralmente conseguem, trazer alguma satisfação, prazer – e até mesmo “sentido”. Mas, se formos honestos connosco, veremos que, à medida que perseguimos essas coisas, qualquer felicidade que elas proporcionem nunca dura, e de facto, também é em última instância uma fonte de dor.
Como podemos encontrar sentido e satisfação duradoura quando tudo o que buscamos é temporário? Se formos honestos connosco, veremos que não são apenas as coisas às quais nos apegamos que são temporárias, mas também nós somos temporários. No fundo, podemos sentir que, com toda essa incerteza, qual é o sentido?
Na minha tradição, incentivamos a consciência de que poderemos morrer a qualquer momento. Isso nos ajuda a manter a consciência da preciosidade da vida e nos encoraja a reordenar as nossas prioridades – a tornar a nossa vida significativa por meio das nossas ações e compreensão. O Buda ensinou que a vida é insatisfatória. A causa raiz de todo esse sofrimento é o facto de não reconhecermos prontamente a nossa verdadeira natureza. Na minha tradição, chamamos isso da nossa mente de “Buda” – luminosa, altruísta e livre de sofrimento, apego ao eu e desejo. É este estado de espírito que se diz suportar a ocorrência da morte.
Conhecer a nossa verdadeira natureza requer superar a nossa mente comum e ultrapassar o nosso ego. Na nossa vida quotidiana, somos absorvidos e distraídos pelos nossos pensamentos, sentimentos e atividades. É fácil permitir que a nossa ignorância, emoções negativas e ações ocultem a nossa verdadeira natureza, da mesma forma que as nuvens bloqueiam a visão do céu infinito. Todos nós – desde as criaturas mais simples até à complexidade dos seres humanos – temos a mente de Buda. E, graças ao facto de que toda a vida é mutável, podemos mudar os nossos pensamentos e as nossas ações, para nos conectarmos além das mentes comuns e entrarmos num estado mais profundo, de grande sabedoria, amor e compaixão.
A nossa preciosa vida humana é tão frágil quanto uma bolha na superfície de uma piscina. Como usaremos o nosso tempo neste mundo para nos conectarmos com a sabedoria profunda, com o amor e compaixão da mente de Buda?
Para cultivar as sementes de amor e compaixão com as quais nascemos, podemos praticar doações, ética, paciência, esforço, concentração e sabedoria. Como exemplo de tais qualidades, podemos ver o maravilhoso exemplo do amor, generosidade, atenção, esforço, paciência e disciplina de uma mãe para com o seu próprio filho. Ela cuida do bebé com amor e devoção altruísta, adaptando-se e respondendo às necessidades da criança à medida que cresce, amando os seus filhos, independentemente das circunstâncias.
Quando você doa algo ou ajuda alguém, você o faz com a mesma motivação? Você pode amar e não se importar com os resultados? Na minha tradição, acreditamos no renascimento. Então, se pensarmos sobre isso, todos os que conhecemos já foram a nossa mãe numa vida anterior, cuidando de nós de forma desinteressada para que possamos crescer e prosperar. Mesmo se você não acredita na vida após a morte, pode achar que meditar na maternidade é uma prática poderosa.
Um efeito maravilhoso da prática da bondade amorosa é que ela gera um entusiasmo interno que é agradável, é profundamente significativo e permanece na memória dos outros. Não há melhor momento para começar a praticar a bondade amorosa do que agora, nenhuma oportunidade melhor do que com aqueles que nos desafiam. Veja além das condições atuais e semeie a semente da compaixão no solo da nossa preciosa vida humana.
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Khensur Rinpoche Lobzang Tsetan é um monge budista do Ladakh, Índia, e fundador do projeto Siddartha School. Em Junho de 2005 S. S. Dalai Lama o nomeou como abade-chefe do Mosteiro Tashi Lhunpo, no sul da Índia, tendo se aposentado das suas funções em 2018. Khensur Rinpoche viaja pelo mundo levando a mensagem de que “as crianças são as sementes do futuro. Devemos cuidar delas, fornecendo amor e educação para que se transformem em bons seres humanos.”
Tenzin Dasel
Cabe a cada um de nós, pessoalmente, descobrir e criar o sentido da vida.
Desde o início da vida, começamos a formar associações que rapidamente se tornam significativas. Somos, cada um de nós, os criadores do sentido que damos à nossa vida.
A própria vida não assume nenhum sentido particular, mas como seres humanos dotados de consciência, curiosidade e inteligência, registamos e recordamos a nossa própria experiência, compartilhamos e transmitimos muitas histórias coletivas, explicações, religiões, ciências e pontos de vista que parecem transmitir sentido.
A maneira como nós vemos a vida e o nosso lugar nela proporcionará sentido. Se encararmos a vida como uma aventura, uma demonstração surpreendente de virtuosos feitos individuais e coletivos, demonstrações altruístas de liderança, amor e compaixão, cheios de bondade, então o sentido da vida ficará impregnado de admiração, mistério, humildade, alegria, gratidão e otimismo. Por outro lado, se encararmos a vida como uma história trágica, opressiva, injusta, cheia de emoções e guerras que devastaram seres humanos, assim como outras espécies, e ainda o abuso ambiental, então o significado da vida ficará impregnado de desespero, medo, ansiedade, depressão e pessimismo.
Geralmente, o sentido pode ser moldado a partir das nossas experiências muito básicas. No nível individual, o que nos traz felicidade momentânea, o que causa dor, o que traz conforto, o que perturba a paz de espírito, todas são registadas como significativas. Como bebés pré-verbais, todas essas ações e reações estão entrando fortemente na nossa consciência, e a consciência se desenvolve em torno dessas experiências muito básicas. A maneira como uma mãe olha para nós, o seu toque, o som da sua voz, o conforto do seu corpo, a maneira como ela nos mantém, ou a própria falta dessas experiências, todas contêm um sentido em potencial tanto a nível pessoal como interpessoal.
Como a vida, pela sua própria natureza, é profundamente interconectada, da estrutura do DNA às capacidades intelectuais, emocionais, sociais e hábitos culturais, o sentido assume uma rica e ampla variedade de aparências por todo o planeta; mas o sentido, em todo o vasto planeta, vem da única espécie de que atribui significado às suas atividades, comunicações, símbolos e história.
E assim, embora seja universalmente limitado aos pontos de vista de uma única espécie, é o que nos resta. Ainda assim, é como atingir o jackpot cósmico. Estar vivo é cheio de sentido em potencial. O que fazemos com isso depende de cada um de nós.
Eu acredito que cada vida contém a sua própria oportunidade para procurar e encontrar sentido. Interpretar a experiência com base numa pesquisa profundamente pessoal, estudos, experimentos, relacionamentos e percepções, que expandem e proporcionam um conhecimento mais profundo, levam à confiança de que o lugar de alguém no grande esquema da vida é, pela sua própria essência, uma expressão de potencial significativo. A vida, vivida com consciência e uma profunda capacidade de se conectar, cuidar, amar, lamentar, curar, evoluir, aprender, transformar, pode se desdobrar como uma bela sequência de compromissos e interações significativos que nos ajudam a nos desenvolvermos como seres individualmente únicos e nos desdobra ao longo de uma ampla jornada coletiva, universal e transcendental.
Não precisamos necessariamente de conceitos de seres superiores, deuses e deusas, budas e bodhisattvas, grandes líderes e pensadores históricos e altruístas, embora possam certamente servir de inspiração para tornar a vida significativa.
O que precisamos é prestar atenção. Acordar! Perceber o quanto é precioso estar vivo. Estar vivo. Ser parte de algo além dos conceitos, estendendo-se muito além das palavras que são muito limitadas para exprimir. Maravilhar-se, participar com alegria, explorar, desenvolver consciência, aprender, criar, contribuir e atribuir sentido com os nossos próprios termos, com um profundo senso de satisfação e humildade, coragem e compaixão, respeito e responsabilidade.
No meu coração e mente, o sentido da vida é este: utilizá-la sabiamente para o seu maior bem. Reconhecer a preciosa oportunidade, dotada de liberdades e oportunidades, cultivando a consciência que compreende profundamente como viver com virtude, com propósito e intenção. Permanecer consciente de que ter uma vida humana dotada de livre-arbítrio pode levar à liberdade suprema. Livre para desenvolver amor, cuidar com compaixão, criar bondade e reconhecer que a mente tem uma capacidade inata de escolher tornar a vida significativa.
Que despertar e alcançar a Iluminação, a fim de ser um benefício último para si e para toda a vida senciente, é possível. E usar esta vida para viver e amar de forma altruísta, determinado a fazer exatamente isso.
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Tenzin Dasel é a professora líder e instrutora de meditação no seu centro, Tashi Gatsel Ling, em Maine, EUA. Ela colabora com várias escolas dando palestras sobre budismo e orientando sessões de meditação para alunos e professores. É graduada com BA (Bacharel de Artes) pelo prestigiado Bates College, EUA. Recebeu o grau de mestra em artes pelo respeitado Bangor Theological Seminary. Atualmente, atua como assistente de Jetsunma Tenzin Palmo.
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