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Reflexões sobre o Tríplice Refúgio do Budismo

“O Dharma, incomparavelmente profundo e precioso, é raramente encontrado mesmo em centenas de milhares de ciclos universais. Devemos tomar consciência da importância e da maravilha de termos a oportunidade de nos encontrarmos com o Dharma do Buda.”


O texto que se segue é da autoria do Rev. Jean Tetsuji, faz parte da apostila de formação da sua escola. Com a sua permissão o texto é aqui publicado.

Tomar refúgio na Tríplice Jóia do Budismo (Buda, Dharma e Sangha) significa que a pessoa, após uma profunda reflexão sobre a sua condição humana e sobre os sofrimentos a ela inerentes, aceita o Buda Shakyamuni como seu mestre, o Dharma como sua doutrina e o Sangha como sua comunidade religiosa, para trilhar o Caminho da Iluminação.

A declaração pública, perante o ícone sagrado do Buda Amida, simbolicamente presente no altar, perante o clero budista, representado pelos monges, e perante toda a assembléia de fiéis, é uma declaração ao mesmo tempo pública e sagrada e deve vir do mais profundo do coração após uma profunda reflexão e com uma sólida decisão.

A partir desse momento, a pessoa está se comprometendo a buscar orientação nas Três Jóias do Budismo, dentro de um espírito de busca da verdade e para isso deve estar disposta a abandonar as práticas enganosas baseadas no egoísmo e em vantagens pessoais, tais como dinheiro, fama, saúde e etc. Por isso a Tomada de Refúgio no Tríplice Tesouro do Budismo é um compromisso extremamente sério e não apenas algo que se faça da boca para fora, ou com intenções temporárias ou egoístas.

Difícil é obter o nascimento na condição humana e agora estou nela vivendo.

Neste universo ainda quase que totalmente desconhecido para o ser humano, mesmo os cientistas mais renomados ainda não conseguiram encontrar sequer resquício de vida em outros planetas, quanto menos humana. Mesmo em nosso mundo, incontáveis são as formas de vida, desde seres microscópicos, passando por todo tipo de manifestações vegetais e animais. Assim, ao refletirmos sobre o nascimento na condição humana poderemos ter a consciência de que dentre muitas formas de vida conhecidas, esta é extremamente valorosa por termos a consciência de nela estarmos vivendo. Mas, esta vida não existe por si só, dependendo também de muitas condições externas e internas, como o ar que respiramos, a luz do Sol, as plantas, e até outros animais que nos servem de sustento. E mesmo se refletirmos em toda a complexidade da formação do corpo humano, veremos que milhares de anos foram necessários para que essa forma humana de vida pudesse existir em nosso planeta, além do que um número incontável de antepassados vieram transmitindo essa vida até chegar a nós. Podemos ainda pensar em toda a complexidade da vida desde uma pequena célula no ventre de nossa mãe, até chegar a esta forma complexa de uma existência em forma humana. Portanto, tomamos consciência da grandiosidade do fato de que no seio deste vasto universo, nós tivemos a oportunidade de obter o nascimento na condição humana.

Raro é termos a oportunidade de ouvir o Dharma do Buda e agora, a mim é dado conhecê-lo.

Nascer na condição humana por si só já é um fato maravilhoso, mas se estivermos mergulhados na escuridão da ignorância e do sofrimento, penosa será a nossa existência.

O Buda histórico, que nasceu como ser humano, trilhou o caminho do autoconhecimento e acabou por atingir o estado de iluminação, pregando incessantemente a sua doutrina até o final de sua vida. Muitos mestres e discípulos se dedicaram ao longo dos séculos para perpetuar esses ensinamentos. E, agora, nós temos a oportunidade de encontrá-los e ouvi-los. Nos Sutras budistas, há um exemplo sobre o fato de quão raro é encontrarmos o Dharma do Buda: Suponha que na imensidão dos oceanos uma tartaruga esteja vagando sozinha. Na superfície desse oceano há uma tábua com um furo no meio, boiando sem rumo. A possibilidade de, por acidente, no momento em que a tartaruga subir à superfície para respirar, ela enfiar a cabeça exatamente no buraco dessa tábua, pode ser comparada à possibilidade de no seio vasto deste universo nós, nascermos na condição humana e nos encontrarmos com o Dharma do Buda.

Muitas pessoas pensam que isso é simples, pois podem ir até uma livraria e comprar um livro sobre o Budismo, ou ir até um templo e ouvir os ensinamentos diretamente de um monge, mas na verdade, uma quantidade infinita de condições propiciatórias têm que estar presente para que possamos ter essa rara oportunidade, desde o fato de nascermos em época e local apropriados, encontrarmos pessoas que possam nos transmitir esses ensinamentos e mesmo termos os veículos sensoriais capacitados para recebermos esse Dharma.

Se não alcançar nesta mesma vida a total libertação, em que outra vida poderia alcançá-la?

Muitas são as doutrinas que falam em outras vidas, anteriores ou posteriores a esta que estamos vivendo, mas o budista deve tomar consciência de que esta existência é única e é nela que estamos tendo a oportunidade de na condição humana, nos encontrarmos com o Dharma do Buda, que nos conduz à libertação dos sofrimentos e à Iluminação. Não devemos pensar displicentemente em relação à nossa existência. Aqui e agora é o lugar e momento para realizarmos a nossa Iluminação, pois como diz um texto sagrado do Budismo “ninguém pode garantir o dia de hoje e nem o dia de amanhã”. Portanto temos que nos empenhar de todo o coração em seguir os ensinamentos do Buda para que nós também possamos nos libertar aqui e agora.

Portanto, juntamente com todos os seres viventes, busco reverentemente tomar refúgio na Tríplice Jóia do Budismo.

Depois de profunda reflexão, decidimos tomar refúgio na Tríplice Jóia do Budismo, mas esse não deve ser um ato isolado e egoísta, por isso buscamos sempre realizá-lo juntamente com todos os seres viventes, para que eles também possam se beneficiar do Dharma libertador do Buda Iluminado.

Eu tomo refúgio no Buda, o Iluminado!

Que eu possa, juntamente com todos os seres viventes, realizar o Grande Caminho e manifestar a Mente Incomparável.

Tomar refúgio no Buda é aceitá-lo como nosso mestre e como um exemplo para nossas vidas, para que possamos também, juntamente com todos os seres viventes, trilhar o Caminho da Iluminação. Portanto, o refúgio no Buda não é um ato de fé cega em uma divindade, mas sim um ato onde colocamos toda a nossa vida à disposição do trilhar o Grande Caminho, para que uma vez que tenhamos nos libertado dos sofrimentos desse mundo e nos tornado também Budas, possamos orientar as pessoas que vagam pelas escuridões da ignorância.

Eu tomo refúgio no Dharma, a Doutrina que conduz à Iluminação!

Que eu possa, juntamente com todos os seres viventes, mergulhar nas profundezas do Ensinamento e obter a Sabedoria Vasta como o Oceano.

Ao tomarmos refúgio no Dharma, estamos aceitando os ensinamentos do Buda, que são como um mapa, um guia para nós que estamos vagando neste mundo de sofrimento e ignorância.

Esse Dharma do Buda foi expresso em forma de ensinamentos que foram compilados pelos discípulos e escritos, de forma que pudessem ser transmitidos às multidões futuras. O Dharma é a Doutrina que nos leva à Iluminação e esta é vasta como o oceano e assim como todas as águas dos rios que fluem para o mar, nele penetrando se tornam com um só sabor, o sabor da água do mar, nós também, uma vez imersos na grande sabedoria do Dharma, nos tornaremos unos de coração a coração com o Buda e com o Dharma.

Eu tomo refúgio no Samgha, a Comunidade!

Que eu possa, juntamente com todos os seres viventes, viver em harmonia com o espírito de fraternidade, livre da escravidão do egoísmo.

O Samgha é a comunidade não somente dos monges, mas de todos os que buscando de todo o coração trilhar o Caminho da Iluminação, aspiram viver em harmonia com os irmãos de senda, vivendo sempre guiados pela luz da sabedoria do Dharma, se exercitando na superação das amarras do ego para poderem juntos, alcançar a Suprema Iluminação e construir uma sociedade digna e respeitosa, onde todos os seres humanos possam ter a possibilidade de se desenvolver dentro de suas reais possibilidades.

O Dharma, incomparavelmente profundo e precioso, é raramente encontrado mesmo em centenas de milhares de ciclos universais.

Tendo consciência da raridade de nosso nascimento na condição humana, devemos também ter em mente a raridade de podermos encontrar o Dharma do Buda.

A mim, agora, é facultado vê-lo, ouvi-lo e guardá-lo.

Devemos tomar consciência da importância e da maravilha de termos a oportunidade de nos encontrarmos com o Dharma do Buda.

Possa eu, verdadeiramente ser alcançado pelo poder das palavras do Tathágata.

Com estas palavras finais, manifesto meu firme desejo de vivenciar as palavras de Dharma deixadas pelo Buda e transmitidas até os dias de hoje.

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