“Buddhi, em sânscrito, significa o intelecto puro, a mente que está livre da influência condicionada das emoções, de forma que nela não se constroem observações nem deduções tendenciosas ou preconceituosas.” – Y. Rahula Bhikkhu
O que o Buda descobriu?
Trecho do livro Superando a Ilusão do Eu, de Yogavacara Rahula Bhikkhu. Edições Casa do Dharma. 2ª Edição, São Paulo – 2011.
Buddhi, em sânscrito, significa o intelecto puro, a mente que está livre da influência condicionada das emoções, de forma que nela não se constroem observações nem deduções tendenciosas ou preconceituosas. A mente da maioria das pessoas funciona com todo tipo de preconceito e perversão, de maneira que todas as suas percepções e todos os seus pensamentos estão maculados e são condicionados a seguir padrões preestabelecidos. Desse modo, as pessoas nunca apreendem as coisas na sua verdadeira natureza. O poder e o alcance da mente permanecem limitados e confinados.
Buda, o Desperto, foi alguém que libertou sua faculdade intelectual de todas as distorções, levando-a ao maior grau de clareza possível. A partir disso, ele conseguiu desenvolver uma atenção aguçada e um insight penetrante sobre como o corpo e a mente funcionam juntos. Conforme seu insight se tornava mais profundo, ele ia discernindo a razão pela qual existem mente, corpo e todos os fenômenos relacionados a eles. Por meio desse insight perfeito, o Buda observou o ciclo completo de causa e efeito, a lei do kamma (em sânscrito, karma) em relação aos elementos da mente e da matéria e teve a experiência direta de como essa lei funciona.
O Desperto viu que a infelicidade e o sofrimento experimentados pelos seres têm suas raízes na própria mente. Cultivando a consciência e obtendo controle sobre os processos mentais, a pessoa pode alterar, minar e destruir essas causas que provocam o sofrimento, a tristeza e a frustração. Pode cultivar e desenvolver outras causas, tornando-as firmemente estabelecidas na mente, o que lhe permite experimentar o fim gradual de toda tristeza e confusão. Ela vive então num estado de calma e felicidade, livre de toda dúvida, pesar, ansiedade e outros estados que perturbam seu bem-estar.
O Buda disse nas primeiras duas estrofes do Dhammapada:
“Os fenômenos são precedidos pela mente,
Governados pela mente, feitos pela mente.
Se alguém age ou fala com a mente impura,
O sofrimento o segue, como a roda
da carroça segue a pata do boi que a puxa.
Se alguém age ou fala com a mente pura,
A felicidade o segue,
Como sua sombra que nunca o abandona.”
Quais são esses fatores mentais, essas fontes a partir dos quais surgem o sofrimento, a confusão e as aflições da vida? O Buda descobriu que são a ganância e o desejo, a sede insaciável por objetos de satisfação sensual e a tentativa de encontrar a felicidade nas coisas do mundo, que são impermanentes. Num nível mais profundo, isso tudo se deve à falsa noção de um eu ou alma permanente e individual, que experiencia os objetos do mundo como sendo separados e distintos dele.
Na verdade, essa noção de “eu” é apenas uma sensação ilusória e delusória que, em razão da ignorância, se fixa à consciência como um parasita. Essa ideia equivocada de “eu” é a razão de continuarmos desejando e ansiando viver e experimentar os objetos do mundo.
Quando, por meio do insight penetrante, percebe-se a natureza da noção de um eu individual e se compreende plenamente que ela é ilusória, gradualmente se reduz o desejo pelas coisas, o apego a elas, a sede de uma existência egoísta, a ambição de se impor e reduzem-se as ações que resultam desses fatores, até que eles sejam definitivamente eliminados da mente. Como expõe outro verso do Dhammapada:
“Pouco a pouco, uma por uma,
de momento a momento,
um sábio
remove as suas impurezas
como o ferreiro remove
as impurezas da prata.” [1]
Quando a mente está livre dessas fontes e condições das quais brotam tristeza, dor e inquietação, o que sobra é um estado puro de paz, calma e felicidade sustentado pela sabedoria e pela compaixão. Tal mente não se abala ou perturba minimamente, nem se agita ou inquieta com as vicissitudes passageiras da vida.
“Aquele que se voltou para a renúncia,
Se voltou para a mente desapegada,
Enche-se do amor que tudo abarca
E se liberta da ânsia pela vida.
Com a visão mental desobstruída,
Conhecendo a origem dos sentidos,
Sua mente está plenamente liberta.
Quem encontrou a calma no coração
Não mais acumula as ações que praticou,
E nada resta para ele fazer.
Como uma rocha sólida e forte
Não se agita com o vento,
Não mais podem formas visuais, sons,
Aromas, sabores, toques,
Coisas belas e feias
Abalar o iluminado.
Firme é sua mente, sua mente está liberta
Vendo como tudo surge apenas para desaparecer.” [2]
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Notas:
- Dhammapada, verso 239
- Anguttara Anthology, B.P.S. Wheel Series # 208-211, pp. 60-61
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A obra de Buddha | K. Sri Dhammananda
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Veja também:
- O que é o Budismo? Quem foi o Buda?
- A Vida do Buddha – Trechos do filme “Pequeno Buddha”
- A História de Gotama, O Buddha: do nascimento à morte
- Velho Caminho, Nuvens Brancas: Seguindo as pegadas do Buda [Audiobook]
– Olhar Budista > Recursos > Budismo: comece aqui! –
Sobre Yogavacara Rahula, K. Sri Dhammananda | Lista de Mestres e Professores
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