Sociedade e Política

Budismo e Democracia

Dois ensaios sobre budismo e democracia traduzidos e disponibilizados no Olhar Budista:

O Buda e os Princípios Democráticos

O princípio básico de uma forma democrática de governo é a liberdade e a dignidade do indivíduo, é ter igualdade perante a lei. Nenhum ser humano pode ser chamado de livre a menos que seja capaz de seguir a sua vocação sem ser impedido por barreiras de castas, classe ou privilégio especial. Num sentido mais profundo, nenhum ser humano é verdadeiramente livre até que possa, sem medo ou pressão da coerção autoritária, desenvolver as suas potencialidades inatas e se aperfeiçoar moldando o seu próprio Kamma ou destino. Foi o Buda que, pela primeira vez, ensinou e realizou esses valores por meio do seu Dhamma. Isso levou ao florescimento de uma civilização que, até hoje, é uma maravilha na história da humanidade. Continue a ler…

Budismo num Mundo Democrático

O budismo é um modo de vida. Também é uma atitude. Destas duas características decorre a singularidade do budismo no mundo. O que é esse estilo de vida e como ele se integra no mundo moderno?

1. O budismo não é pensável sem a figura imponente do Buda. Vamos considerar isso primeiro e encontrar algumas pistas sobre a adaptabilidade do modo de vida que ele proclamou para o que chamamos de uma visão democrática. Continue a ler…


“Hoje, os valores da democracia, da sociedade aberta, do respeito pelos direitos humanos e da igualdade estão se tornando reconhecidos por todo o mundo como valores universais. Na minha opinião, existe uma conexão íntima entre os valores democráticos e os valores fundamentais da bondade humana. Onde há democracia, há uma maior possibilidade para os cidadãos do país expressarem suas qualidades humanas básicas, e onde essas qualidades humanas básicas prevalecem, há também um espaço maior para o fortalecimento da democracia. O mais importante: a democracia é também a base mais eficaz para garantir a paz mundial. No entanto, a responsabilidade de trabalhar pela paz não cabe apenas aos nossos líderes, mas também a cada um de nós de forma individual. […] A questão dos direitos humanos é tão fundamentalmente importante que não deve haver diferenças de opiniões sobre ela. Todos nós temos necessidades e preocupações humanas comuns. Todos nós buscamos a felicidade e tentamos evitar o sofrimento, independentemente de nossa raça, religião, sexo ou status social.” – Dalai Lama, 2008, in “Direitos Humanos, Democracia e Liberdade”*

“Todos sabemos que a construção de uma sociedade justa, democrática e civil não depende apenas daquilo que fazemos, mas acima de tudo, daquilo que somos. Temos que ser a própria mudança antes que possamos fazer mudanças em nossa sociedade. Estar em paz é a base para gerar paz. Sem transformação e cura pessoais não seremos suficientemente calmos e compassivos e nossos esforços não ajudarão a mudar a nossa sociedade. Assim, a nossa prática pessoal e a prática da nossa comunidade são essenciais para a mudança que queremos ver no mundo.” – Thich Nhat Hanh


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2 comments

  1. Gostei muito do artigo sobre o budismo num mundo democratico! Data de 1960?
    Eh pena nao haver maior difusao destes belos principios e da util pratica na Tailandia.
    Porque se recusa o budismo a contribuir para a politica?

    1. Sim, os dois artigos são bem antigos, por isso ainda que sejam pertinentes convém que sejam lidos tendo em conta as circunstâncias diferentes da época. Por exemplo esses artigos foram publicados originalmente pela Buddhist Publication Society, uma prestigiada editora budista sediada no Sri Lanka. Algumas décadas antes da publicação desses artigos, o Sri Lanka estava colonizado e instituições católicas tentavam converter quase que à força o povo ao cristianismo. O budismo tentou sobreviver por meio do debate e por isso é muito comum os mestres dessa época, às vezes até de forma bem contundente, tentarem mostrar a superioridade do budismo em relação a vários valores que lhes tentavam impor.

      Eu não sei se o budismo se recusa a contribuir assim tanto para a política. Em Myanmar por exemplo muitos monges estão na linha da frente da “luta” pela democracia. Não conheço em profundidade a situação política da Tailândia, mas há criticas por alguns monásticos se envolveram em demasia com a política, também no Sri Lanka isso acontece e não é bom. O foco da Sangha monástica deve ser primordialmente a prática budista, demasiado envolvimento com a politica pode ser, e geralmente é problemático. Os budistas leigos sim, devem ter uma participação política. Alguns desses países sofrem de problemas políticos complexos e a própria cultura local (que não tem haver com o budismo) também exerce influência nas mentalidades e na sociedade. Mas eu não tenho grande conhecimento sobre esses aspetos.

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