“O termo “arte do dharma” não significa arte retratando símbolos e ideias budistas, como a roda da vida ou a história do Buda. De facto, arte do dharma refere-se à arte que surge de certo estado mental da parte do artista que poderia ser chamado de estado meditativo.” / “Na arte meditativa, o artista incorpora tanto o espectador como o criador do trabalho. A visão não é separada da operação, e não há medo de ser desajeitado ou de falhar em atingir a aspiração.”
– Chogyan Trungpa
“Certa vez li um livro escrito por um rico cavalheiro americano no século 19. Ele costumava ir à Europa e se encontrar com todos os grandes artistas e músicos da época e perguntou a eles: Qual é o seu estado quando você está compondo ou pintando o trabalho que é considerado por outros como o trabalho de um gênio? O interessante é que a maioria deles, à sua maneira, disse que esses trabalhos foram feitos quando eles abandonaram o ego. Se pudermos nos soltar e relaxar, então de dentro de nós vem toda essa outra fonte de criação, que está além do ego. E eles não precisam dirigi-lo; só vem de dentro. E depois, as pessoas olham para isso e dizem ‘oh, isso é brilhante’. Mas não eram eles que o faziam; era algo além do eu, além do ego, e isso é criação genuína.”
– Jetsunma Tenzin Palmo
Fotografia Miksang
Miksang é uma palavra tibetana que significa “bom olho”. O termo representa uma forma de fotografia contemplativa baseada nos ensinamentos da Arte do Dharma de Chögyam Trungpa, na qual o olho está em sincronia com a mente contemplativa. Esse termo foi cunhado por estudantes de Chögyam Trungpa, nomeadamente Michael Wood.
As imagens Miksang tendem a trazer o observador de volta ao estado de contemplação original do autor da imagem. As imagens podem trazer de volta uma percepção mais pura da realidade que muitas vezes é negligenciada. Miksang não envolve nada extravagante, nenhuma configuração especial; apenas uma captura visual da realidade, com o estado de espírito adequado. Miksang é “meditação em acção” ou “meditar com o olhar”.
A captura fotográfica deve ser feita com plena atenção, para nos podemos conectar profundamente e intimamente com o que vemos; devemos sentir o momento e o local com todos os sentidos. Isso requer quietude da mente, paciência e o desejo de realmente ver o que está lá, para que possamos entender como expressar o que estamos vendo com a nossa câmara de forma simples e precisa. Miksang é a fotografia na qual usamos a câmara para expressar as nossas percepções visuais exatamente como as experimentamos. A imagem resultante é uma expressão exata do nosso olho, mente e coração, ao se conectar com a percepção.
Todos nós temos um “olho bom” como parte de nossa constituição humana. Isso significa que temos a capacidade de ver o mundo de maneira pura, sem sobreposições de significado e valor, prazer, antipatia ou desinteresse. Quando podemos ver com o nosso “olho bom”, o mundo está sempre fresco, porque tudo o que vemos é como se fosse pela primeira vez. Não há memória, nem associação, apenas o mundo se manifestando para nós, como é, do nada. Essas percepções são vibrantes e vívidas, pulsando com vida. O mundo visual é a nossa festa, o nosso “playground”. Ser contemplativo não significa ser sério ou sombrio. Na verdade, a maioria das pessoas experimenta a fotografia contemplativa como uma experiência alegre e divertida. Ver assim traz alegria por estarmos vivos.
A fotografia contemplativa nos oferece um método para passarmos mais tempo em testemunho directo e sem julgamento do mundo. Ela é uma disciplina que nos treina a permitir que as coisas sejam como realmente são, o que pode ser um treino incrivelmente útil para a vida no geral.
Através das imagens capturadas o fotografo pode expressar a sua de experiência de ver. As fotografias levarão dentro delas o coração, a mente, e o sangue da experiência do fotógrafo.
Na fotografia contemplativa qualquer coisa pode ser um assunto fotográfico adequado. Não requer viajar para locais exóticos. Pode-se começar na própria cozinha, quintal ou rua da cidade, há uma fonte incrivelmente rica de material fotográfico ao nosso redor. Ter algumas noções de técnica fotográfica pode ser útil para conseguir comunicar o que se pretende, mas mais importante que a técnica e o equipamento (até um telemóvel já é suficiente), é o estado de espírito.
Saiba mais sobre Miksang em:
- What is Contemplative Photography (Miksang) & How to Try It (Kimberly Poppe)
- Fotografia miksang: a meditação em ação (Obvious)
- Miksang, a Fotografia Contemplativa (FCSV)
- Miksang Contemplative Photography | True Perception True Expression (Miksang)
Fotografia Zen
Ao contrário da fotografia Miksang, não existe propriamente uma espécie de “definição ou conceito oficial”. Geralmente pode-se entender como fotografia Zen o tipo de fotografia feita a partir do estado contemplativo e inspirada em conceitos relacionados com o Zen, que serviram por exemplo de base para a estética e arte japonesa. Muitas vezes a fotografia Zen está associada ao preto e branco, mas esse não é propriamente um “requisito”, mesmo as fotografias coloridas podem ser inspiradas nos conceitos estéticos surgidos a partir do Zen.
Para conhecer um pouco mais esses conceitos consulte os artigos no Olhar Budista:
- A influência do Zen na arte, estética e cultura japonesa
- [Vídeo] Wabi-Sabi
- Sumi-e: o Zen na arte de pintar
- Enso, o Círculo Zen
- Jardim Zen, um local tranquilo e que favorece a contemplação
- Ikebana: a arte contemplativa de arranjos florais
Nos seguintes artigos (links externos) em inglês, poderá consultar algumas informações e dicas sobre a Fotografia Zen e Contemplativa:
- Zen Photography (Eric Kim)
- Zen Photography: The Art of Mindful Photography (photzy)
Imagens fotográficas
Exemplos de fotografias baseadas nos conceitos referidos acima.
(Clique nas fotografias para entrar no Flickr do autor)
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