Palavras de Buda sobre a Fala Correta
ABHAYA SUTTA
Excerto do Discurso do Buda para o Príncipe Abhaya:
No caso de palavras que o Tathagata (Budha) sabe que não correspondem aos fatos, não são verdadeiras, não são benéficas e que também são antipáticas e desagradáveis para outras pessoas: essas palavras, ele não as diz.
No caso de palavras que o Tathagata sabe que correspondem aos fatos, são verdadeiras, não são benéficas e que também são antipáticas e desagradáveis para outras pessoas: essas palavras, ele não as diz.
No caso de palavras que o Tathagata sabe que correspondem aos fatos, são verdadeiras, são benéficas, porém são antipáticas e desagradáveis para outras pessoas: o Tathagata tem a noção do momento mais apropriado para dizê-las.
No caso de palavras que o Tathagata sabe que não correspondem aos fatos, não são verdadeiras, não são benéficas, porém são simpáticas e agradáveis para outras pessoas: essas palavras ele não as diz.
No caso de palavras que o Tathagata sabe que correspondem aos fatos, são verdadeiras, não são benéficas, porém são simpáticas e agradáveis para outras pessoas: essas palavras ele não as diz.
No caso de palavras que o Tathagata sabe que correspondem aos fatos, são verdadeiras e benéficas e que também são simpáticas e agradáveis para outras pessoas: o Tathagata tem a noção do momento mais apropriado para dizê-las.
Por que isso? Porque o Tathagata tem compaixão pelos seres vivos.
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Neste discurso, o Buda mostra os fatores que decidem o que deve ser dito e o que não deve ser dito. Os principais fatores são três: se uma afirmação é verdadeira ou não, se é benéfica ou não e, se é agradável para os outros ou não. O próprio Buda afirmaria somente aquelas coisas que são verdadeiras e benéficas, e tinha uma noção do momento em que coisas agradáveis e desagradáveis deviam ser ditas. Observe que a possibilidade que uma afirmação sendo falsa possa no entanto ser benéfica não é considerada.
(… ) Este discurso não é somente sobre linguagem correta mas também mostra a linguagem correta sendo empregada.
~ Introdução ao Abhaya Sutta (por Thanissaro Bhikkhu)
*
Bhikkhus, um enunciado dotado com estes cinco elementos é bem falado, não é mal falado. Não será passível de crítica e censura pelos sábios. Quais cinco?
É falado no momento apropriado. Contém a verdade. Falado com afeição. Falado para trazer benefício. Falado com a mente plena com amor bondade.
Um enunciado dotado com estes cinco elementos é bem-falado, não é malfalado. Não será passível de crítica e censura pelos sábios.
~ Buddha
Vaca Sutta: Um Enunciado
*
Aqueles que conversam
quando enraivecidos, dogmáticos, arrogantes,
seguindo aquilo que não é o modo nobre,
buscando expor os defeitos dos outros,
deliciando-se com
a fala incorreta,
deslizes, tropeções, derrotas, dos outros.
Os nobres
não falam assim.
Se os nobres, sabendo o momento apropriado, querem falar,
então, palavras conectadas com o justo,
de acordo com o modo dos nobres:
isso é o que os iluminados dizem,
sem raiva ou arrogância,
com a mente sem agitação,
sem veemência, sem maldade,
sem inveja,
eles falam com base no entendimento correto.
Eles se deliciam com aquilo que é bem dito
e não depreciam aquilo que não é.
Eles não estudam para encontrar defeitos,
não se agarram aos pequenos erros.
Não humilham, não ofendem,
não dizem palavras à toa.
Tendo como objetivo o conhecimento,
tendo como objetivo inspirar confiança,
conselhos que são verdadeiros:
assim os nobres aconselham,
esse é o conselho dos nobres.
Sabendo disso, o nobre
deve aconselhar sem arrogância.
~ Buddha
Kathavatthu Sutta:
Tópicos para Conversação
As Três Peneiras de Sócrates
Verdade, Bondade e Necessidade
Um homem, procurou um sábio e disse-lhe:
— Preciso contar-lhe algo sobre alguém! Você não imagina o que me contaram a respeito de…
Nem chegou a terminar a frase, quando Sócrates ergueu os olhos do livro que lia e perguntou:
— Espere um pouco. O que vai me contar já passou pelo crivo das três peneiras?
— Peneiras? Que peneiras?
— Sim. A primeira é a da Verdade.
Você tem certeza de que o que vai me contar é absolutamente verdadeiro?
— Não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram!
— Então suas palavras já vazaram a primeira peneira.
Vamos então para a segunda peneira: a Bondade.
O que vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?
— Não! Absolutamente, não!
— Então suas palavras vazaram, também, a segunda peneira.
Vamos agora para a terceira peneira: a Necessidade.
Você acha mesmo necessário contar-me esse fato, ou mesmo passá-lo adiante? Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Melhora alguma coisa?
— Não… Passando pelo crivo das três peneiras, compreendi que nada me resta do que iria contar. E o sábio sorrindo concluiu:
— Se passar pelas três peneiras, conte! Tanto eu, quanto você e os outros iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos. Devemos ser sempre a estação terminal de qualquer comentário infeliz!
Da próxima vez que ouvir algo, antes de ceder ao impulso de passá-lo adiante, submeta-o ao crivo das três peneiras porque:
Pessoas sábias falam sobre ideias;
Pessoas comuns falam sobre coisas;
Pessoas medíocres falam sobre pessoas.
O diálogo acima é atribuído a Sócrates, desconheço se a atribuição é correta e tem embasamento histórico ou se é uma falsa atribuição. Existe uma grande semelhança entre essas palavras e as de Buda. Se foi realmente Sócrates que as proferiu (o que acho bem duvidoso) parece-me que podemos inferir que muito provavelmente em algum momento Sócrates teve contacto com a sabedoria do Buda. Claro que ele poderia muito bem ter dito o que disse sem ter tido qualquer tipo de contacto com o Budismo, mas devido às grandes semelhanças talvez possa ser uma possibilidade.
Veja também:
- Martin Heidegger conversa com um Monge Budista sobre Tecnologia e Filosofia
- [Vídeo] Ser ou não ser, Schopenhauer e Budismo
- Você sabe com quem está falando?
- O Nobre Caminho Óctuplo
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