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Como desenvolver o olhar de Buda?

Um dos propósitos desde site é que nos inspire a desenvolver o nosso olhar budista, ou seja, a colocar os olhos de Buda, a ver e a agir no mundo como um Buda, ou o mais próximo disso. A forma como olhamos as coisas determina o que vemos, e o que, e como vemos determina o como nos comportamos.

Nós não somos perfeitos, não somos Budas, e talvez estejamos muito longe de o ser (eu estou muito muito longe). Mas o caminho budista é para nos irmos aproximando progressivamente, uns mais lentamente, outros mais rapidamente, até que consigamos alcançar, nesta ou noutra vida, o estado de Buda. Então, o que podemos implementar para desenvolvermos o nosso olhar budista? Seguem-se algumas dicas:

  1. Compreender as 4 Nobres Verdades e seguir o Nobre Caminho Óctuplo que é composto por:
    1. Sabedoria (pañña)
      • Entendimento Correto (samma ditthi)
      • Aspiração Correta [ou motivação/pensamento/intenção correta] (samma sankappa)
    2. Moralidade [ética, virtude ou conduta] (sila)
      • Linguagem Correta (samma vaca)
      • Ação Correta (samma kammanta)
      • Meio de Vida Correto (samma ajiva)
    3. Concentração [meditação] (samadhi)
      • Esforço Correto (samma vayama)
      • Atenção Plena Correta (samma sati)
      • Concentração Correta (samma samadhi)
  2. Ver o mundo sob a perspetiva das 3 marcas da existência (faz parte do entendimento correto):
    1. Impermanência (Anicca): Todos os fenómenos compostos são impermanentes, não há nada que dure para sempre, tudo muda;
    2. Insatisfatoriedade (Dukkha): A vida é cíclica, cheia de altos e baixos. O apego aos fenómenos impermanentes vai-nos trazer insatisfação. Dukkha representa todo o tipo de sofrimentos. Como todos os fenómenos são impermanentes, podemos verificar que tudo tem Dukkha ou potencial para Dukkha.
    3. Insubstancialidade ou não-eu (Anatta): Não existe dentro de nós um elemento isolando, sólido, independente, eterno. Nós somos interdependentes e interconectados, existimos na dependência de outros fenómenos. Todos os fenómenos são Anatta.
  3. Compreender os 3 venenos mentais e perceber como agimos com base neles:
    1. Ignorância;
    2. Ganância [ou apego, desejo, mente aquisitiva];
    3. Ira [ou raiva, aversão, má vontade].
  4. Compreender o Karma. Ações (karma) têm consequências (vipaka).
  5. Entender o conceito do Samsara (existência cíclica).
  6. Estar ciente do que se está a fazer a cada momento com as Palavras, Corpo e Mente. Refletir e ter em mente questões como estas:
    1. O que eu estou a fazer agora?
    2. Porque estou a fazer?
    3. O que estou a sentir?
    4. É útil ou inútil o que estou a fazer?
    5. É benéfico ou nocivo o que estou a fazer?
    6. Causa harmonia ou desarmonia?
    7. Como o Buda agiria nesta situação?
    8. O Buda faria o que eu estou a fazer?
    9. O que o Buda faria de diferente?
    10. O que posso aprender com esta situação?
  7. Tentar ver as coisas tal como são, sem projeções e “filtros”, evitando a distorção percetiva e o viés cognitivo. Ver além das bolhas de realidade, ter uma visão mais ampla e compreender os diferentes contextos.
  8. Refletir sobre as 8 preocupações mundanas:
    1. Querer ganhar;
    2. Não querer perder;
    3. Querer ser reconhecido;
    4. Não querer ser ignorado;
    5. Querer ser elogiado;
    6. Não querer ser criticado;
    7. Querer prazer;
    8. Não querer dor.
  9. Desenvolver as paramitas (qualidades):
    1. Dāna: Generosidade, doação;
    2. Sīla: Virtude, moralidade, conduta apropriada;
    3. Nekkhamma: Capacidade de renúncia, desapego;
    4. Paññā: Sabedoria transcendente;
    5. Viriya: Energia, diligência, vigor, esforço, coragem;
    6. khanti: Resiliência, paciência, tolerância, aceitação, resistência, autodomínio;
    7. Sacca: Veracidade, honestidade;
    8. Addhitthāna: Determinação, resolução;
    9. Mettā: Bondade amorosa;
    10. Upekkhā: Equanimidade, serenidade.
  10. Desenvolver as 4 qualidades incomensuráveis:
    1. Metta: Bondade amorosa;
    2. Karuna: Compaixão;
    3. Mudita: Alegria empática;
    4. Upekkha: Equanimidade.
  11. Desenvolver os 7 fatores do despertar:
    1. Sati: Atenção Plena;
    2. Dhamma vicaya: Investigação dos fenómenos;
    3. Viriya: Energia, Esforço, perseverança, diligência;
    4. Pīti: Entusiasmo, prazer, alegria;
    5. Passaddhi: Serenidade, tranquilidade;
    6. Samādhi: Concentração;
    7. Upekkha: Equanimidade.
  12. Compreender as 5 sabedorias da tradição budista Vajrayana:
    1. Sabedoria do Espelho;
    2. Sabedoria da Igualdade;
    3. Sabedoria Discriminativa;
    4. Sabedoria da Causalidade;
    5. Sabedoria de Darmata.
  13. Tentar ver além da dualidade.
  14. Ver todos os seres com o potencial de se tornarem Budas.
  15. Aprender a agir conscientemente em vez de reagir impulsivamente a situações provocatórias.
  16. Ter sabedoria para saber em que momento é apropriado usar ou não determinada qualidade.
  17. Observar o Dharma no dia a dia, em cada situação da vida podemos olhar de um ponto de vista budista e retirar ensinamentos, podemos levar este olhar para tudo o que fazemos.
  18. Identificar e reconhecer o lado menos bom que temos e trabalhar para melhorar progressivamente.
  19. Fazer Prática Formal (i.e. meditação, prática devocional, estudo do budismo, etc) e Praticar no Dia a Dia (i.e. comportamentos, atitudes, formas de interagir, ética, etc).
  20. Praticar o budismo numa escola autêntica.

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“Percebi que muitos iniciantes têm muita fé no Dharma. Praticam com entusiasmo, mas as suas emoções aumentam depois de alguns anos, porque não estão realmente a integrar os ensinamentos nas suas vidas – os ensinamentos que são apresentados com um único propósito, nomeadamente, para domar e transformar a própria mente. Mesmo os praticantes de longa data e aqueles que completaram um retiro ainda se apegam à auto-importância. É preciso domar e treinar a própria mente. Se um praticante tiver domesticado a sua mente, ele terá alcançado o objetivo dos ensinamentos que o Senhor Buda apresentou. Os melhores sinais de uma prática bem-sucedida são diligência, calma mental e disposição pacífica. Aprendemos que as qualidades que surgem ao ouvir e contemplar os ensinamentos são estabilidade mental e atenção plena em todas as situações; a qualidade que surge da meditação nos ensinamentos é a liberdade de emoções perturbadoras. Se um indivíduo não alcançar a paz e a calma, o conhecimento do Dharma que ele conquistou será superficial.”
– Jamgon Kongtrul Rinpoche III

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