Jet Li, cujo nome verdadeiro é Li Lianjie, é um ícone global das artes marciais e do cinema de ação. Nascido em 1963 em Pequim, na China, ele não apenas conquistou o mundo com as suas habilidades excepcionais em kung fu (wushu), mas também se destacou como ator, produtor e filantropo. Além da sua carreira no entretenimento, Li tem uma profunda ligação com o budismo, que desempenha um papel fundamental na sua vida e trabalho.
Início de carreira e fama
Desde cedo que Li demonstrou um talento extraordinário para o wushu. Ele começou a treinar aos 8 anos de idade e rapidamente se tornou um campeão nacional, ganhando inúmeras medalhas de ouro em competições. A sua habilidade e graça nas artes marciais o levaram a ser descoberto pela indústria cinematográfica chinesa.
Li estreou-se no cinema como protagonista no filme “Shaolin Temple”, de 1982, no qual se tornou um enorme sucesso na China e o lançou como uma estrela de filmes de ação. Ele continuou a ser o ator principal de uma série de filmes de kung fu populares nas décadas de 1980 e 1990.
Em 1998 Jet Li fez a sua estreia internacional no filme “Lethal Weapon 4”, interpretando pela primeira vez um vilão. O seu sucesso em Hollywood continuou em obras cinematográficas subsequentes. Ele é considerado ao lado de Jackie Chan um dos atores asiáticos mais bem-sucedidos de Hollywood.
A sua ligação com o budismo
Jet Li é um estudante do budismo tibetano desde 1997, tendo estudado com mestres como Yongey Mingyur Rinpoche, Dzongsar Khyentse Rinpoche, Lho Kunzang Rinpoche e Khenpo Tsultrim Lodro.
Ele se tornou um budista tão sincero que chegou a planear parar de atuar e a dedicar todo o seu tempo à prática do budismo. O mestre vajrayana Palme Khyentze Rinpoche no entanto o aconselhou a continuar com a sua carreira.
Numa sessão de dialogo com o mestre chan Sheng Yen, em 2003 na cidade de Taipé, Jet Li disse que a sabedoria budista o ajudou a quebrar os laços da fama e da riqueza. Após vários anos de prática ele começou a sentir-se mais capaz para enfrentar os falhanços no seu trabalho e para lidar com a impermanência da vida com alegria. O Venerável Sheng Yen concorda ao apontar que praticar o budismo não significa que devemos evitar a fama e a riqueza completamente; é importante que estejamos contentes com o que temos. Devemos aprender a fazer bom uso da riqueza e da fama, e ao mesmo tempo, aprender a não sermos controlados ou afetados por elas.
Jet Li começou a pratica de artes márcias desde criança, mas, gradualmente foi percebendo que, embora as artes marciais pudessem fortalecer alguém fisicamente, não o poderiam fazer mentalmente. Elas não podem fazer nada para ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas. Embora ele tenha recebido o prémio do melhore e mais completo artista marcial numa idade muito jovem, ele percebeu que não era “completo”. Li começou a refletir sobre si mesmo, reuniu força no budismo e ganhou sabedoria para romper o vínculo da fama que o prendeu por muitos anos, até finalmente encontrar paz interior.
Com base na sua experiência pessoal ele diz que: “O grande problema com os seres humanos é que culpamos tudo e todos pelos nossos problemas, mas nunca refletimos sobre nós mesmos.” Ele enfatizou que os nossos maiores inimigos somos nós mesmos. Através do budismo, podemos ganhar sabedoria e ver os nossos valores mais claramente. Podemos aprender a ver as necessidades materiais, fama e riqueza de diferentes pontos de vista.
O Venerável Sheng Yen concorda que a felicidade não vem da fama, riqueza ou poder; vem de saber como ficar contente. O contentamento geralmente é capaz de trazer felicidade. Também é importante que aproveitemos o momento e vivamos o momento. E se enfrentarmos obstáculos, temos que aprender a “enfrentá-los, aceitá-los, resolvê-los e deixá-los para trás”.
Sheng Yen elogiou Jet Li por ser um exemplo real de um budista praticante. Devido a ser bem conhecido poderia introduzir o budismo a uma multidão ainda maior. Essa é uma forma de cultivo e uma forma de espalhar o budismo também. O Venerável Sheng Yen enfatizou ainda que o cultivo não significa exclusivamente a pessoa se tornar monge ou monja, ou apenas fazer meditação, e que é difícil eliminar os nossos próprios problemas por meio do cultivo, e ainda mais difícil é praticar o caminho do Bodhisattva neste mundo humano. “Neste mundo de desejos e tentações, devemos ter a certeza de que podemos mudar o ambiente em vez de o ambiente nos mudar”, afirmou Sheng Yen.
Jet Li confessou que a fama lhe trouxe muito stress por estar no topo, mas reuniu a sabedoria e força do budismo para ser capaz de enfrentar tanto o sucesso como o fracasso com uma mente calma. Agora aproveita cada momento ao máximo independentemente do resultado.
Numa entrevista para a Kung Fu Magazine , Jet Li falou em detalhes sobre a sua “filosofia por trás da ação”. Ele enfatizou que os jovens precisam ser ensinados por meio da experiência, permitindo que decidam entre o certo e o errado. Além disso, ele fala sobre raiva e amor. Quando estamos com raiva de alguém, a nossa primeira reação pode ser ferir a pessoa fisicamente… o que traz à tona a “energia ruim”. Ele se concentra em provocar uma mudança para mostrar-lhes o “certo” das coisas.
No site Tergar Internacional, um organização do Mingyur Rinpoche, diz que Jet Li “personifica a harmonia da mente e do corpo”, que Li defende essa abordagem holística que enfatiza a unidade da mente e do corpo. Ele destaca a importância da meditação como uma prática que pode ser integrada na vida quotidiana, mesmo em meio às atividades diárias. “Aonde quer que eu vá, ainda tenho tempo para meditar. As pessoas acham que meditar é ficar sentado, sem ninguém te incomodando, mas você pode até conversar e ainda meditar”, afirmou Jet Li.
Em 2024, Jet Li realizou uma peregrinação espiritual a Lhasa, no Tibete, acompanhado das suas filhas, Jane e Jada. Durante a visita exploraram o Palácio de Potala, que é Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1994 e conhecido como o palácio mais alto do mundo e lar de gerações de Dalai Lamas.
O budismo desempenha um papel significativo na sua vida. “Passo mais tempo aprendendo sobre budismo do que inglês, e é por isso que o meu inglês hoje ainda é ruim”, confessou.
Filantropia
Além de sua prolífica carreira de ator, Li fundou a “One Foundation” em 2007. O terramoto e tsunami do Oceano Índico em 2004, foi uma fonte de inspiração para iniciar a fundação. Na época, Li, a sua esposa e as duas filhas mais novas estavam de férias nas Maldivas, quando um tsunami atingiu as ilhas. A sua filha de 1 ano e a sua ama foram brevemente levadas pela corrente até serem resgatadas.
A fundação numa primeira fase foi iniciada em parceria com a Cruz Vermelha da China, pois Jet Li era embaixador dessa mesma organização. Em 2010 a One Foundation torna-se totalmente independente. A fundação atua na assistência em desastres, bem-estar infantil, treino de profissionais de bem-estar público e financiamento de instituições de caridade. O seu lema é: “Caridade para todos, fazendo o que posso”. A fundação reflete valores budistas de compaixão e serviço aos outros.
Mais do que uma estrela cinematográfica
Jet Li é mais do que apenas uma estrela cinematográfica. Ele é um artista marcial talentoso, um ator carismático e um filantropo dedicado. A sua profunda ligação com o budismo o torna num exemplo de como é possível conciliar a carreira profissional e a fama com a jornada espiritual. É um exemplo inspirador do comprometimento em fazer a diferença no mundo e de como a busca pelo equilíbrio entre o corpo e a mente pode levar a uma vida mais significativa e plena.
Referências: Buddhistdoor I, II, Tergar, Dharma Drum Mountain, Vnexpress, Wikipédia.
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