Ação no Mundo Ambiente e Natureza

Dharma em ação: enfrentando a crise das alterações climáticas

Agora que o impacto das alterações climáticas se começa a fazer sentir, finalmente as pessoas começam a acordar para esta nova realidade e a perceberam que algo precisa ser feito. Mas não são apenas “os outros”, como os políticos, que precisam de agir. Todos nós precisamos de rever os nosso hábitos de consumo, algo que os budistas há décadas vêm alertando. Compreender a interdependência e as consequências das nossas ações faz parte do caminho budista.


Tradução do artigo original de Anam Thubten Rinpoche, publicado a 07/08/2019 no site Buddhistdoor.

O mundo está lentamente acordando para o facto de que as alterações climáticas não são uma farsa nem uma teoria da conspiração. Este é um passo importante para tomar medidas para lidar com essa calamidade sem precedentes. Com o derretimento dos campos de gelo, a seca, os incêndios florestais e a extinção de espécies, a natureza está diante dos nossos olhos a nos mostrar que a Terra está com grandes problemas. Mais e mais pessoas estão percebendo que o perigo é real e está nos atingindo com força. É difícil acreditar que ainda precisamos argumentar com alguns segmentos da sociedade que esse é um problema criado pelo homem.

Existem algumas razões pelas quais algumas pessoas continuam negando as alterações climáticas: por pura ignorância, algumas acreditam francamente que isso não está acontecendo ou que não é um subproduto da ação humana; outros simplesmente o negam porque esse cataclismo inimaginável é grande demais para ser aceite, portanto é mais fácil não prestar atenção nele. Há também um motivo oculto para essa negação: não querer mudar o nosso estilo de vida ou renunciar aos muitos confortos modernos aos quais somos viciados. Grandes empresas e indivíduos que estão acumulando fortunas com práticas prejudiciais ao meio ambiente geralmente se envolvem em atividades como tentar promover a pseudociência e empoderar políticos que obstruem políticas progressivas relacionadas ao clima.

A negação das alterações climáticas não é apenas uma única visão; é uma mentalidade que geralmente tende a negar outras questões importantes, como direitos humanos, liberdade, justiça, igualdade de género e igualdade racial. O movimento ambiental é um grande desafio para os muitos que se beneficiam do poder tradicional e das estruturas económicas. É por isso que ainda é pouco enfatizado e não é suficientemente abordado em instituições políticas e religiosas. Existe uma grande resistência inconsciente para acolher plenamente esse movimento. Nossa velha consciência sabe que precisaria abandonar muito quando o movimento fosse adotado. Uma analogia conspícua para esse tipo de resistência é a Guerra Civil Americana, quando o Sul entrou em guerra com o Norte em 1861–5. Os sulistas, cuja economia foi fundada na prática da escravidão, não queriam abolir a propriedade dos seres humanos e preferiam ir à guerra para manter o sistema que os favorecia. Pode parecer uma comparação extrema, mas, do ponto de vista psicológico é uma verdade simples. Mas a resistência à mudança nem sempre precisa ser vocal; permanecer em silêncio é uma maneira educada de impedir que as mudanças aconteçam.

O movimento ambiental não é unidimensional; envolve naturalmente outras questões essenciais, incluindo as mencionadas acima. Isso ocorre porque o próprio impulso que deu origem ao movimento é uma aspiração pelo bem-estar de toda a humanidade, bem como dos animais e do meio ambiente. É um desejo benevolente de criar um mundo mais saudável e feliz, no qual nós e os nossos filhos possamos aproveitar a vida. Participar desse movimento, portanto, nos motiva a conscientizar sobre outras questões sociais e políticas. O mundo precisa muito de um despertar coletivo para essa nobre aspiração. É hora de todos nós invocarmos a bodhicitta, o coração desperto que aspira beneficiar todos os seres, e não apenas senti-lo, mas expressá-lo através de ações altruístas que realmente ajudam este mundo. Um dos truques geniais que Mara usa para nós é sentirmo-nos santos com o altruísmo, mas não fazer nada que exija ação.

Existem muitas ações que podem ser tomadas para ajudar a salvar este planeta e o número cada vez menor de espécies existentes, inclusive nós mesmos; por exemplo, votar e mudar o nosso consumo e hábitos alimentares. Um mérito de estar no mundo livre é o direito de votar em líderes que criarão novas políticas, leis e regulamentos que garantirão a sustentabilidade. É importante entender as visões dos candidatos políticos e votar, se temos esse direito. Mudar o nosso modo de vida, como não usar combustíveis fósseis e plásticos e não comer certos produtos alimentares, pode ter um efeito positivo cumulativo. Mas todos esses atos exigem esforço e podem exigir que deixemos as nossas respectivas zonas de conforto, o que nem sempre é uma coisa fácil de fazer. Todas essas ações podem ser consideradas como o caminho do bodhisattva, desde que sejam provenientes da motivação correta.

Às vezes, precisamos de um modelo moral que nos inspire a estar no nosso melhor. O bodhisattva é talvez o melhor exemplo que todos podemos nos esforçar para ser. Um bodhisattva é alguém cujo impulso mais nobre é despertado e trabalha desinteressadamente em benefício de todos, enquanto enfrenta todas as tribulações. Toda a gente tem o potencial de ser um bodhisattva sem precisar de ser uma luz de liderança. O mundo está esperando que cada um de nós saia das zonas de conforto e empreenda uma jornada heróica para juntos salvar-mos este belo mundo.


Sugestão de leitura (link externo – ENG):

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3 comments

    1. As alterações climáticas até podiam ser uma farsa e o clima não ser um problema, que o movimento ambiental continuaria a ser válido. Ar poluído, rios e solos poluídos prejudicam os humanos e outros seres vivos; os recursos do planeta não são ilimitados; etc.

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