Filmes e Séries Zen/Chan

Uma leitura Zen da linguagem visual de “Arrival”

Se o novo filme Arrival fez você pensar em "círculos Zen" [ensō], você não é o único. Como talvez todos os budistas que assistiram Arrival - ou pelo menos todos os Zen-budistas - eu tive que sorrir a primeira vez que os alienígenas revelaram a sua linguagem escrita, que, afinal, é a linguagem do enso, o "círculo Zen" que você vê em todos os lugares, da arte clássica Zen a vários logos, budista e não só.

Tradução livre do artigo original do Lion’s Roar:
A Zen read of the visual language of “Arrival” por Koun Franz

Se o novo filme Arrival [O Primeiro Encontro / A Chegada] fez você pensar em “círculos Zen” [ensō], você não é o único. Koun Franz, editor adjunto da revista Buddhadharma, sobre a feliz coincidência da abordagem única do filme para a comunicação alienígena.

Linguagem em Arrival e Enso (Círculo Zen)

Como talvez todos os budistas que assistiram Arrival – ou pelo menos todos os Zen-budistas – eu tive que sorrir a primeira vez que os alienígenas revelaram a sua linguagem escrita, que, afinal, é a linguagem do enso, o “círculo Zen” que você vê em todos os lugares, da arte clássica Zen a vários logos, budistas e não só.

Os aliens, ou “heptapods”, usam uma linguagem que não tem nenhuma ordem de palavras ou pontuação, e como suas frases aparecem como círculos, também não há início nem ponto final. De acordo com Eric Heisserer, roteirista do filme, cada carácter tipo enso é um logograma; Estes logogramas representam palavras, representam frases e sentimentos. É um universo total dentro de cada um.

Parte do que é tão notável ao ler entrevistas com o autor do conto original, “História da sua vida” de Ted Chiang, e com Heisserer, é que os cineastas chegaram ao seu enso por acidente, sem qualquer referência ao budismo – ao tentarem descrever uma linguagem que continha passado, presente e futuro, sem começo nem fim, tropeçaram num símbolo de uma tradição religiosa que mantém uma visão muito semelhante de como o tempo funciona.

Qualquer pessoa que queira mergulhar profundamente numa concepção Zen do tempo, vai querer despender algum tempo com o Uji (“Ser-Tempo”) de Dogen; você encontrará uma discussão sobre isso no livro Each Moment Is the Universe: Zen and the Way of Being Time (Cada Momento é o Universo: Zen e o Modo de Ser-Tempo) de Dainin Katagiri Roshi. Uma amostra:

No senso comum, o tempo parece ser algo separado dos Seres, mas Dogen Zenji diz que esta é apenas a nossa ideia do tempo, uma imagem provisória que criamos, não a imagem total do tempo. Dogen compreende o tempo em termos de todos os seres sencientes. Ele diz que o tempo deve ser considerado em conexão com todos os seres sencientes, porque o tempo pode ser entendido correctamente somente em profunda inter-relação com todos os seres sencientes. A frase “todos os seres sencientes” não se refere apenas aos Seres Humanos, mas a tudo o que existe — animados ou inanimados, visível ou invisível — na vastidão do universo.

Você encontrará um longo trecho de Each Moment Is the Universe, previamente publicado na revista Buddhadharma, aqui (eng).

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Trailer do filme:

Sinopse (Wikipéda): Seres extraterrestres chegam em doze naves e pousam em doze pontos diferentes da Terra, após as autoridades americanas perceberem que eles querem fazer contacto, a Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma renomeada linguista que já ajudara o Estado anteriormente, e o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner), são procurados por militares para interagirem com as criaturas, traduzir os sinais e desvendar se os alienígenas representam uma ameaça ou não. Ambos são pressionados a descobrir o propósito dos extraterrestres, assim como outras onze equipas de países onde as naves pousaram. Porém, os interesses políticos, a corrida pela supremacia, o medo do desconhecido e as diferenças culturais entrarão no caminho da ciência.

Sugestões de leitura (links externos):


“A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.
– Albert Einstein, escrito em1955 numa carta de condolências para a viúva do seu melhor amigo.

“O tempo abarca toda existência; isto é, ‘o tempo é a existência, e a existência é o tempo’. O tempo é a natureza radiante de cada momento que se esvai; é o cotidiano no presente, agora. […] O mundo inteiro está incluso em nós mesmos. É este o princípio por trás que tudo no mundo nada mais é que o tempo. Cada instante de tempo cobre o mundo todo. […] Cada ser no mundo inteiro está ligado visceralmente um com o outro, e não pode jamais ser separado desta simultaneidade que é o tempo.”
– Dogen Zenji, Capítulo 16 do Shôbôgenzô, escrito cerca de 700 anos antes de Einstein.


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