O caminho da Montanha Fria é risível
Não tem marcas de carros ou cavalos
Torrentes ligadas difíceis meandros
Picos amontoados que se repetem
O orvalho chora sobre mil plantas
O vento murmura sobre iguais pinheiros
Algures perdido o caminho
A forma interroga a sombra: a partir de quê?
*
Gosto do caminho da vida simples
Por entre artemísias na bruma e grutas pedregosas
O meu sentir selvagem distende-se e acalma
Há muito companheiro das brancas nuvens ocioso
Não desejo o caminho do mundo
Sua paixão não me atrai
À noite sento-me sozinho num leito de pedras
A lua redonda sobe a Montanha Fria
*
Desocupado visitei um antigo mestre
A bruma e as montanhas sucediam-se em camadas
O mestre mostrou-me o caminho de regresso
A lua estava suspensa como redonda lanterna
*
Montanha Fria retirada e estranha
Os que a sobem por vezes sentem medo
O luar torna a água clara e translúcida
Quando o vento sopra as ervas sussurram
Nas árvores secas a neve forma flores
No bosque despido as nuvens são folhas
Com a chuva sinto-me fresco e animado
Com mau tempo não se pode atravessar
*
Sob o tecto de colmo o camponês habita
À porta raros os carros e os cavalos
Num canto retirado da floresta juntam-se os pássaros
No fundo das grandes torrentes escondem-se os peixes
Colhe os frutos do monte com o filho
Com a mulher lavra a terra em socalcos
No meu lar o que há?
Só um leito de livros
*
Os homens do nosso tempo procuram a estrada das nuvens
A estrada das nuvens é sombria silenciosa sem marcas
As altas montanhas são perigosas e escarpadas
Nos largos vales são raros os tinidos
Há verdes picos de todos os lados
Nuvens brancas tanto a oeste como a leste
Querereis saber onde se encontra a estrada das nuvens?
A estrada das nuvens é o vazio
*
Alto alto no cimo do monte
De todos os lados o ilimitado extremo
Sozinho medito sem ninguém saber
A lua solitário ilumina a fonte fria
No meio da fonte agora não há luz
A própria lua está no céu azul
Recito baixinho a melodia deste canto
Este canto finalmente não é zen
*
Sigo a via da Montanha Fria
A estrada da Montanha Fria não tem fim
Longas torrentes pedras acumuladas
Junto ao rio grandes ervas cobertas de gotinhas
O musgo escorregadio não retém a chuva
Mesmo sem vento os pinheiros sibilam
Quem consegue desligar-se do mundo
E sentar-se comigo no meio da nuvem branca?
Fonte: Excertos do livro:
“O Vagabundo do Dharma – 25 poemas de Han-Shan”.
1º Edição, Outubro de 2003. Editora Cavalo de Ferro.
Han Shan encantou poetas como Gary Snyder, o personagem Japhy Ryder do livro “Os Vagabundos do Dharma” de Jack Kerouac, escritor da Geração Beat e um dos tradutores dos poemas de Han shan. (Apesar do nome, o livro de Jack Kerouac não é o mesmo que o livro dos 25 poemas de Han-Shan)
Sobre Han-Shan | Lista de Mestres e Professores
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