Património e Arquitectura

Arquiteto italiano revela plano ambicioso para um novo centro de meditação budista no Nepal

O estúdio de arquitetura italiano Stefano Boeri Architetti apresentou no mês passado o seu ambicioso projeto para um centro de meditação e jardins paisagísticos na Stupa Ramagrama, um popular destino de peregrinação budista no Nepal.

A Stupa Ramagrama fica a cerca de 50 km a leste de Lumbini, o local de nascimento do Buda, e supostamente abriga relíquias do próprio Buda. De acordo com uma pesquisa do Departamento de Arqueologia do Nepal, a sua construção remonta ao período Máuria e Gupta.

Segundo textos budistas, após o Mahaparinirvana do Buda, os seus restos mortais cremados foram divididos e distribuídos entre os príncipes de 8 dos 16 mahājanapadās (grandes reinos). Cada um dos príncipes construiu uma stupa na sua capital ou perto dela, dentro da qual a respectiva porção das cinzas foi consagrada. A Stupa Ramagrama foi uma dessas stupas. Cerca de 300 anos depois, o Imperador Ashoka abriu 7 dessas stupas e removeu as relíquias do Buda (o seu objetivo era redistribuir as relíquias por 84 mil stupas que ele planeava construir em todo o Império Máuria). Segundo a lenda, o rei serpente estava guardando a Stupa Ramagrama e impediu Ashoka de desenterrar a relíquia, tornando-a assim uma das 8 stupas imperturbadas. De acordo com a UNESCO, até hoje, a Stupa Ramagrama continua sendo a única stupa intacta e original contendo relíquias do Buda.

A stupa tem sido objeto de grande reverência e local de peregrinação desde a sua construção original. Possui 7 metros de altura mas parte dela está agora enterrada sob um monte de terra e aguarda mais pesquisas. As dimensões do complexo da stupa totalizam 10 m de altura e 23,5 m de diâmetro. No cimo está uma árvore Bodhi. Um levantamento geofísico revelou um mosteiro Kushan quadrangular enterrado abaixo da superfície. Em 23 de maio de 1996, o local foi adicionado à Lista Provisória do Património Mundial da UNESCO na categoria cultural.

O projeto

O projeto foi revelado junto à Stupa Ramagrama durante uma grande cerimónia que contou com a presença de monges budistas, do primeiro-ministro do Nepal, de funcionários do governo do Nepal e da Índia e de um vasto público. A materialização do projeto é um passo importante para a preservação desse respeitável local. O Projeto para a Stupa Ramagrama é uma parceria entre o Governo do Nepal, a Lumbini Development Trust e a Promised Land apoiada pela Fundação Moksha. Tem como objetivo valorizar e salvaguardar esse antigo local e impulsionar o Nepal para um futuro onde a preservação cultural coexista harmoniosamente com o desenvolvimento sustentável.

O masterplan do renomado arquiteto Stefano Boeri para o centro, inclui um extenso prado de 600 m2 que faz lembrar uma mandala ao redor da sagrada árvore Bodhi, cercado por um anel que abriga salas de meditação, centros de arte e cultura e museus. A encosta do anel terá 80 mil plantas de 70 espécies diferentes selecionadas a partir da planície de Terai, local do nascimento do Buda. O projeto incorpora princípios de design ecológicos e serão usados materiais locais para a construção do centro. A visão do Sr. Boeri integra harmoniosamente o projeto com o entorno natural, enfatizando espaços verdes e práticas de construção sustentáveis. O compromisso com a conservação ambiental garante que o projeto se torne um farol de desenvolvimento cultural responsável. Segundo Stefano Boeri, o projeto do centro foi inspirado na obra do arquiteto japonês Kenzo Tange, autor do masterplan elaborado para o Museu Lumbini em 1978.

“Este projeto representa um desafio extraordinário para nós: criar um centro significativo de oração, meditação e paz num dos locais mais sagrados do budismo”, disse Stefano Boeri, fundador da Stefano Boeri Architetti.

“Respeitando o rico simbolismo das escrituras budistas, propusemos a criação de um grande Anel de Jardins de Biodiversidade ao redor da Stupa Ramagrama, com um alto nível de biodiversidade em termos de espécies de plantas. O anel cercará o Prado da Paz, uma ampla área de encontro e meditação para milhares de monges, peregrinos e visitantes que se aproximarão da Árvore Bodhi e da Stupa,” enfatizou Boeri. “Devido ao seu valor verdadeiramente universal e à natureza colaborativa entre culturas e nações, este projeto tornar-se-á um dos mais significativos projetos de património cultural em curso no Nepal.”

Boeri fundou o seu estúdio homônimo em 2009. Possui escritórios em Milão e operações em Shangai, Doha e Catar. O escritório concentra-se na pesquisa e desenvolvimento de arquitetura moderna e urbanização, com ênfase na biodiversidade. Stefano Boeri é conhecido pela premiada Floresta Vertical em Milão e pela sua integração hábil de ambientes culturais e naturais.

Referências: Buddhistdoor, Worldarchitecture, Dezeen, Archdaily, Wikipédia.

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