Esse é um pensamento que ocorre em algumas pessoas. A proposta do Buda é muito elevada, e há pessoas que ao perceberem isso e verificarem que estão muito longe do que o Buda propõe, mesmo que tenham algum interesse, acabam por desistir.
As palavras a seguir são uma resposta que dei a uma pessoa que relatava as suas dificuldades na prática. É uma resposta com base na minha visão, eventualmente, professores budistas podem concordar ou não concordar integralmente com ela.
Imagine que você está num deserto com sede e encontra um balde de água fresca. O balde de água é muito grande e por isso você não consegue beber tanta água. Você deixaria de beber a água? Não! Beberia apenas o que conseguisse. Da mesma forma, o budismo tem uma ampla gama de ensinamentos mas você não tem que “beber” tudo de uma só vez. É melhor beber um pouco do que nada. Existe um Sutra Mahayana com uma metáfora parecida, em vez de um balde é referido um rio. Li pela primeira vez essa metáfora num comentário do Prof. Henrique Pires.
Cada um tem as suas circunstâncias e está num nível de prática. O Buda ensinou pessoas que queriam seguir uma prática intensa em direção ao despertar, mas também ensinou aqueles que por exemplo apenas queriam (ou só podiam) melhorar o seu karma, melhorar um pouco a sua vida. Repare que na Tailândia 95% das pessoas se considera budista, dessas só uma minoria é que medita. Existe todo o tipo de budistas, vários tipos de práticas e diferentes níveis ou estágios de prática. Cada um segue o caminho da forma que lhe é mais conveniente.
Quando se deparar com ensinamentos que acha que não consegue aplicar, não se assuste com isso, você faz o melhor que lhe é possível no seu momento de vida.
E isto para dizer que para você “virar budista” basta ter a intenção de seguir o caminho de Buda e ir implementando progressivamente os ensinamentos na sua vida. Não tem que ser uma santa. Não tem de abandonar todos os seus defeitos e ideias de uma só vez, se assim fosse, com apenas um passo você se tornaria num Buda. Comece estudando os ensinamentos básicos e vá aplicando da melhor forma que consegue, passo a passo, e aos poucos vá progredindo. Cada um começa do lugar onde está e cada um tem o seu ritmo e o seu tempo. Aprender um instrumento musical não acontece em poucas semanas. O budismo também é como aprender a tocar um instrumento, e o desenvolvimento que obtemos será conforme as nossas circunstancias e dedicação à prática. O contacto com um professor e uma comunidade ajuda no Caminho.
Você teve a felicidade de conhecer os ensinamentos do Buda. Aproveite! Tenha em mente que a qualquer momento podemos morrer e perder esta oportunidade.
“O Dharma, incomparavelmente profundo e precioso, é raramente encontrado mesmo em centenas de milhares de ciclos universais. Devemos tomar consciência da importância e da maravilha de termos a oportunidade de nos encontrarmos com o Dharma do Buda.”
– Rev. Jean Tetsuji, Reflexões sobre o Tríplice Refúgio do Budismo
“Tenho certeza de que muitos de vocês não são diligentes, tenho certeza que muitos de vocês saem para beber, e vão a cassinos, e fazem todo tipo de coisas estranhas que eu nem consigo conceber, mas ainda assim podem ser budistas, e eu acho que isso é tão importante… eu quero ver budistas na Harley Davidson, com as tatuagens, com as jaquetas de couro bem justas, eu gosto delas… porque eu acho tão denegridor e tão triste sempre ouvir ‘oh budista igual a vegetariano, não violento, monge, caverna, retiro,…’ todas essas coisas estão diminuindo a população do budismo.”
– Dzongsar Jamyang Khyentse
“Da mesma forma como o oceano tem bancos de areia graduais, um declive gradual, uma inclinação gradual, com uma queda abrupta somente após um longo trecho, assim também esta Doutrina e Disciplina tem um treinamento gradual, um desempenho gradual, uma progressão gradual, com uma penetração do conhecimento somente após um longo percurso.” (Ud V.5) “Bhikkhus, eu não digo que o conhecimento supremo é alcançado todo de uma vez. Ao contrário, o conhecimento supremo é alcançado através do treinamento gradual, através da prática gradual, através do progresso gradual.” (MN 70)
– Buda
Para complementar a leitura, leia o post: O Budismo é para todos!, que vem no seguimento deste artigo.
Veja também:
- Quando digo que sou Budista
- Objectivo Principal e Secundário do Budismo
- O que é o Budismo? Quem foi o Buda?
- O que o Buda descobriu e qual a sua obra?
- O que faz de ti um Budista? Os 4 selos
- As 3 marcas da existência: Anicca, Dukkha, Anatta
- Os 5 Preceitos
- Os 3 Venenos Mentais
- 10 Paramitas (perfeições)
- O Nobre Caminho Óctuplo
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