Budismo Geral Comunidade

Porque é importante apoiar os templos e as comunidades?

“O Budismo não se faz como filial fast-food que abre para prestar um serviço. Ele é construído pelo Sangha, a Comunidade, a Terceira Jóia.“ – Rev. Jean Tetsuji


Se hoje nós temos acesso aos ensinamentos do Buda, é porque as instituições, as comunidade, foram apoiadas de várias formas. Cada um, dentro das suas possibilidades, foi apoiando como podia.
O Rev. Jean Tetsuji, abordou este assunto num comentário num grupo do Facebook. Com a sua permissão o texto é aqui publicado.

Visto um assunto no post ontem, queria trazer um tema por vezes espinhoso – religião e dinheiro. E farei este post costurando algumas falas daquele post. A começar pelo melhor comentário que observei lá:

O que você oferta em retribuição ao que encontra nelas?

O primeiro dos Seis Paramitas é Danna, Doação, generosidade. O ensinamento se perpetuou de Shakyamuni até aqui (neste grupo p.e.) por meio das instituições sustentadas desde um simples gesto de milhões de pessoas e monges anônimos a somas de reis e príncipes, a começar pelo seu próprio pai Suddhodana, rei Asoka e príncipe Shotoku no Japão. Se temos o histórico templo Horyuji, séc. VII, Nara, Japão, foi por causa de seu grande entusiamo e louvor ao Buda por aportar em terras nipônicas de mestres vindos da Coréia e China. Os templos budistas japoneses no Brasil são todos fruto do senso de coletividade e comunidade dos imigrantes pioneiros, cada um fez um pouco, contribuiu com algo, doou mesmo que fosse seu tempo e seu suor. Entenda, budismo não se faz como filial fast-food que abre para prestar um serviço. Ele é construído pelo Sangha, a Comunidade, a Terceira Jóia. Ele não surge ao seu favor, ele é o resultado do seu favor.

Muita gente generaliza oportunistas religiosos com as tradições e vertentes sérias. O templo não vive do etéreo, tem contas de água, luz e internet a pagar, transporte, comida, materiais físicos para conviver e ensinar, viagens aos países de origem. Porém, é comum no budismo japonês os clérigos trabalharem, os que não são missionários integrais, mas adjuntos como eu. Eu contribuo muito no templo com meu tempo e trabalho, por vezes mais fora que dentro dele, escrevendo este post, p.e., cuidando das mídias do templo, participando de eventos interreligiosos, entre outros. As ofertas (ofusê) que recebemos eventualmente ficam para custear assuntos do Dharma.

Minha ordenação custou, meu treinamento custou, muitas viagens (ônibus e avião) ao interior do Paraná para passar preciosas horas com meu mentor, meus mantos custaram, a viagem ao Japão para ordenação num templo de 800 anos, a comida, o trem, o visto. There is no free meal.

Se você quer que isso perpetue, algo precisa ser feito. Saco vazio não para em pé, dizia minha mãe me forçando comer quando criança. Cada um contribui com o que quer e como puder, seja um gesto, seja uma soma de cinco, vinte, cem reais. Mas é obvio que tudo precisa de dinheiro, é como funciona nosso sistema.

A melhor forma de nos sensibilizarmos é sempre se lembrar dos pioneiros japoneses que não construíram templos para promover o budismo, apenas o fizeram para professar sua fé pelo espírito da comunidade, do senso coletivo. (falo do budismo japonês pois é minha realidade, mas vale para demais tradições)

E por fim, a frase que mais gosto de uma querida amiga – “varrer o pátio do templo ninguém quer”, mas alcançar a iluminação sentado em lótus ao cheiro de incenso num templo bonito e calmo, sim.

A imagem de destaque é do templo Kiyomizu-dera, Kyoto, Japão.

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