Budismo Geral

Cuidado com as seitas e cultos

Como qualquer grande religião no mundo, o Budismo também tem seu quinhão de cultos nocivos. Não importa se o líder é chamado de Guru, Rinpoche, Sifu ou Bhante, desde que haja tendência de usar e abusar do Dharma para ganho pessoal, como obter seguidores com intuito de alimentar o ego do líder ou sua excentricidade, cultistas sempre irão existir. Cultos também irão prosperar enquanto houver seguidores que se deixam ser enganados, estejam eles cientes disso ou não.

Documentário: Seitas religiosas manipulam a fraqueza da mente humana | Discovery Channel

https://youtu.be/WTWXak3YVeM

Como identificar um culto budista nocivo

Por Upasaka HL Wai, The Buddhist Channel, 02 de julho de 2007
Tradução: Mauricio Ghigonetto

Como qualquer grande religião no mundo, o Budismo também tem seu quinhão de cultos nocivos. Não importa se o líder é chamado de Guru, Rinpoche, Sifu ou Bhante, desde que haja tendência de usar e abusar do Dharma para ganho pessoal, como obter seguidores com intuito de alimentar o ego do líder ou sua excentricidade, cultistas sempre irão existir. Cultos também irão prosperar enquanto houver seguidores que se deixam ser enganados, estejam eles cientes disso ou não.

Um culto¹ é definido pelo Dicionário Livre como:

  1. Uma religião ou seita religiosa geralmente considerada extremista ou falsa, onde seus seguidores muitas vezes vivem de uma forma não convencional, sob a orientação de um líder autoritário e carismático;
  2. Método ou sistema, geralmente não científicos, cujo criador diz que o mesmo possui poder exclusivo ou excecional para curar uma determinada doença;
  3. Obsessão, especialmente se estiver na moda, devoção ou veneração por uma pessoa, principio ou coisa.

Aqui estão alguns sinais-chave para se identificar cultistas (dentre eles sectários):

O líder está sempre certo

Liderança carismática é fortemente demonstrada em uma situação de culto. A máxima é de que “o líder tem sempre razão”. Muito frequentemente, a sua “santidade” é auto-ungido e vários títulos honoríficos são produzidos sem qualquer evidência clara de certificação. Quando questionado em particular sobre a sua ordenação, especificamente sobre onde, como e quando ocorreu, as suas respostas são normalmente evasivas, ou na melhor das hipóteses uma lista desconexa de significados obscuros (como “uma linhagem de nenhuma escola”).

O líder afirmará ter conhecimento supremo em determinadas áreas de informação (vinaya, suttas ou liturgia), e pode se utilizar de alguns versículos para justificar seus pensamentos e ações. Com essa mentalidade, ele sente possuir autoridade divina para instruir as pessoas como devem viver e se comportar (como diz o ditado, em terra de cego, quem tem um olho é rei).

Não há questionamentos

Seguidores do culto costumam citar seus líderes sem nunca questioná-los. Questionar o líder de uma seita pode resultar em sanção ou abandono por parte dos outros membros e do líder. Até mesmo o “Kalama Sutta” pode ser distorcido para se encaixar na interpretação. Um dos versos favoritos é a aplicação seletiva que somente “… quando vós mesmos souberes:” Essas coisas (ações) são boas, essas coisas não são condenáveis; essas coisas são elogiadas pelos sábios; realizadas e observadas, estas coisas levam ao beneficio e à felicidade “, entre e permaneça nelas.”

O problema com isto é que é frequentemente dito aos seguidores que eles são “aprendizes do Dharma”, que, devido à sua “ignorância”, eles precisam praticar mais diligentemente antes que possam decidir por si mesmos. Como tal, é imperativo formar a “amizade espiritual”, Kalyana Mitra: a ligação especial entre “professor e aprendiz”. Infelizmente, os cultistas tendem a explorar essa relação para seus próprios fins, o que leva eventualmente à perpetuação de um sistema parasitário ou à dependência contínua. Isso é a antítese dos relacionamentos simbióticos que existem entre a Sangha e os leigos que são estabelecidos em escolas regulares.

Seguidores do culto exibem um zelo inquestionável pelo seu líder e se recusam a aceitar que seu líder esteja errado. Nos casos mais extremos os cultistas podem recorrer à violência para proteger seu professor.

O mundo inteiro está contra nós

Críticas públicas e reprimendas por aqueles que são vistos como mais experientes ou populares, geralmente fazem com que o líder assuma a posição de oprimido. Seguidores são constantemente lembrados de que estão sendo intimidados por mãos invisíveis, por pessoas com autoridade e por aqueles que tem inveja de suas formas pouco ortodoxas. A única maneira que eles tem de combater essas forças é a união.

Ninguém mais está certo

Os líderes da seita acreditam que detêm o monopólio da verdade em seu método de transmitir os ensinamentos e no caminho da prática. Qualquer pessoa que queira participar ou visitar um outro centro ou grupo de Dharma é evitado pelo restante da congregação e considerado um traidor. Houve um caso, na Malásia, onde um professor de culto grosseiramente abusou do Pannatti Puggala (o livro de classificação dos quatro tipos de indivíduos) para estigmatizar aqueles que não seguem os rituais prescritos e os modos de comportamento como “padaparama” – indivíduos que não podem obter a libertação de males mundanos durante este tempo de vida, embora ele ou ela se enpenhem com todo seu esforço na prática do Dhamma. Para piorar a situação,tudo que se precisa fazer para conseguir a liberação é seguir rigorosamente os métodos prescritos e seguir as instruções do professor.

Exploração financeira

Cultos geralmente estão preocupados em angariar dinheiro, seja para a caridade ou para construir seu centro. Um de seus métodos favoritos é enfatizar os ensinamentos do “não-eu”, “ausência de ego”, “ganância” e “vazio” e, em seguida, relaciona-los com a idéia de que a riqueza pessoal tem menos “mérito” em comparação com a partilha com a comunidade para difundir o Dharma. Grupos de culto ensinam que se sacrificar para o bem maior de organização é muito melhor do que colocar o seu dinheiro em outro lugar.

Usando medo e intimidação

Religiões de culto dependem da intimidação, privada e pública, para manter seus membros na linha. Particularmente no budismo, onde a ênfase do treinamento da mente através da meditação é integral à prática, indivíduos fracos ou aqueles que estão enfrentando problemas pessoais são especialmente suscetíveis a esse tratamento. Através de seu carisma, os líderes da seita são adeptos a “empatizar” com aqueles que enfrentam problemas pessoais.

Quando o líder se irrita e usa palavras ásperas, explica-se logo que é apenas uma expressão de “amor e compaixão”. Alguns justificam este comportamento rotulando a resposta agressiva como “amizade feroz”. E quando o membro alvo também está sujeito à pressão de seus pares para “modificar o seu comportamento”, a intimidação se torna completa. Isto é o objeto de estudo da “Psicologia das massas”

Como resultado, os membros do culto continuamente enfrentam batalhas intragrupais para manter o seu status devido ao seu desejo de aceitação e pelo fato de que o mesmo pode mudar dependendo do que está acontecendo em sua vida². Desta forma, os líderes religiosos da seita são capazes de manter um fluxo constante de membros obrigados e vinculados à sua organização.

Lavagem cerebral

Quase todos os cultos budistas nocivos usam alguma técnica de alteração da mente, como a meditação, o medo do professor, o medo de “karma ruim” e a manipulação emocional para fazer lavagem cerebral nos membros da congregação e obriga-los a ficar.

Tais líderes também são adeptos do uso da culpa, muitas vezes jogando com a mente de pessoas confusas, dando-lhes aconselhamento pessoal sobre “observações de formações mentais”, após uma sessão de meditação sentada.

Ao invez de levar o aluno a fortalecer sua determinação pessoal para que possa enfrentar seus demônios internos, o cultista vai preferir cultivar idéias de libertação por meio do apoio da comunidade, perpetuando a dependência do aluno em forças externas.

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1 – O uso da palavra culto na língua inglesa é diferente do uso na lingua portuguesa. Daí a tradução de cult para culto nocivo, já que no inglês a palavra culto tem uma conotação negativa quase que aprioristicamente. Neste texto, compreende a palavra culto, como algo nocivo caso não seja especificado.

2 – Esta parte do texto foi alterada em relação ao original para ficar mais condizente com as teorias de psicologia social e comportamentos de grupo. Esta parte do texto no orginal não faz sentido e não condiz com os conceitos de psicologia a qual se refere ao longo do texto.

Traduzido do Original: Buddhistchannel: How to spot a Buddhist cult


Conformidade social:

Conformidade Social – Experiência em sala de espera

Sugestão de leitura:

Sugestão de Documentário:

  • Kumaré (2011)

Veja também:


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