«Se nossa prática não diminui o auto-apego, ou talvez até aumente, então não importa o quanto somos austeros e determinados, não importa quantas horas por dia nos devotamos a aprender, refletir e meditar, nossa prática espiritual é em vão.
Um derivado próximo do auto-apego é o sentimento de auto-importância. Tal arrogância ou orgulho é uma armadilha bem perigosa para pessoas praticando o Dharma. Especialmente no budismo tibetano — com seus diversos níveis de prática, as aspirações arrebatadoras do caminho do bodisatva e o mistério cercando a iniciação no tantra — podemos facilmente nos sentir parte de uma elite.
Além disso, a filosofia do budismo é tão sutilmente refinada e penetrante que, ao ganharmos alguma compreensão dela, isso pode dar origem ao orgulho intelectual.
Mas se esses são os resultados da prática, então alguma coisa saiu errada. Lembre-se do conhecido ditado entre budistas tibetanos:
“Um pote com pouca água dentro faz bastante barulho quando chacoalhado, mas um pote cheio de água não faz ruído nenhum.”
Pessoas com muito pouca realização com frequência querem contar a todos sobre os insights que tiveram, o êxtase e as sutilezas de sua meditação e como isso transformou radicalmente suas vidas.
Mas aqueles que estão verdadeiramente impregnados de realização não se sentem compelidos a anunciar isso; no lugar disso, simplesmente residem nessa realização. Eles não estão preocupados em descrever seu próprio progresso, mas em direcionar a consciência dos outros de modo que seus corações e mentes possam ser despertados.»
Trecho do livro “The Seven-Point Mind Training”
por Alan Wallace.
«Se sua mente é distraída e cheia de apego, inimizade e ignorância, então, independentemente de quantos milhões de mantras você recitar ou prostrações oferecer, será como comer comida saborosa misturada com veneno.
A única maneira de se livrar do vicioso ciclo de sofrimento e alcançar a felicidade última da iluminação é prestar atenção cuidadosa em executar ações positivas e evitar as negativas.
De fato, se você ainda não assimilou essa verdade, pode alegar que deseja ajudar os outros, mas todos os esforços serão em vão.
É por isso que é tão importante, ao seguir os ensinamentos e colocá-los em prática, não esperar com isso ser respeitado ou recompensado por seu grande aprendizado, mas ter o pensamento:
“Possa eu alcançar a iluminação e poder dar esses ensinamentos a todos os seres, assim guiando-os ao Estado de Buda.”
A menos que alcancemos realização interior com a aplicação de fato dos ensinamentos, com eles unidos em nossa mente, qualquer conhecimento que adquirimos permanece teórico e vai servir apenas para aumentar nossa arrogância intelectual.»
Trecho do livro “The Hundred Verses of Advice“
por Dilgo Khyentse Rinpoche
Veja também:
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Sobre Alan Wallace, Dilgo Khyentse Rinpoche| Lista de Mestres e Professores
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