Meditação Trechos

Meditação e Yoga transformados em produtos comerciais

"Pelo que me é dado ver, em certos casos, há sobretudo uma utilização da meditação para fins comerciais. É inquietante, na medida em que seria uma grande perda se a meditação fosse separada dos seus valores originais e das ricas tradições onde cresceu." - S. S. Karmapa

Trecho do livro “Freedom Through Meditation” de S. S. Karmapa

Como todos sabem, hoje em dia verifica-se no mundo inteiro um interesse crescente pela meditação e a plena consciência. As estatísticas do Google evidenciam esse entusiasmo recente. O que eles mostram são números altos para pesquisas sobre tópicos ligados à meditação, mas se olharmos para as estatísticas do termo Budismo, os números caem acentuadamente. Isso mostra-nos que muitas pessoas preferem mais informações sobre a meditação do que saber sobre o budismo.

Creio que o facto de o budismo ser etiquetado como uma religião produz um efeito negativo no interesse que as pessoas poderiam ter. A meditação e a mindfulness, por sua vez, não têm a carga dessa conotação, o que leva as pessoas a aproximaram-se mais facilmente.

De certo modo isto é uma boa notícia, que devemos acolher e a que devemos dar a nossa atenção. É muito bom que cada vez mais pessoas tenham curiosidade pela meditação e devemos apoiar esse movimento.

Por outro lado, alguns elementos desse movimento são algo inquietantes. Pelo que me é dado ver, em certos casos, há sobretudo uma utilização da meditação para fins comerciais. É inquietante, na medida em que seria uma grande perda se a meditação fosse separada dos seus valores originais e das ricas tradições onde cresceu.

A prática do yoga passou por uma fase semelhante. Originalmente, na Índia, a prática yógica era estritamente espiritual: Permanecia um segredo bem guardado e os seus praticantes estavam totalmente imersos numa busca espiritual. No mundo contemporâneo, todavia, o yoga é frequentemente comercializado para fins seculares.

É preocupante que algo semelhante possa acontecer com a meditação. A prática da meditação é muito pessoal. Transformá-la num negócio seria retirar-lhe do seu contexto mais vasto e profundo (de filosofia, engajamento social, e ética, por exemplo), que devemos apreciar e sustentar.

Valorizar essa dimensão mais vasta permite-nos ficar ligados à fonte autêntica da meditação.


“Propagar o Darma é importante, mas ele nunca deve ser ensinado visando ganhos materiais. Se isso acontecer, o Darma irá perder o seu poder e se degenerar, como aconteceu com muitas das tradições de sabedoria antigas. Um exemplo é a moda, que já dura algumas décadas, de praticar yoga indiano como exercício físico. Quantos professores contemporâneos de yoga sequer mencionam a visão e a motivação em que se baseiam as práticas autênticas de yoga? (…) O mais frequente é deixar de lado tudo que há de espiritual no yoga para que as aulas se encaixem melhor nas agendas apertadas dos executivos que se preocupam com a saúde, tornando-as mais lucrativas para os professores. Quando uma atividade como o yoga se transforma numa galinha dos ovos de ouro, logo perde o seu caráter espiritual.”

– Dzongsar Jamyang Khyentse

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