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O renascimento no budismo

O conceito de renascimento (punabbhava) é um aspecto fundamental do ensinamento do Buda, intimamente ligado à compreensão do kamma e da natureza cíclica da existência condicionada (saṃsāra). Diferente de uma alma eterna que transmigra (reencarnação), o Buda ensinou um processo de continuidade de consciência que flui de uma vida para outra, semelhante a uma chama que acende outra vela.

No Mahātaṇhāsankhaya Sutta (MN 38), o Buda explica que o renascimento ocorre quando há a confluência de três fatores: a união dos pais, o período fértil da mãe, e a presença de um gandhabba (o ser que irá renascer). Este processo é impulsionado pelo taṇhā (desejo/sede) e pelo apego, que mantêm a roda do saṃsāra em movimento. O Buda frequentemente descreveu os diversos reinos de existência onde o renascimento pode ocorrer – desde os reinos inferiores (apāya) como os reinos dos animais (tiracchāna-yoni), fantasmas famintos (peta) e infernos (niraya), até aos reinos superiores dos devas e brahmas. No entanto, ele enfatizou que o nascimento humano é particularmente precioso, pois oferece as melhores condições para a prática do Dhamma e a realização do Nibbāna.

No Assutavā sutta (SN12.61), o Buda revela uma dimensão mais sutil e imediata do renascimento: aquele que ocorre momento a momento em nossa vida presente. Os cinco agregados (khandhas) estão em constante fluxo de mudança, e a nossa consciência e processos mentais estão continuamente “renascendo” através do processo de Origem Dependente (paṭiccasamuppāda). Cada momento de consciência é seguido por outro, criando uma continuidade de experiências em perpétua transformação. Esta compreensão profunda está belamente capturada no Dhammapada (Dhp 113), que nos ensina que é melhor viver um único dia percebendo este surgir e cessar dos fenómenos do que viver cem anos sem esta percepção. Assim, quando alguém por exemplo observa que “não é o mesmo que era há 30 anos”, está expressando uma verdade fundamental do Dhamma sobre a natureza impermanente (anicca) de todos os fenómenos condicionados.

A compreensão do renascimento não é meramente teórica – ela tem implicações práticas profundas para nossa prática espiritual. Ela nos ajuda a entender a urgência de praticar o Dhamma nesta vida, pois um nascimento humano com acesso ao Dhamma é raro e precioso, como ilustrado no Chiggala Sutta (SN 56.48), onde o Buda compara essa raridade à probabilidade de uma tartaruga cega emergir uma vez a cada cem anos.

O conceito do renascimento no entanto não deve ser visto como um dogma no qual os budistas deveriam acreditar cegamente, pois o Buda não incentiva a fé cega mas sim a fazer a própria investigação. Não tendo um conhecimento direto, o que podemos fazer é aceitar a ideia do renascimento como uma hipótese de trabalho.

De seguida seguem-se mais explicações sobre o renascimento por diferentes professores(as) budistas. No final do artigo são disponibilizados vários links para aprofundar esta temática.

Para os budistas, que importância tem acreditar no renascimento?

Trecho do livro “Por Fora e Por Dentro”, de Ajahn Jayasaro. Publicações Sumedhārāma.

O Budismo não é um membro do sistema das ‘famílias com sistemas de crenças’ das religiões. Por essa razão os ensinamentos do Buda sobre renascimento não deveriam ser vistos como um dogma no qual os budistas têm de acreditar. Os budistas são encorajados a assumir o ensinamento do renascimento como sendo fiável, mas a estar constantemente conscientes que o facto de aceitarem um ensinamento que faz sentido, que inspira confiança, ou que é tão consistente com outros ensinamentos já provados como verdadeiros, não é o mesmo que conhecer a verdade por si próprio.

O Buda ensinou que as pessoas deviam ‘preocupar-se com a verdade’, não reivindicando que algo tenha que ser necessariamente verdadeiro só por que se tem uma forte sensação de que o é. A vasta maioria dos budistas não foram efectivamente capazes de provar a verdade do renascimento. São ensinados a humildemente reconhecer que, de facto, não sabem se tal é verdade, mas a aceitar os ensinamentos sobre o renascimento como uma hipótese de trabalho para compreenderem as suas vidas, e para seguirem a via do Buda para o despertar. Ao praticarem o Óctuplo Caminho, a confiança no kamma e no renascimento cresce de uma forma natural, não forçada.

(O texto original tem a palavra “reencarnação” em vez de “renascimento”. Usualmente tem-se optado por não usar a palavra reencarnação no budismo por não ser a mais adequada. O termo “renascimento”, ainda que não seja perfeito, está mais de acordo com o budismo. Também na versão inglesa do livro é usada a apalavra “rebirth” que é melhor traduzida para renascimento do que para reencarnação. Por esses motivos, neste trecho foi substituída a palavra reencarnação por renascimento. Na língua páli, o termo para renascimento é “punabhava”, que literalmente significa “re-tornar-se”, “existência renovada”, “vir a ser”.)

O renascimento no budismo

por Tsering Paldron

Vida, morte e renascimento

por Tsering Paldron

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Sugestões de leitura (links externos):

Veja também:

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