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A realidade não é real, atestam os vencedores do Prémio Nobel da Física de 2022

Uma das descobertas mais perturbadoras do último meio século é que o universo não é localmente real. “Real”, significando que os objetos têm propriedades definidas independentemente da observação – uma maçã pode ser vermelha mesmo quando ninguém está olhando; “local” significa que os objetos só podem ser influenciados pelo ambiente e que qualquer influência não pode viajar mais rápido que a luz. Investigações nas fronteiras da física quântica descobriram que essas coisas não podem ser ambas verdadeiras. Em vez disso, as evidências mostram que os objetos não são influenciados apenas pelo ambiente e também podem não ter propriedades definidas antes da medição. John Clauser, Alain Aspect e Anton Zeilinger, os 3 físicos vencedores do Prémio Nobel da Física de 2022, revelaram essas conclusões desafiadoras ao longo das últimas décadas.

Teoria falha

Votemos à década de1920 em diante. Uma discussão começou entre Einstein e os pais de um novo campo da ciência chamado física quântica. Einstein era visto como o líder do lado que dizia que a realidade era real, enquanto que os pais quânticos, liderados por Niels Bohr (e também por Werner Heisenberg e Erwin Schrödinger), diziam que a realidade era uma ilusão.

Quando o colega de Einstein, Pascual Jordan, lhe disse: “Observações não somente perturbam o que vai ser medido, elas o produzem […] Nós compelimos o eletrão a assumir uma posição bem definida […] Nós próprios somos os responsáveis por produzir os resultados das medições que observamos”, Einstein lamentou-se respondendo com a pergunta: “Você realmente acredita que a lua só existe quando olhamos para ela?”

Em 1935, Einstein disse que as descobertas da física quântica sobre a natureza das partículas básicas que compunham tudo no mundo, incluindo pessoas e objetos e o próprio espaço, eram fundamentalmente falhas. A física quântica como teoria só funcionava se as partículas não estivessem sujeitas às regras do tempo e do espaço. E isso, claro, não fazia sentido. Isso significaria que, num nível fundamental, nada estava sujeito às regras do tempo e do espaço. Nada era realmente real.

Os pais quânticos admitiram que o ponto de vista de Einstein estava correto, mas mantiveram as suas teorias, mesmo admitindo que isso os fazia parecer místicos. Com base nos primeiros experimentos que sugeriam que Bohr parecia estar certo, Einstein teve que admitir que a teoria não estava errada, mas certamente incompleta.

A disputa permaneceu por décadas e em 1955 Einstein faleceu sem uma solução encontrada. Mas nas décadas de 1960 e 1970, vários cientistas desenvolveram novas formas experimentais para verificarem se as partículas eram fisicamente “reais” ou não. As descobertas foram claras, elas definitivamente pareciam indicar que os pais quânticos estavam certos.

Um novo passo além

Em 1981, um grande passo foi dado com uma nova experiência. Aspect e a sua equipa dividiram um fotão (uma unidade de luz) em dois pedaços e os afastaram 12 metros.

Eles então mostraram que os pedaços se comportavam como se ainda fossem partes da mesma partícula. Isso mostrou que, no que diz respeito às partículas subatômicas, não existe tempo e espaço. Como tudo é feito de partículas subatômicas, então não existe tempo e espaço para nada. Por outras palavras, a realidade física – o mundo 3D em que existimos e nos movemos – é uma ilusão ou uma projeção. Esta é agora a posição padrão na física.

Estás ideias são profundamente contrárias às nossas experiências quotidianas, porém, as investigações têm apontado nesse sentido. Devido ao trabalho realizado na área quântica, que inclui o desenvolvimento tecnológico, John Clauser, Alain Aspect e Anton Zeilinger, venceram o Prémio Nobel da Física de 2022.

Dalai Lama parabeniza os vencedores do Prémio Nobel da Física

S. S. Dalai Lama é um admirador da ciência e frequentemente encontra-se com cientistas, inclusive com o Anton Zeilinger. Após o anúncio dos vencedores do Nobel, o Dalai Lama emitiu uma declaração dizendo:

“Estou muito satisfeito em saber que o Prémio Nobel da Física deste ano foi concedido a três cientistas, Alain Aspect, John Clauser, e o meu amigo Anton Zeilinger, pelo trabalho no desenvolvimento de ferramentas experimentais que lançaram as bases para uma nova era da tecnologia quântica. Eu ofereço os meus parabéns a eles pelas suas investigações pioneiras.

Nas minhas discussões com cientistas ao longo de quase quatro décadas, tive várias conversas frutíferas com o Prof. Zeilinger em relação à física quântica. Nós nos encontrámos pela primeira vez em 1997 aqui em Dharamsala, depois eu visitei o seu laboratório na Universidade de Innsbruck em 1998. Posteriormente nós nos encontrámos aqui em Dharamsala durante reuniões do Mind & Life Institute.

Eu tenho um grande respeito pela ciência moderna e tenho pensado longa e profundamente sobre ela, não apenas em relação ao que ela tem a nos dizer sobre a realidade, mas também em termos de como ela pode influenciar os valores humanos. Alegro-me que o Prémio Nobel da Física deste ano tenha sido concedido a Anton Zeilinger e aos seus colegas, por um trabalho que tem muito potencial para trazer benefícios a toda a humanidade.”


“Qual é o som de uma árvore caindo numa floresta, sendo que ninguém está lá para escutar?” – Koan Zen

“Dois monges discutiam a respeito da bandeira do templo, que tremulava ao vento. Um deles disse: – É a bandeira que se move. O outro disse: – É o vento que se move. Trocaram ideias e não conseguiam chegar a um acordo. Então Hui-neng, o sexto patriarca, disse: – Não é a bandeira que se move. Não é o vento que se move. É a mente dos senhores que se move. Os dois monges ficaram perplexos.” – Koan Zen


Referências: Scientific American, Fridayeveryday, The Dalai Lama Office.

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