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É possível seguir mais que uma tradição ou escola budista?

Após a morte do Buda e com a expansão do budismo, foram surgindo diferentes escolas budistas, todas elas partilham um núcleo comum, é isso que as tornam budistas, mas além desse núcleo existem ensinamentos adicionais e abordagens diferentes.

Alguns praticantes começam a seguir uma escola porque por diversas circunstâncias foi a que lhes “apareceu à frente” e ficaram com interesse nela. Outros se interessam pelo budismo mas não sabem que escola escolher ou se devem ou não seguir várias.

A resposta que se segue é baseada na minha experiência como um simples praticante leigo e não é uma resposta universal. É uma opinião ainda que baseada no que vários mestres aconselham.

Então no inicio, se ainda não existe uma conexão com uma escola, a sugestão é que se comece a explorar as várias escolas e até a história de como essas escolas foram surgindo. Essa exploração pode ser feita por livros, pela internet, visitando centro e templos e interagindo com as várias comunidades budistas. Dessa forma fica-se com uma ideia da história dessas escolas e das diferentes abordagens, evita-se também cair em escolas menos próprias. Mesmo quem já pratica consolidadamente numa escola também pode ser interessante conhecer outras vertentes.

Mas para um aprofundamento do caminho budista, após essa exploração o ideal talvez seja manter o foco da prática numa escola. Os vocabulários das escolas são diferentes, as escolas têm diferentes abordagens, algumas até podem parecer contraditórias, mas são caminhos diferentes para o mesmo objetivo. Cada escola tem um método doutrinário consolidado durante séculos e que funciona dentro de um certo contexto. Então, misturar e seguir tudo ao mesmo tempo pode não funcionar muito bem e fazer com que o praticante não ande para a frente e fique sempre no superficial, até porque não há tempo para aprofundar tudo. No então, se existe um interesse por várias escolas ou pela tradição budista de forma geral, o que até é o meu caso, o que é aconselhado é que se mantenha o foco numa escola, que a tenha como base, que se siga as orientações dessa vertente e dos professores e, como complemento ir estudando outras escolas, mas mantendo o foco da prática na “escola raiz”, a que foi escolhida. Conhecer bem apenas uma escola budista é suficiente para progredir no caminho, mas se não se andar às voltas apenas em teorias, acho muito benéfico ter uma visão mais global do budismo e se for caso disso até aplicar algumas práticas de outras escolas. Por exemplo o conhecido mestre do budismo tibetano, Chögyam Trungpa Rinpoche, também estudou o Zen e aplicou algumas práticas Zen na escola por ele fundada, como por exemplo a prática do Oryoki.

Como referido acima, as escolas usam vocabulários diferentes, por isso não se deixe iludir pelas palavras, por vezes o mesmo termo ganha diferentes significados entras as várias escolas, tenha em atenção que alguns termos têm um significado dentro do contexto de uma escola, e que noutra podem existir diferenças. E o mesmo se aplica aos métodos e abordagens. É importante ter isso em consideração quando lê ou escuta ensinamentos de escolas diferentes.

Esta diversidade torna o budismo rico e vivo. E apesar de todas as diferenças, todas as escolas são completas em si mesmas e tem muito mais coisas que as unem do que as separam. É como o chá que pode ser servido em diferentes chávenas, mas é o mesmo chá, o mesmo sabor.

Sobre a escolha de uma escola, confira a palestra “A que Escola Pertenço”, ministrada pelo Prof. Ricardo Sasaki no dia 06/01/2021 e publicada pelo Instituto Zen Maitreya.

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