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Como ser um Bom (e Sábio) Pai e Mãe

Ao tratar com crianças pode ser de grande ajuda contar com as quatro moradas divinas: Amor-bondade, compaixão, alegria altruísta e equanimidade.

Trecho do livro “Ensinamentos Fáceis, Verdades Profundas” de Ajaan Anan Akiñcano

Ao tratar com crianças pode ser de grande ajuda contar com as quatro moradas divinas: Amor-bondade, compaixão, alegria altruísta e equanimidade. Quando trazemos crianças ao mundo, o nosso primeiro instinto sempre será o amor bondade. Nós os amamos porque são os nossos filhos. E uma das principais qualidades de um bom pai ou mãe é ajudar sem desejar nada em troca. Nós não estamos buscando algo em troca, nós só damos. Isso é correto – nós sempre deveríamos ter esse sentimento de bondade e desejar o bem para os nossos filhos. Então, quando eles se deparam com algum tipo de sofrimento, a compaixão surge naturalmente. Nós não queremos que eles sofram e por isso desejamos o fim do seu sofrimento. Por outro lado, quando os nossos filhos têm algum tipo de sucesso ou felicidade na vida, podemos compartilhar disso sentindo alegria por eles, esperando que continue assim. E por fim, se em certas situações eles estão enfrentando problemas mas isso está além da nossa possibilidade de ajudá-los, então a abordagem correta é a equanimidade. Temos que entender que todos estão sujeitos ao seu karma, e os nossos filhos trazem consigo para o mundo a sua própria acumulação kármica – hábitos, características e traços de personalidade.

Se os nossos filhos estão enfrentando problemas, mas não há nada que possamos dizer ou fazer, então temos de retroceder. Isso é equanimidade, onde temos um senso de equilíbrio e paciência. Compreendemos karma e aceitamos que no momento não há muito que possamos fazer para mudar as coisas. “Ah, no momento a situação é essa. Está fora do meu controle.” Sentimos amor por eles do mesmo modo, mas não tentamos forçá-los a mudar. As condições mudarão por si mesmas.

Se os nossos filhos não resolvem as coisas por si mesmos, então, talvez mais tarde seremos capazes de ensiná-los e ajudá-los. Mas temos que lembrar, especialmente com relação ao longo prazo, que as coisas são incertas, que as pessoas mudam. Algumas vezes as crianças são realmente boas. Elas possuem muito boas qualidades e devido a isso elas são populares. Depois elas crescem se casam e mudam para longe. Elas agora têm a sua própria família, as suas próprias responsabilidades.

Assim é. Elas não possuem mais tempo de sobra para nós porque estão ocupadas com as suas tarefas e obrigações.

Outras crianças podem começar não sendo muito “boas”. Não são muito bem sucedidas, não são muito responsáveis. Mas mais tarde pode ser que elas sejam aquelas que vão acabar cuidando de nós, ajudando – nos quando formos velhos. Eu vi isso em muitas, muitas ocasiões. Pensar que a criança “boa” ficará e cuidará de você e a criança “ruim” irá embora e nunca ajudará – essas coisas são incertas. Elas podem mudar cem por cento durante o curso de uma vida. Portanto, devemos lembrar disso. Karma é mutável. As pessoas mudam. Não é o caso que tudo permanecerá fixo para sempre. Quando nos lembramos dessas verdades, essa lembrança nos ajuda a abrir mão das nossas ideias um pouco mais. Nossos filhos podem ter todo o tipo de boas qualidades que simplesmente ainda não floresceram. Se tivermos paciência e pensarmos desse modo, então, não teremos que sofrer ou nos preocuparmos tanto. Podemos relaxar e simplesmente ver o que acontece.


“Dê a quem você Ama:
– Asas para voar…
– Raízes para voltar…
– Motivos para ficar… “
– Dalai Lama


Mães Desnecessária | Márcia Neder

A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo. Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou estranha. Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara. Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária. Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso. Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas
escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.

A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida. Até ao dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis. Pai e mãe – solidários – criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão. Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.”

(Este texto tem sido atribuído a diversos autores e autoras, entre eles o Dalai Lama, mas alguns blogs afirma que a jornalista Márcia Neder é a autora mais provável)

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