Tradução de parte da Entrevista a Dokushô Villalba, feita pelo site Código Nuevo e publicada em 16/08/2017. Ver artigo original.
“O zen não é uma resposta espiritual a um mundo materialista, é uma forma de viver que inclui […] a espiritualidade e o materialismo.”
– Taisen Deshimaru
Dokushô Villalba é o primeiro mestre espanhol de Budismo Zen. Reside no Mosteiro Luz Serena de Requena (Valência), Espanha. Utiliza diariamente um iMac, um iPhone e um iPad. Também um carro, luz eléctrica e água corrente. Alguém se perguntará como um monge budista pode usar os símbolos do consumismo de uma maneira descarada.
Contra a opinião popular, o budismo não renuncia ao mundo: não se afasta dele e nem menospreza o progresso tecnológico e científico. Então, fomos conversar com Dokushô Villalba sobre a sociedade de consumo, o capitalismo, o desejo e o budismo.
Código Nuevo: Como se vive a espiritualidade num mundo capitalista?
Dokushô Villalba: O Zen não deve ser considerado como uma antítese do materialismo. O mundo material forma parte do que somos, mas o que somos não se reduz ao mundo material. Há que entender que o materialismo é um movimento pendular em reacção à espiritualidade vivida na Idade Média na Europa. Nessa espiritualidade as condições materiais deste mundo não importavam, o que importava era o outro mundo. Salvar-se para o outro mundo.
Isso serviu muito bem às classes dominantes, porque eles tiveram uma situação muito folgada, mas o povo foi relegado. Foi-lhe dado a esperança do outro mundo. E durante séculos a população europeia viveu essa fábula. Quando se começa a despertar com o Renascimento e começa o desenvolvimento das ciências, a apreciação da natureza, o estudo do mundo material, essa fábula tem cada vez menos influência.
Depois de séculos de carência e miséria se passa o extremo oposto: buscar apenas a satisfação material, as condições de vida agradáveis. Isso desembocou no actual materialismo exagerado.
Como o Zen se encaixa em tudo isso?
O Zen não é o retorno a uma forma de vida espiritualizada. A espiritualidade do zen está enraizada no corpo, na natureza. É uma espiritualidade vivida quando cortas as verduras, quando tratas da horta, quando trabalhas com os materiais. A realidade não está separada entre o material e o espiritual.
Nós por exemplo: eu uso computadores Mac, uso um iPhone, iPad, usamos carro, compramos gasolina, isso é material, aqui não se fomenta o ascetismo, nem o hedonismo, nem nos regozijamos com o material. Não é uma metafísica. Nem é uma pura física. É algo que está além disso.
Para ler a entrevista completa clique na ligação acima para o artigo original.
Dokushô fala também da sociedade de consumo, em que tudo se baseia na produção e consumo, e cada um vale pelo que produz e consome, e isso além de por si só não garantir a felicidade, ainda cria um problema ambiental, pois a produção e consumo desenfreado precisa de matérias primas, e as matérias primas são limitadas. Dokushô reconhece que nós precisamos de ter as necessidades básicas satisfeitas, assim como de uma certa quantidade material para cobrir as necessidades. Mas a partir de certe limite, isso por si só não garante um estado maior de felicidade. Ele critica o facto de uma pequena percentagem da humanidade deter uma enorme quantidade de riqueza, enquanto alguns não podem aceder nem ao consumo mínimo.
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