Trecho do livro “Nuvem Vazia: Os Ensinamentos Zen” de Hsü Yun (Cap. IV). Edições Nalanda.
Um bom professor é melhor que a maioria dos livros sagrados. Os livros contêm palavras e o Ch’an não pode ser transmitido por meras palavras. Suponho que você irá pensar: “Bem, se este velho homem diz que as palavras são inúteis, por que ele fala tanto?” A religião tem muitos mistérios, e talvez o maior mistério de todos é: Porque os professores dizem que as palavras nunca são suficientes e, então, falam e falam até que os ouvidos de seus estudantes se transformem em pedras?
Buddha, certa vez, estava perto de um lago no monte Grdhrakūta e se preparava para proferir um sermão para seus discípulos que lá estavam, esperando para ouvi-lo. Enquanto o Bem-Aventurado esperava seus estudantes se assentarem, ele percebeu um lótus dourado florescendo num pequeno lago lamacento ali perto. Ele pegou a planta, tirou-a da água: a flor, o longo caule e a raiz. Então, ele a segurou bem alto para que todos os estudantes pudessem vê-la. Por um longo tempo ele a sustentou dessa forma, não dizendo nada, apenas segurando o lótus e olhando para as faces vazias de sua audiência.
Repentinamente, seu discípulo Mahākāśyapa sorriu. Ele entendeu! O que Mahākāśyapa compreendeu? Todos querem saber. Por séculos todos perguntam: “Qual a mensagem que o Buddha passou para Mahākāśyapa?”
Algumas pessoas dizem que a raiz, o caule e a flor representavam os três mundos: o subterrâneo, a terra e o céu, e que o Buddha estava dizendo que ele podia segurar toda a existência na palma de sua mão. Talvez.
Algumas pessoas dizem que ele estava pronunciando o Grande Mantra, “Mani Padme Hum”, ao contrário. A Joia que está no Lótus. Quando o Buddha segurou a flor em sua mão o Lótus estava na Joia. Humm.
Algumas pessoas dizem que a raiz, o caule e a flor significavam a base, a coluna e a coroa de lótus de mil pétalas do sistema de chakras do yoga, e que, levantando a planta, ele estava defendendo essa disciplina. Outras pessoas dizem que isto poderia muito facilmente indicar o resultado daquela disciplina. A realização trinitária: como o Buddha era Pai e Mãe, ele também era o Filho, o Lótus Nascido, e o Lótus Segurando Maitreya, o Futuro Buddha, o Julai! Humm. Certamente é algo a se pensar!
No Ch’an não estamos certos de muitas coisas. Realmente sabemos apenas uma coisa: a Iluminação não vem como um dicionário! A ponte para o Nirvāna não é composta de frases. Como o velho mestre Lao-tzu escreveu: “O Dao (Tao) que podemos falar não é o Dao queremos dizer.”
Assim, o Buddha falou em silêncio, mas o que ele disse? Talvez estivesse dizendo: “Da sujeira do Saṁsāra, o Lótus surge puro e incorrupto. Transcendam a consciência do ego! Sejam unos com a flor!”
Aí está! O Buddha deu um ensinamento e ninguém precisou tomar notas.
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