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Cheng Yen, a monja que criou uma das maiores organizações humanitárias do mundo

Cheng Yen é a fundadora da Fundação Tzu Chi, a maior organização budista humanitária, e uma das maiores do mundo. A fundação está envolvida em várias obras de caridade, ajuda humanitária em desastres naturais, protecção e preservação ambiental, cultura, educação e medicina.


“A beleza das pessoas está nas suas virtudes; é exibida através das suas boas acções, boas palavras e bom coração.”
– Cheng Yen

A Mestra do Dharma Cheng Yen não é um nome muito conhecido no ocidente, porém, o impacto que a monja teve e tem no mundo é grande.

Cheng Yen é a fundadora da Fundação Tzu Chi, a maior organização budista humanitária, e uma das maiores do mundo. A fundação está envolvida em várias obras de caridade, ajuda humanitária em desastres naturais, protecção e preservação ambiental, cultura, educação e medicina. Recentemente, a Tzu Chi chegou mesmo a contribuir com ajuda para as vítimas dos incêndios ocorridos em Portugal no verão de 2017.

Quem é a Cheng Yen?

Cheng Yen nasceu no ano 1937 em Qingshui, uma pequena cidade em Taiwan. Aos 7 anos testemunhou os efeitos devastadores da 2ª Guerra Mundial. A crueldade da guerra que ela presenciou ficou profundamente marcada na sua mente jovem, e ao longo dos seus anos de crescimento, ela se questionou sobre a vida e o seu significado.

Aos 21 aconteceu um evento que mudaria a sua vida. O seu pai, de repente adoeceu e faleceu no dia seguinte. A sua morte foi um choque e a impulsionou a buscar respostas sobre a vida e a morte. Foi nesse momento que entrou em contacto com o budismo. Ao aprender os ensinamentos, ela sentiu que deveria expandir o amor pela própria família para toda a sociedade e humanidade. Ela aspirava a cuidar da grande família humana e não somente de uma pequena família.

Com essa visão, Cheng Yen deixa a sua casa e família para embarcar no caminho espiritual, desistindo assim de uma vida relativamente confortável.

Durante 2 anos viajou pelo leste de Taiwan como um monja não ordenada e, após esse período tornou-se discípula de Ying Shun, uma figura importante no desenvolvimento do Budismo Humanista em Taiwan.

O Sutra do Lótus e os vários ensinamentos budistas influenciaram-lhe profundamente e ela comprometeu-se a seguir o “Caminho dos Bodhisattvas”.

Ela acredita no valor de toda a vida. Sua paixão e desejo ao longo da sua existência se centram na preservação da vida e na eterna busca da paz e harmonia. Ela tem esse grande amor pelos seus semelhantes e sempre teve o desejo de que cada um fosse igualmente próspero. Esse tornou-se o tema central da Fundação Tzu Chi, que visa “instruir os ricos e salvar os pobres”.

Cheng ensina os seus discípulos o que ela aprendeu do seu mestre: que é por meio do acto de compaixão que se experimenta a plenitude na vida, e isso traz a paz e a felicidade interior que ajudará a pessoa a abrir caminho para uma sociedade pacifica e harmoniosa. Ela ensina firmemente que sem sabedoria, todos os actos de caridade tornar-se-ão vãos. Esta filosofia permitiu que Cheng criasse com êxito a Fundação Tzu Chi e conseguisse uma grande quantidade de apoiantes.

A Mestra do Dharma Cheng Yen tornou-se uma das figuras mais influentes no desenvolvimento do budismo taiwanês moderno, sendo popularmente considerada como um dos “4 Reis Celestiais”, juntamente com o Mestre Sheng-yen da Dharma Drum Mountain, Mestre Hsing Yun da Fo Guang Shan e Mestre Wei Chueh da Chung Tai Shan.

Devido ao sucesso do seu trabalho de caridade, por ser “como uma luz que ilumina na escuridão”, ela recebeu inúmeros prémios, sendo os mais notáveis, a nomeação para o Prémio Nobel da Paz e o recebimento do Prémio Ramon Magsaysay, conhecido como o Prémio Nobel da Ásia. Em 2000 a revista Business Week classificou-a como uma das “50 estrelas da Ásia”. Ela é amplamente reconhecida pelos seus serviços e reputada por ser uma das mais importantes filantropas do mundo.

Actualmente, Cheng Yen continua a envolver-se activamente no trabalho da sua fundação, fornecendo ajuda e apoio a quem precisa. A sua compaixão e amor por todas as pessoas a ajudaram a continuar o seu trabalho ao longo de todos esses anos, empenhando-se em levar a paz, amor e alegria a cada pessoa que ela conhece e alcança.

A Fundação Tzu Chi

Em 1966, quando Cheng estava visitando uma paciente num pequeno hospital, ela viu uma poça de sangue no chão. Ela soube que o sangue era de uma mulher indígena que viajou durante 8 dias até ao hospital mas o seu tratamento foi-lhe negado porque ela não tinha dinheiro para pagar, devido a essa facto, a mulher sofreu um aborto expontâneo. Testemunhar essa crueldade tocou profundamente Cheng.

Recordando os ensinamentos de Buda, Cheng Yen tomou a decisão de fazer algo pela situação da humanidade. O seu desejo tornou-se mais profundo quando num encontro com 3 freiras, elas argumentaram que embora os ensinamentos budistas fossem profundos, a própria religião não fazia mais nada para mudar o mundo do que ensinar amor e compaixão, que não fizeram um bom trabalho na contribuição para a sociedade e na pratica das suas crenças. Ela respondeu que o budismo ensina as pessoas a fazerem boas acções mas sem buscar reconhecimento. No entanto, ela sabia que sem organização, o que poderia ser realizado era muito limitado.

Nessa época Cheng Yen tinha 30 seguidoras, a maioria donas de casa. Ela pensou: e se as 30 seguidoras que ouvem os seus ensinamentos doassem 50 cêntimos taiwaneses por dia (20 cêntimos de dólar dos EUA)? Ela calculou que ao fim de um ano teria dinheiro suficiente para ajudar a mulher indígena. Ela percebeu que um pequeno esforço concertado, ao longo de tempo poderia fazer uma enorme diferença.

Ela pediu às suas seguidoras leigas que depositassem num mealheiro de bambu 50 cêntimos todos os dias antes de irem ao mercado. Mas porque não doar 15$ por mês? Perguntou uma seguidora, afinal o valor era o mesmo. “Não é o mesmo”, disse Cheng Yen. “Se só pouparem uma vez por mês só demonstram compaixão uma vez por mês. Mesmo que os 50 cêntimos poupados diariamente não sejam de grande valor, com eles estarão a acumular o espírito de ajuda e de amor aos outros todos os dias.”

A palavra de ordem “50 cêntimos salvam pessoas” rapidamente se espalhou e mais gente ia aderindo ao projecto.

No dia 24 de Março de 1966, foi oficialmente inaugurada a Fundação Budista de Compaixão e Auxílio Tzu Chi. Em 1969 já eram inúmeros os dadores e os receptores de ajuda.

Ela acredita que todas as pessoas são capazes de alcançar a mesma grande compaixão de Buda. Mas a verdadeira compaixão, no entanto, não é apenas simpatizar com o sofrimento de outra pessoa, é aliviar esse sofrimento com acções concretas.

Na fundação de Tzu Chi, Cheng Yen deseja dar aos cidadãos comuns a oportunidade de pôr em prática essa compaixão, trazendo paz interior e felicidade para o indivíduo e pavimentando o caminho para a paz e harmonia mundial.

A Fundação Tzu Chi, tornou-se numa das principais organizações mundiais de ajuda em desastres e é conhecida pela surpreendente velocidade e eficiência com que leva ajuda às vítimas de desastres naturais. Sempre que as catástrofes ocorrem, voluntários Tzu Chi e especialistas chegam prontamente, distribuindo comida, remédios, cobertores, roupas quentes e, a longo prazo, reconstruindo lares, clínicas e escolas. A Fundação tem realizado projectos em inúmeras partes do mundo.

Os Voluntários da Tzu Chi são reconhecíveis no mundo inteiro pelos seus uniformes azuis e brancos. Como a lendária Bodhisattva das 1000 mãos, os voluntários correm o mundo para aliviar o sofrimento em nome da compaixão budista. É a compaixão em acção. Muitos também lhes chamam de “os anjos azuis”.

A organização começou com pequenas doações, mas foi crescendo cada vez mais e hoje constrói e opera muitos hospitais e escolas, possui estações de TV e Rádio, uma cadeia de livrarias e cafés sem fins lucrativos, e tem filiais em 47 países da Ásia, Oceania, Europa, América e África.

As “Quatro Grandes Missões” da Fundação são a Caridade, a Medicina, a Educação e a Cultura Humanista; que, ao longo dos anos, se desenvolveram para incluir a Doação de Medula Óssea, a Protecção Ambiental, o Voluntariado Comunitário e a Ajuda Internacional. Estas oito campanhas simultâneas são colectivamente conhecidas como as “Oito Pegadas” de Tzu Chi.

Os voluntários da Tzu Chi promovem o espírito da bondade amorosa incondicional e a compaixão universal para todos, com o objectivo de criar um mundo pacífico e harmonioso.

Citações de Cheng Yen

〉”A beleza das pessoas está nas suas virtudes; é exibida através das suas boas acções, boas palavras e bom coração.”
〉”A verdadeira felicidade é medida pelo amor, e não pelas próprias posses”.
〉”Perdoe aqueles que nos feriram sem querer. Não seja alguém que é facilmente ferido por outros.”
〉”Não tenha medo de cometer erros na vida, apenas medo de não os corrigir.”
〉”Seja sempre grato, para tudo e para todos, a cada momento.”
〉”A verdadeira meditação é acalmar a mente inquieta na vida cotidiana”
〉”Uma pessoa com um coração generoso e compaixão por todos os seres, leva uma vida mais abençoada.”
〉”Faça bom uso do tempo e aprecie o que temos, trate-se com amor, respeito e gratidão.”
〉”O tempo de vida de uma pessoa é medido pelas coisas boas que fez.”

Referências: Tzu Chi, TheXtraordinary, Gotami Vihara Society Malaysia, Time, Público, Wikipédia-eng: Cheng Yen, Wikipédia-eng: Tzu Chi, Lotus Happiness. Créditos das fotos no artigo: gentilmente cedidas pela filial Tzu Chi USA. Créditos da imagem de destaque: desconhecido.

Documentário (Eng)

Master Cheng Yen and Tzu Chi (Discovery Channel)

Excerto

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Atualização (Dez-2022): A BBC nomeou Cheng Yen como uma das 100 mulheres mais inspiradoras e influentes do mundo em 2022. A lista da BBC, publicada anualmente, destaca as lutas, conquistas e realizações de mulheres proeminentes e notáveis ​​de todo o mundo.

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3 comments

  1. Não há palavras para classificar este poder de juntar esforços em função das prementes e actuais necessidades, que o mundo vive! Fantástico, forca, obrigada por ensinares a ver o mundo dorido!

  2. Parabéns pelo vosso excelente site. Equipara-se a de jornalistas as vossas redações. Abraço!

    1. Muito grato pelo seu comentário! Apesar do site não ser feito por jornalistas, há a intenção que o conteúdo partilhado seja credível e baseado em boas fontes. Abraço!

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