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Se você quer estar pronto para a morte, treine como um atleta

Uma das poucas certezas da vida é que todos vamos morrer. Quando vai acontecer? Não sabemos, mas é certo que um dia vamos ter de lidar com ela. Fazer de conta que a morte não existe não ajuda. Deixar de pensar na morte é como ir fazer uma maratona sem treinar, será provavelmente bastante doloroso.

Nós podemos pensar em lidar com esse momento quando a hora chegar. Mas será que vamos conseguir lidar da melhor forma? Estaremos preparados? Novamente, não será o mesmo que ir correr uma maratona sem treinar? Nós podemos aceitar a morte como parte da vida e nos prepararmos para esse momento, ou podemos passar a vida em negação. E a vida está a passar… o tempo está passando, e mais cedo ou mais tarde, a morte vai acontecer. Devemos por isso estar preparados para quando esse momento acontecer.

Margaret Meloni, num artigo* escrito no website budista Buddhistdoor, indica-nos um plano de treino dividido em 4 níveis.

Treino de Nível I: Impermanência

Tudo está em constante mudança, tudo é cíclico. Devemos reconhecer que tudo vai mudar e que todos estamos sujeitos à doença, velhice e morte. Quando mais nos sentirmos confortáveis com o facto de que não podemos manter todas as pessoas que gostamos, que não podemos evitar coisas que não gostamos, mais próximos estaremos do fim do sofrimento. Não são apenas os bons e maus momentos que passarão, é por isso útil trabalhar com frases como “eu também passarei”, “minha mãe e meu pai também passarão”, “minha companheira/meu companheiro também passarão”.

Treino de Nível II: Mantenha a morte em mente

Pode ser útil ter em mente que hoje pode ser o nosso último dia, hoje pode ser o último dia de alguém que gostamos. O propósito desta prática não é alimentar ideias de morbidez, mas sim valorizar a preciosidade da vida. Nesta vida podemos praticar o Dharma, depois de morrermos podemos perder esta oportunidade. Podemos economizar muita dor com alguma preparação. Não precisamos de andar obcecados com a morte, apenas mantermos essa possibilidade nos pensamentos. Uma maneira de aceitar a morte e pensar sobre isso e não ignorar aqueles que estão doentes ou a passar por experiências de perdas. A recusa em reconhecer a morte não torna alguém imortal. Quanto menos aceitarmos a morte, mais difícil será quando esse momento chegar para alguém próximo ou para nós.

Treino de Nível III: Pratique as Cinco Contemplações

As Cinco Contemplações combinam um reconhecimento saudável da impermanência com a consciência da morte. Como um bom plano de treino, o nível III é baseado na base construída nos níveis I e II. As seguintes palavras devem ser lembradas e podem ser colocadas num local em que as vejamos frequentemente. Elas podem ser recitadas e usadas na prática meditativa. Devemos prestar atenção em cada palavra e ao impacto que têm em nós. As Cinco Contemplações foram proferidas pelo Buda e podem ser encontradas no Upajjhatthana Sutta (Anguttara Nikaya V.57):

“Há esses cinco fatos que devem ser refletidos por todos com freqüência, quer seja mulher ou homem, leigo ou ordenado. Quais cinco?

‘Eu estou sujeito ao envelhecimento, não superei o envelhecimento.’ Esse é o primeiro fato que deve ser refletido por todos com freqüência, quer seja mulher ou homem, leigo ou ordenado.

‘Eu estou sujeito à enfermidade, não superei a enfermidade’. Esse é o segundo fato…

‘Eu estou sujeito à morte, não superei a morte’. Esse é o terceiro fato…

‘Eu me tornarei diferente, separado de tudo o que é querido e amado’. Esse é o quarto fato…

‘Eu sou o dono das minhas ações (kamma), herdeiro das minhas ações, nascido das minhas ações, relacionado através das minhas ações e tenho as minhas ações como árbitro. O que quer que eu faça, para o bem ou para o mal, disso me tornarei o herdeiro’. Esse é o quinto fato…”

Treino de Nível IV: Medite sobre a morte

Meditar sobre a própria morte ou de entes queridos, incluindo com visualização e com atenção aos sentimentos, é benéfico e ao mesmo tempo desafiador. No budismo este tipo de prática é chamada de maranasati, ou atenção plena à morte. No Satipatthana Sutta (MN 10) são dadas instruções sobre como contemplar um corpo descartado no cemitério, corpo esse que passa por várias fazes de decadência. O Kayagatasati Sutta (MN 119) ensina a atenção plena ao corpo e novamente se refere à contemplação do cemitério para nos lembrar da impermanência e da dissolução que todos enfrentamos. E o Maraṇasati Sutta (AN VI.20) enfatiza a importância da atenção plena na morte, não apenas porque nos torna mais hábeis em lidar com a ela, mas porque nos lembra de sermos mais dedicados à nossa prática espiritual.

Este plano pode ser ajustado de forma a se tornar mais útil, o que não significa ter de se tornar mais fácil. O treino para uma maratona não se faz com pequenas corridas. E mais uma vez, o propósito não é alimentar ideias mórbidas, mas sim valorizar a vida, nos ajudar a direcionar melhor a nossa vida e nos preparar para o momento final.

Aviso e dicas adicionais

AVISO IMPORTANTE: Se você tem algum problema a nível de saúde mental, ignore o treino descrito acima. Se para quem tem uma boa saúde mental pode ser um treino desafiante mas inócuo, para quem tem algum tipo de problema como depressão, entre outros, poderá não ser algo saudável. O Olhar Budista não se responsabiliza pelo mau uso destas informações. Em caso de dúvida procure um profissional de saúde mental e/ou um professor budista qualificado, só eles o(a) poderão aconselhar melhor.

As seguintes dicas não fazem parte da proposta de treino descritas no artigo do Buddhistdoor. A propósito, este post ainda que tenha como fonte o artigo referido, não é uma tradução, se você preferir consulte o artigo original. Vamos então às dicas:

  • Tenha uma boa ética, a conduta que nós temos durante a nossa vida vai ser importante no momento da morte.
  • Promova relacionamentos de qualidade, alguns estudos indicam que relacionamentos saudáveis facilitam uma “boa morte”.
  • Desenvolva a compaixão, bem querer, gratidão, alegria, e outras emoções positivas.
  • Beneficie os seres com a sua vida, tenha uma vida significativa.
  • Se você é budista, pratique! Siga o caminho óctuplo, desenvolva boas qualidades mentais, etc.

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