Budismo Geral

Bodhisattvas: seres de sabedoria

A palavra “bodhisatta”, em Páli, ou “bodhisattva”, em Sânscrito, é formada a partir do radical bodhi (despertar espiritual, conhecimento pleno, iluminação) e sattva (um ser). Um bodhisattva é, portanto, geralmente referido como um ser de sabedoria ou um ser em busca do despertar, mas o significado do termo tem algumas diferenças entre as escolas budistas.

No Theravada, o termo bodhisattva refere-se ao Siddhartha Gautama nas vidas anteriores e durante a própria vida antes de se tornar num Buda. No Cânone Páli o Buda afirma em diversas ocasiões que antes da sua iluminação era um bodhisattva, e na arte budista presente em algumas stupas antigas, Siddhartha Gautama é retratado como um bodhisattva que recebeu a confirmação por parte de Dipankara Buda (o anterior Buda) de que viria a se tornar num futuro Buda. De forma mais ampla, segundo a tradição Theravada, ou pelo menos parte dela, qualquer praticante que aspira a tornar-se num Buda já é considerado um bodhisattva. Conforme afirma Narada Mahathera: “Aquele que aspira a converter-se em Buda é chamado de Bodhisatta”.

No Budismo Mahayana, que inclui o Zen, Chan, Budismo Vajrayana (Tibetano), e outras escolas, o termo bodhisattva assumiu uma definição muito mais abrangente e tem uma forte ênfase na compaixão. Um bodhisattva consiste num praticante espiritual não satisfeito em alcançar apenas a própria liberação; ele faz votos (para esta ou até eventuais vidas futuras) de se continuar a aperfeiçoar até ser capaz de ajudar incontáveis seres no mesmo processo. Um bodhisattva chega mesmo a adiar a iluminação completa enquanto todos os seres não estejam libertos do samsara. Um bodhisattva deseja fortemente extinguir o sofrimento dos seres, e por isso, entende-se que um bodhisattva é um ser em busca do despertar; não apenas para si, mas para todos os outros! São portanto, praticantes no caminho para o despertar, praticantes que fizeram os votos de realizar as mesmas façanhas que o Buda para o benefício de todos. O ideal do bodhisattva é proeminente no budismo Mahayana.

Há um verso tradicional, entre vários, que se chama “Os Quatro Votos Universais” e corresponde às aspirações básicas de todos os bodhisattvas:

“Os seres sencientes são inumeráveis,
faço o voto de guiá-los à Liberação.

As aflições mentais são infinitas,
faço o voto de extingui-las por completo.

Os métodos do Dharma são ilimitados,
faço o voto de estudá-los e aprendê-los.

O Caminho de Buda é insuperável,
faço o voto de trilhá-lo até a realização.”

No Theravada ainda que não seja tão habitual, segundo o Ajahn Mudito, há mestres que também fizeram votos de bodhisattva (embora possam não ser exatamente os votos descritos nos versos acima), como o Ajahn Mun, entre vários outros.

Existem muitos tipos de bodhisattvas incluídos nesta definição, variando de pessoas comuns até ao que é chamado de bodhisattva celestial, que compreende um panteão de figuras do tipo divindade nas tradições Mahayana. Além disso um bodhisattva também pode ser visto como um arquétipo ou objeto devocional e tanto pode ter a forma masculina como feminina.

Um outro termo que também existe no Mahayana é o chamado de mahasattvas, ou bodhisattvas-mahasattvas. Mahasattva significa literalmente grande ser. Ou seja, são bodhisattvas de altíssimo nível, que já estão mesmo quase ao nível do Buda, muito próximos da realização última. Muitas representações de bodhisattvas são na verdade de bodhisattvas-mahasattvas. Tais representações nos fazem lembrar do exemplo e do legado daqueles grandes modelos que desejamos seguir.

Um bodhisattva ou bodhisattvas-mahasattvas, portanto, pode ter um grau de iluminação próximo ao do Buda, mas não tem a iluminação completa de um Buda. No Theravada um Arhat é alguém que tem o mesmo grau de iluminação de um Buda, é alguém que numa época onde existe um Buda, e seguindo os seus ensinamentos, atingiu a iluminação completa; já no Mahayana muitas vezes um arhat é visto como tendo uma realização menor que um grande bodhisattva. No Budismo Vajrayana há ainda um outro conceito para definir grandes seres, chamado de Mahasiddhas. De forma simplificada, mahasiddhas são seres que desenvolveram na perfeição poderes psíquicos e espirituais, ou seja, os siddhis. Os mahasiddhas são os fundadores das tradições e linhagens Vajrayana. A tradição Vajrayana costuma referir 84 mahasiddhas.

Como referido anteriormente, o panteão budista é composto por vários bodhisattvas ou bodhisattvas-mahasattva, estes são apenas alguns dos mais famosos:

  • Avalokiteshvara: o Bodhisattva da Grande Compaixão. Em chinês é conhecido como Guān yīn, em japonês como Kannon e em tibetano como Chenrezig. Ele é representado tanto na forma masculina como feminina. O Dalai Lama é visto pelos seus seguidores como uma manifestação de Avalokitesvara.
  • Manjusri: o Bodhisattva da Grande Sabedoria.
  • Ksitigarbha: o Bodhisattva dos Grandes Votos.
  • Samantabhadra: o Bodhisattva da Grande Conduta.
  • Mahasthamaprapta: o Bodhisattva do Grande Poder.
  • Vajrapani: o Bodhisattva da Proteção.
  • Vajrasattva: uma figura importante no budismo Vajrayana.
  • Tara*: personificação do ideal feminino na busca pela Iluminação, é especialmente conhecida e referenciada no budismo tibetano. Existem várias manifestações de tara conhecidas como: Tara verde, branca, vermelha, amarela, etc.
  • Bhaisajyaguru: é também conhecido como o Buda da Medicina.
  • Maitreya: o próximo Buda.

Para complementar esta leitura (links externos):

Referências: Wildmind, Tricycle, Wikipedia. | Imagem de Destaque: Estátua de madeira dourada do bodhisattva Avalokitesvara, da Dinastia Song chinesa (960-1279), presente no Museu de Shanghai. Créditos: Wikimedia (Mountain), editada com corte – CC BY-SA 3.0.

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Veja também:

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