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Jardim Zen, um local tranquilo e que favorece a contemplação

O Jardim de Pedras ou Jardim Seco, muitas vezes chamado de Jardim Zen e também conhecido pela palavra japonesa Karesansui (que significa “água seca da montanha”), é um estilo distinto de jardim japonês que se originou no Japão medieval.

Um jardim de pedras muitas vezes é uma secção de um jardim japonês, mas um jardim de pedras pode ser independente e um jardim japonês pode conter ou não um jardim de pedras.

Ele são um dos ícones culturais do Japão e uma personificação da filosofia e prática do Zen Budismo. Em vez de criar um ambiente de jardim através de plantas, os jardins zen geralmente evocam ideias de uma paisagem. Tipicamente num jardim de pedras é criado uma paisagem estilizada em miniatura por meio de arranjos cuidadosamente compostos de rochas, musgo, árvores e arbustos podados. Cascalho ou areia são dispostos de forma a representar ondulações de água. Eles costumam ser relativamente pequenos, cercados por uma parede ou prédios, e destinados a incorporarem serenidade e a inspirarem a reflexão. Geralmente eles devem poder ser observados na sua totalidade a partir de um único ponto de vista fora do jardim, como a varanda do templo, mas existem exceções, como o do Ryoan-ji em que a totalidade das 15 pedras não podem ser vistas a partir de um único local.

Um jardim zen tem uma relação direta e íntima com o seu jardineiro, ele é um reflexo da sua mente. Qualquer pessoa pode ter um karesansui independe do espaço disponível, pois é possível até fazer um jardim desses em miniatura.

Origens

Jardins de pedras existiam no Japão pelo menos desde o período Heian (794-1185). Esses primeiros jardins foram descritos no primeiro manual de jardins japoneses, Sakuteiki (“Registos de Manutenção de Jardins”), escrito no final do século XI por Tachibana no Toshitsuna (1028-1094). Eles adaptaram a filosofia do jardim chinês da Dinastia Song (960-1279), onde grupos de rochas simbolizavam o Monte Penglai. O Sakuteiki descreve exatamente como as rochas devem ser colocadas. Numa passagem é escrito que: “Num lugar onde não há um lago nem um riacho, pode-se colocar o que se chama de kare-sansui, ou paisagem seca.” O manual apresenta vários estilos de jardins.

Jardins projetados para estimular a meditação

No período Muromachi (1336-1573) no Japão, que ocorreu aproximadamente ao mesmo tempo que o Renascimento na Europa, existiu um grande florescimento da cultura japonesa. Nesse período surgiu a cerimónia do chá, novos estilos arquitetónicos e diversas artes. Foi também nesse período que surgiram os jardins de pedra mais próximos dos que conhecemos hoje.

Os jardins dos primeiros templos zen no Japão lembravam os jardins chineses da época, com lagos e ilhas. Mas em Kyoto nos séculos 14 e 15, um novo tipo de jardim apareceu nos importantes templos zen. Esses jardins zen foram projetados para estimular a meditação. “A natureza, se você a tornasse expressiva, reduzindo-a às suas formas abstratas, poderia transmitir os pensamentos mais profundos pela sua simples presença”, escreveu Michel Baridon. “As composições de pedra, já comuns na China, tornaram-se no Japão verdadeiras paisagens petrificadas que pareciam suspensas no tempo, como em certos momentos do teatro Nô, que data do mesmo período.”

O primeiro jardim a iniciar a transição para o novo estilo é considerado por muitos especialistas como o de Saihō-ji, “O Templo dos Perfumes do Oeste”. O mestre zen Musō Kokushi foi o responsável por transformar o templo num mosteiro e pela criação dos jardins em 1334. Outro jardim construído por Muso Kokushi fica no templo Tenryū-ji, o “Templo do Dragão Celestial”. Esse jardim parece ter sido fortemente influenciado pela pintura de paisagem chinesa da Dinastia Song , que apresenta montanhas que se erguem na neblina. Os jardins de Ginkaku-ji, conhecido como Pavilhão de Prata, também são atribuídos a Muso Kokushi. O mais famoso de todos os jardins zen é o Ryōan-ji, também situado em Kyoto e construído no final do século XV, onde pela primeira vez o jardim zen se tornou puramente abstrato.

A invenção do jardim de pedra estava intimamente ligada ao desenvolvimento das pinturas de paisagens. Pintores japoneses como Sesshū Tōyō (1420–1506) e Soami (falecido em 1525) simplificaram muito as suas visões da natureza, mostrando apenas os aspetos mais essenciais e deixando grandes áreas de branco ao redor dos desenhos em preto e cinza. Diz-se que Soami esteve pessoalmente envolvido no projeto de dois dos mais famosos jardins zen de Kyoto, Ryōan-ji e Daisen-in, embora o seu envolvimento nunca tenha sido documentado.

Michel Baridon escreveu que: “Os famosos jardins zen do período Muromachi mostraram que o Japão havia levado a arte dos jardins ao mais alto grau de refinamento intelectual que era possível alcançar”. Os jardins zen pretendiam imitar a essência da natureza, não a sua aparência real, e servir como auxílio para a meditação.

O jardins de pedra se expandiram para fora dos templos e mosteiros e podem ser encontrados por todo o Japão, tais como em residências, bibliotecas, escritórios e escolas, No século passado também surgiram em muitos países pelo mundo fora.

Os Jardins de Pedra e a Arte Zen

O que primeiro notamos na arte zen é sua notável austeridade e simplicidade. Historiadores de arte japoneses sugeriram que o jardim zen é uma tentativa de transformar a pintura monocromática numa forma tridimensional. A arte zen também é caracterizada, se não definida, por um conjunto de valores estéticos que os artistas procuram expressar nas suas obras, sejam elas pinturas, jardins, cerâmicas ou arquitetura. Eles são, resumidamente:

  • Wabi, uma sensação de impermanência ou decadência provocada pela passagem do tempo;
  • Sabi, uma sensação agridoce de tristeza ou desamparo;
  • Shibui, uma forte sensação de simplicidade sem adornos;
  • Yugen, uma misteriosa sensação de beleza oculta ou sugerida.

Os jardins zen têm um status de obra de arte e provavelmente exibirão um ou mais dos valores descritos acima. Além disso eles também são estruturados em torno dos seguintes sete princípios da estéticos:

  • Simplicidade (Kanso)
  • Assimetria ou irregularidade (Fukinsei)
  • Simplicidade elegante, beleza por ser discreto (Shibui/Shibumi)
  • Naturalidade (Shinzen)
  • Mistério, sutileza e profundidade (Yugen)
  • Não Convencional (Datsuzoku)
  • Tranquilidade (Seijaku)

Elementos básicos

Elementos individuais têm um significado simbólico profundo. Areia ou cascalho misturados em padrões representam a água, enquanto rochas maiores sugerem ilhas, montanhas, animais ou elementos naturais como o fogo e a terra. A areia branca pode representar a pureza e os padrões de água a quietude. Um jardim zen deve proporcionar tranquilidade e beleza estética. Estes são alguns dos elementos primários de um jardim tradicional:

  • Rochas: são um dos componentes mais importantes e o seu posicionamento é crucial. Elas raramente são dispostas de forma simétrica ou em linhas retas. No final do período Edo um novo princípio foi inventado: o uso de suteishi, rochas “descartadas” que são colocadas em lugares aparentemente aleatórios para adicionar espontaneidade ao jardim.
  • Cascalho ou areia: o cascalho é parte integrante dos jardins zen. A formação de padrões com o ancinho serve como prática meditativa.
  • Representação de água: A rocha e a água geralmente estão sempre presentes nos jardins japoneses, sendo que no caso dos jardins de pedra, a água é representada através dos padrões feitos no cascalho.
  • Plantas: os jardins zen geralmente não têm muitas plantas. Os tipos de plantas costumam ser baixas e rastejantes, elas servem para complementar em vez de subcarregar. Musgos, arbustos, bambus e bonsais são das mais utilizadas. Criar e manter um bonsai segue alguns dos princípios vistos acima, como o wabi-sabi, e é também um forma de meditação.
  • Caminho e/ou ponte: um caminho pode levar os visitantes ao jardim ou ser colocado através da área de cascalho para facilitar a manutenção ou conduzir a experiência através do espaço, por exemplo conduzir o olhar do visitante para determinado ponto. Os materiais do caminho devem contrastar com os restantes elementos.
  • Outros elementos: cercas, assentos, estátuas, e lanternas de pedra (tōrō).

Esses são alguns dos elementos que um jardim zen pode conter, mas ele pode ser tão simples quanto uma pedra num quadrado de areia. E embora os jardins zen autênticos tenham poucas plantas e nenhuma fonte de água (que é apenas um elemento importante do Jardim Tradicional Japonês ou nihon teien), existem muitas variações no design, onde a água e as plantas podem desempenhar um papel mais proeminente. Muitas pessoas para montarem os seus jardins se inspiram em alguns destes conceitos e adicionam outros, construindo assim jardins bastante diversos que embora não sejam propriamente um Jardim Zen clássico puro, fica com algumas semelhanças e características.

Referências: Wikpedia I, II; Asian Studies; National Geographic.

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