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Estudo e Prática andam juntos

No budismo o anti-intelectualismo é algo a ser seguido? Essa é uma mentalidade que por vezes está presente mas que deve ser definitivamente renunciada. Um analfabeto pode atingir o despertar, enquanto que ficar só no intelectualismo não deixa alguém mais próximo do despertar, porém isso não significa que a postura anti-intelectual, não refletir sobre o Dharma, garanta alguma coisa. O intelectualismo não é em si a fonte do despertar mas é um veículo hábil para nos levar a um real entendimento de como devemos praticar.

Até mesmo no Zen, em que se enfatiza “não depender das escrituras” e onde os livros têm uma importância secundária (na realidade todas as escolas são assim mas no Zen há muito essa ênfase), na formação monástica são vários volumes de livros e sutras que têm de ser estudados. O Zen talvez seja das tradições budistas que mais produziu livros e o Dogen, fundador da Soto Zen, estudou os sutras mais antigos e os mais recentes e escreveu durante toda a sua vida. “Sem depender das escrituras é diferente de sem usar as escrituras”, salienta a Monja Isshin na palestra Sutras no Zen.

O Monge Joaquim Monteiro, na Aula 01 do curso “História do Budismo Indiano”, critica duramente o anti-intelectualismo no budismo.

Segue-se a transcrição de um pequeno trecho (a partir do minuto 39) da aula dada pelo Monge Joaquim:

“[…] Quem me conhece sabe que a respeito das coisas que eu preciso ser duro, invariavelmente eu sou duro. […] Existe uma mentalidade, não só no Brasil, nos Estados Unidos e Europa isso também é visível, que precisa ser rapidamente superada: é aquela coisa folclórica de dizer que ‘budismo não é pensamento; estudar atrapalha; estudar é contra o Caminho; budismo é uma coisa que você acessa através da meditação; é outra coisa, é outro mundo’. Bom, eu posso dizer conclusivamente que isso é bobagem! Ou seja, se vocês forem analisar minimamente a tremenda tradição intelectual do budismo, ela é desde antes [desde os primórdios]. Essa própria atividade de ‘Ouvir o Dharma’, ‘Refletir sobre o Dharma’, ‘Pensar sobre o Dharma’, é absolutamente indispensável para que nós possamos nos estabelecer no Caminho.

Então, essa mentalidade de que ‘não precisa pensar e de que estudar é ruim, ou seja, isso é uma coisa que lá pelos anos 60 o pessoal chamava de ‘anti-intelectualismo’. Vocês vão me desculpar se eu estou sendo duro, mas esse ‘anti-intelectualismo’ é que tem que ser jogado na lata do lixo! Dizer que estudar atrapalha é uma expressão de uma ignorância tão abissal sobre o que é o pensamento budista que eu gostaria de dizer que é o ‘anti-intelectualismo’ que atrapalha! Nós temos que renunciar definitivamente a essa postura ‘anti-intelectualista’ e ‘obscurantista’.

Eu não estou querendo dizer com isso que vocês não devam meditar, não devem praticar, ou inclusive não devam meditar muito; vocês tem que praticar ao máximo que vocês puderem. Vocês têm que meditar e fazer as práticas todas ao máximo.

Mas o grande problema é que essas práticas só têm plena efetividade quando elas são baseadas sobre uma compreensão. E isso é o ponto que a gente tem que clarificar. Nós não podemos dar mais margem a esse ‘obscurantismo’ de achar que se você ficar parado sentado ‘sem pensar’ é Budismo e é iluminação. Isso é a coisa mais fácil de derrubar que existe! […]”

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