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Descoberto no Paquistão um dos templos budistas mais antigos

Um antigo templo que data dos primeiros séculos do budismo foi desenterrado no vale do Swat, no norte do Paquistão. Essa área faz parte da antiga região de Gandhara que foi conquistada por Alexandre, o Grande, e que deu origem à arte greco-budista. A descoberta deveu-se à missão italiana liderada pelo professor Luca Maria Olivieri da Universidade Ca’ Foscari de Veneza (Departamento de Estudos Asiáticos e do Norte da África).

Os arqueólogos pensam que o templo data de meados do século II aC, embora possa ser ainda mais antigo e datar do período Maurya (século III aC). Só a datação por carbono-14 poderá fornecer evidências mais precisas sobre a data das estruturas, mas este é claramente um dos primeiros monumentos budistas da antiga região de Gandhara. Isso significa que as pessoas terão construído o complexo algumas centenas de anos após a morte do fundador do budismo, Siddhartha Gautama, que viveu no que hoje é o norte da Índia e o Nepal entre cerca de 563 aC e 483 aC.

O complexo de cerca de 1800 anos situado perto da cidade de Barikot, na região de Swat, foi vandalizado ao longo dos séculos. A descoberta aconteceu em dezembro de 2021 e durante as escavações foram movimentados mais de 10.000 litros de solo. O templo tem mais de 3 metros de altura e consiste numa plataforma cerimonial encimada por uma estrutura cilíndrica que abrigava um monumento budista cónico ou em forma de cúpula chamado de stupa. O complexo do templo, que foi construído e reconstruído várias vezes, também incluía uma stupa menor, uma cela ou sala para monges, uma escada, o pódio de um pilar ou coluna monumental, vestíbulos e um pátio público que dava para uma antiga estrada. Junto com a antiga stupa – descrita como uma das maiores e mais antigas da região – também foi anunciado a descoberta de mais de 2000 antiguidades budistas, que incluem uma variedade de esculturas, cerâmicas, inscrições, joias moedas e selos, sugerindo que a área era o local de uma cidade multicultural há milhares de anos.

O diretor do Departamento de Arqueologia e Museus, Dr. Abdul Samad Khan, disse que esta “é uma descoberta significativa em muitos aspetos, especialmente em relação à harmonia religiosa, tolerância e multiculturalismo no período Gandhara.”

“O Paquistão é abençoado por uma rica herança cultural e é conhecido como o berço da civilização”, disse o Dr. Khan. “Todo o país, de Khyber Pakhtunkhwa a Punjab, Sindh e Baluchistão, está cheio de tesouros arqueológicos que permanecem ocultos e não descobertos. Apenas cerca de cinco por cento dos locais na província de Khyber Pakhtunkhwa foram explorados cientificamente.”

O budismo desempenhou um papel significativo na formação da história e da cultura do que é hoje o Paquistão e o Afeganistão, florescendo nos reinos que ficam nos itinerários comerciais da Rota da Seda com a Ásia Central. As conquistas do imperador Maurya Ashoka e a cultura greco-budista subsequente que floresceu sob o reino de Gandhara que emergiu no que é hoje o noroeste do Paquistão e o leste do Afeganistão por volta de 800 aC a 500 dC, viu o budismo estabelecer raízes profundas que duraram mais de 12 séculos. Uma riqueza de antigas stupas budistas, mosteiros, imagens de Buda e outros artefactos atestam essa herança antiga e profundamente enraizada. As expansões territoriais da Ashoka, juntamente com as influências gregas em meados do século IV aC, levaram a um caldeirão cultural único que fez surgir a primeira estátua budista em Gandhara, considerada por muitos como o auge da arte budista.

Referências: Ca’ Foscari University of Venice, Live Science, Buddhistdoor. | Créditos da imagem de destaque: Missão arqueológica italiana no Paquistão – ISMEO/UNIVERSITA’ CA’ FOSCARI VENEZIA; permissão para a publicação concedida ao Olhar Budista pelos detentores dos direitos.

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