História e Arqueologia

Sabia que: O rei grego Milinda foi um dos primeiros ocidentais a se tornar budista?

O Ocidente teve contacto com o budismo logo nos seus primórdios. Antes, durante e a pós o reinado de Menandro I, Gregos e Budistas exerceram influência mutua.

Menandro I (conhecido como Milinda em pali), foi um dos governantes do Reino Indo-Grego, no noroeste do subcontinente indiano, de 165 ou 155 a 130 AEC. Ele é, historicamente, um dos primeiros ocidentais documentados a ter-se convertido ao budismo.

Menandro nasceu numa família grega numa aldeia chamada Kalasi, adjacente a Alexandria do Cáucaso (atual Bagram, Afeganistão), embora outra fonte diga que ele nasceu perto de Sagala (a moderna Sialkot no Punjab, Paquistão).

Os seus territórios cobriam a Bactria (atualmente o norte do Afeganistão e Paquistão) e estendiam-se à Índia. Um grande número de moedas de Menandro foram desenterradas, atestando o comércio florescente e a duração do seu reinado. Ele é um dos poucos reis bactrianos mencionados por autores gregos, entre eles Apolodoro de Artêmita, citado por Estrabão, que alega que os gregos de Báctria foram conquistadores ainda maiores que Alexandre o Grande, e que Menandro foi um dos dois reis bactrianos, o outro sendo Demétrio, que mais estenderam o seu poder na Índia

Menandro também foi patrono do budismo, e as suas conversas com o monge e sábio budista Nagasena estão registadas na importante obra budista Milinda Panha (“As Perguntas do Rei Milinda”). Essa obra faz parte do Cânone Pali da versão birmanesa, em outras versões essa obra não faz parte do cânone, mas ainda assim é-lhe atribuída importância.

De acordo com uma fonte indiana antiga, o Mahavamsa, monges gregos parecem ter sido divulgadores ativos do budismo durante o tempo de Menandro. Mahadhammarakkhita, um mestre budista grego, é dito ter vindo de “Alasandra” (que pensa-se ser Alexandria do Cáucaso), a cidade fundada por Alexandre o Grande, perto do Cabul de hoje) com 30000 monges para a cerimónia de fundação do Maha Thupa (“Grande stupa”) em Anuradhapura, no Sri Lanka, durante o século II AEC. Esses elementos mostram a importância do budismo nas comunidades gregas do subcontinente indiano, e o papel proeminente que tinham os monges budistas gregos, provavelmente sob o patrocínio de Menandro.

Gregos e Budistas exerceram influência mutua

É interessante notar que o budismo apesar de muitas vezes ser chamada de uma religião ou filosofia do Oriente, tem uma grande história no Ocidente, que começou logo nos seus primórdios, ainda antes de se ter espalhado por grande parte dos países orientais. As interações com o Ocidente resultaram numa obra que faz parte do Cânone Budista Pali (Tipitaka), o Milinda Panha. O budismo recebeu influência da arte grega, por exemplo a estatuaria de Buda, um dos símbolos mais conhecidos do budismo e que está presente em todas as tradições budistas dos diversos países, é uma influência grega.

Por outro lado, o budismo também exerceu influência. Após o reinado de Menandro I, Strato I e vários governantes indo-gregos subsequentes, como Amintas, Nicias, Peukolaos, Hermaeus e Hippostratos, se retrataram a si próprios ou às suas divindades gregas, como Zeus, fazendo com a mão direita um gesto simbólico idêntico ao mudra budista vitarka (polegar e indicador unidos, com os outros dedos estendidos), que no budismo significa a transmissão dos ensinamentos do Buda.

Em cima: Tique e Zeus (divindades gregas). Em baixo: Nicias e Menander II (reis gregos). Na representação estão fazendo o Mudra Vitarka. | Créditos: domínio público.

Após a morte de Menandro I, os governantes indo-gregos Strato I, Zoilos I, Heliokles II, Theophilos, Peukolaos e Archebios, também começaram a adotar nas suas moedas o título Pali “Dharmikasa”, que significa “seguidor do Dharma“. A conversão de Menandro ao budismo parece ter desencadeado o uso da simbologia budista de uma forma ou de outra nas moedas de quase metade dos reis que o sucederam. Especialmente, todos os reis depois de Menandro que governaram em Gandhara (excepto o pouco conhecido Demetrius III).

Também na filosofia grega existem pontualmente influencias budistas, nomeadamente no Pirronismo, fundado por Pirro de Élis, e ainda antes da época de Menandro I.

Referências: Enciclopédia Britânica, Wikipédia I, II.
Créditos da imagem de destaque: representação do encontro entre Milinda e Nagasena, domínio publico.

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