Ambiente e Natureza

Não conscientes da interdependência, estamos a destruir o meio ambiente, a comer e respirar plástico

“Todas as ações têm consequências, todos os fenómenos têm a sua causalidade. Há causas que propiciam resultados benéficos e há causas que propiciam resultados não benéficos. Devemos por isso, saber escolher as causas que nos levam numa direção benéfica e evitar as causas que nos levam numa direção não benéfica. A crise ecológica que nós vivemos atualmente é o resultado das nossas ações. As nossas ações estão a promover a extinção de espécies e muitos dos problemas ambientais existentes.”*

Os ensinamentos budistas nos alertam para as consequências das nossas ações, nos ensinam de que tudo o que existe é interdependente, mas nós não vivemos com base nestes princípios, e as consequências ecológicas se fazem notar cada vez mais.

Descartar por exemplo um saco de plástico em qualquer lado não é uma ação inócua, vai ter consequências para o ambiente, para os animais e para nós.

O mar e os rios estão poluídos de plástico, os animais morrem aos milhões por comerem plástico, restos de plásticos vão-se transformando em microplásticos e circular pelo ar, muitos animais e plantas já têm microplásticos no interior, e nós… nós vamos literalmente respirando e comendo os plásticos que utilizamos e descartamos de forma incorreta.

Cada pessoa ingere por semana cerca de 5 gramas de microplásticos, é o equivalente a 1 cartão de débito/crédito por semana, por ano equivale a 52 cartões ou duas latas de conserva. Consequências? Cancro, infertilidade e muitas outras doenças.

A jornalista da TVI, Catarina Canelas, numa excelente serie de reportagens filmadas em 4 continentes, mostra-nos a gravidade desta situação. Uma serie de reportagens que todos deveríamos ver para termos mais consciência das consequências das nossas ações e da forma como consumimos.

Plástico: o novo continente

Trailer: Link

Episódio 1: A morte dos gigantes dos mares
Episódio 2: Porque os animais comem plástico?
Episódio 3: Do rio para o mar
Episódio 4: Comemos plástico
Episódio 5: O nosso lixo plástico é global
Episódio 6: A ilha deserta das tartarugas
Episódio 7: Noruega, líder na reciclagem

Veja neste link as reportagens na integra (TVI 24)

A pandemia que estamos a viver veio agravar ainda mais a situação, agora são milhões de pessoas a utilizarem máscaras. Onde é que muitas delas vão parar? Pois é… ao mar! Consequências? Mais mortes…

No dia 9 deste mês um pinguim foi encontrado morto na Praia de Juquehy, em São Sebastião/SP, Brasil. A necropsia do Instituto Argonauta revela uma máscara embrulhada no estômago do animal.

E no dia de ontem mais uma dramática notícia. Na Ilha da Tasmania, na Australia, quase 300 baleias-piloto naufragaram num banco de areia e estão a morrer. Os cientistas tentam salvar os animais que podem e ainda não sabem o motivo de mais um trágico acontecimento.

Atualização: notícias mais recentes referem cerca de 470 baleias encalhadas, sendo que 380 já morreram.

Muitas vezes os ecologistas são apelidados de ecochatos, e há décadas que os cientistas nos têm alertado para os impactos que o nosso comportamento está a causar no meio ambiente e que há muito que precisa de ser mudado, mas pouco se tem feito até agora – e os resultados estão cada vez mais visíveis e nós já começamos a sentir o seu impacto, tais como grandes incêndios, tempestades, inundações e subida do nível do mar, problemas esses devido às alterações climáticas; assim como a ingestão de plástico como mostra este artigo; entre outros.

Felizmente, parece que finalmente as pessoas começam a olhar mais seriamente para esta problemática. Alguns governos começam a implementar mais leis protetoras do ambiente e a investirem mais em tecnologias amigas do ambiente, a população no geral também começa a ter uma maior consciência ecológica. Na União Europeia e nomeadamente em Portugal o plástico descartável está a ser abolido, a reciclagem é cada vez mais incentivada e cada vez se fala mais em energias renováveis. Portugal foi o primeiro país no mundo a afirmar o compromisso da neutralidade carbónica e tem sido dos que tem avançado mais nessa área. A Europa tem estado na linha da frente, mas tanto na Europa como em termos globais, ainda há muito que tem de ser feito, sendo que o tempo é cada vez mais curto, mesmo que hoje todos os países se tornassem utopicamente 100% ecológicos, consequências ecológicas ainda vão surgir. Quanto mais tarde começarmos a reduzir a nossa pegada ecológica mais devastador será o cenário.

Os problemas ecológicos não são fáceis de resolver, o mundo é complexo, não se pode simplesmente parar toda a economia mundial – que contribui para uma grande fatia dos problemas – e consequentemente mandar milhões de pessoas para o desemprego, gerar muitos outros problemas e com isso causar grandes sofrimentos. Não é algo simples, mas há muito que precisa de ser feito, e muitas das coisas dependem apenas de nós, do nosso comportamento. Não podemos esperar que sejam só os governos a fazer alguma coisa enquanto nós não fazemos nada.

Seja consciente, não descarte o lixo em qualquer lado, use os contentores apropriados e recicle! Consuma com consciência!

Atualização (07/2022): Entre 27 de junho a 1 de julho de 2022, Lisboa acolheu e organizou juntamente com a Quénia a Conferencia dos Oceanos da ONU, que foi uma das maiores e mais importantes conferências sobre este tema. A conferencia terminou com a aprovação da “Declaração de Lisboa”. O texto inclui o diagnóstico da situação ambiental atual e compromissos para os os estados-membros da ONU. Espera-se que seja um ponto de viragem.

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1 comment

  1. Já que a espécie humana tem sido irresponsável, desleixada, teimosa, inconsequente e insensata, destruindo a Casa Planetária de todos nós e das gerações futuras, ao invés de reciclar o plástico e despoluir a Natureza, um trabalho de “enxugar gelo”, que tem se mostrado improfícuo e contraproducente, impedir que o plástico homicida fosse fabricado, parece a melhor opção. Zerando a produção na fonte, aos poucos ele desapareceria dos mares e das florestas, substituído por materiais bio degradáveis ou nenhum. Conscientizar pessoas para isto ou aquilo, não está produzindo os resultados “pra ontem”, já que, se a maioria “tá nem aí” para o lixo da própria casa, muito menos para o descarte indevido no latão planetário, que já não suporta mais tanto descaso, indiferença e omissão.

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