Budismo Geral Theravada

6 Grandes Virtudes (ou qualidades) do Dhamma (ou Dharma)

Assim como cada gota de água do oceano tem apenas um sabor, o sabor do sal, em qualquer momento o Dhamma tem apenas um único sabor, o sabor da felicidade Nibbanica.

Tradução do texto original “Great Virtues of the Dhamma”, de K. Sri Dhammananda.

O ensinamento do Buda é geralmente chamado de Dhamma ou Dharma. Não é uma revelação nem uma especulação lendária com um toque teológico. É a Verdade que prevalece no Universo, e uma descoberta única de um grande professor religioso e iluminado. Porém, Budismo é o termo moderno usado para o Dhamma e nomeado após o seu descobridor. Gautama, o Buda, percebeu a Verdade e a proclamou ao mundo. Não há dúvida de que é difícil para as pessoas comuns compreendê-la adequadamente, uma vez que as suas mentes são invariavelmente nubladas pela ilusão.

Existem muitas virtudes do Dhamma que o tornam sublime e perfeito no mais alto significado do termo. No entanto, existem três aspetos do Dhamma que devem ser observados. O primeiro aspeto é a teoria que deve ser aprendida na sua prístina pureza. O segundo aspeto é a aplicação e a prática sincera dos preceitos e de viver de acordo com os ensinamentos do Buda, abstendo-se de todo mal, fazendo o bem e purificando a mente. O terceiro aspeto é desenvolver a sabedoria e atingir a plena compreensão da realidade de todos os fenómenos.

Entre as muitas virtudes do Dhamma, há seis características destacadas e mencionadas nos textos de maior autoridade. Essas virtudes particulares do Dhamma são cantadas pelos budistas durante as suas observâncias devocionais diárias. O verso popular em Pali que expõe essas virtudes do Dhamma é o seguinte:

“Swakkhato Bhagavata Dhammo, Sanditthiko, Akaliko, Ehipassiko, Opanayiko, Paccattam Veditabbo Vinnuhi Ti”.

Cântico em Pali.

Uma descrição e explicação detalhada dessas seis características destacadas são fornecidas aqui:

1. Swakkhato Bhagavata Dhammo

Este termo significa que o Dhamma foi descoberto e bem proclamado pelo Abençoado. É considerada a virtude comum a todos os três aspetos do Ensinamento, nomeadamente, a teoria, a prática sincera e a plena realização; enquanto que o restante dos termos está conectado ao supramundano (Lokuttarra), que consiste nos oito estágios da santidade e do Nibbana – considerado como o Summum Bonum [*] do Budismo.

O Dhamma foi bem exposto pelo Mestre. É excelente no começo, excelente no meio e excelente no final. Não possui contradições e interpolações e não se desvia do seu caminho reto. Assim como cada gota de água do oceano tem apenas um sabor, o sabor do sal, em qualquer momento o Dhamma tem apenas um único sabor, o sabor da felicidade Nibbanica. O Dhamma é genuíno em teor e espírito. O quesito do Dhamma começa com Sila, que é equiparado à conduta correta, na qual se baseia “Samadhi”, uma sensação de tranquilidade da mente. Panna ou sabedoria segue logo após o “Samadhi” estar firmemente estabelecido.

A aquisição de conhecimento em Dhamma deve começar com o estudo do Dhamma, ouvindo professores instruídos explicando as suas complexidades e entendendo os métodos corretos para a sua aplicação prática. Através da prática constante, devemos ser capazes de suprimir as impurezas mentais, o que resulta numa mente serena, calma e feliz. A conquista de tal estado mental abrirá o caminho para a aquisição do conhecimento superior, chamado insight ou “Vipassana”. Esse conhecimento de insight, quando desenvolvido de forma constante, seria o coroamento de uma brilhante conquista que pode ocorrer mesmo durante esta vida.

A explicação do Buda sobre a existência e o mundo constitui a última palavra no pensamento humano. Baseando as suas descobertas no entendimento racional, bem à parte das tradições e lendas da época, o Buda mergulhou profundamente no núcleo do Dhamma e emergiu com a descoberta das realidades subjacentes a toda a existência fenoménica. Sem ser ditatorial ou monopolista, proclamou o Dhamma – um ensinamento que suplantou todos os outros ensinamentos.

O Dhamma não deve lealdade a qualquer chamado poder supremo, mas foi introduzido pelo Buda numa base individual, isto é, de homem para homem, permitindo liberdade ao indivíduo em questão para avaliar e pensar por si próprio os meios para alcançar a sua própria salvação, sem buscar qualquer ajuda externa. O Dhamma é universal e é de interesse vital para a humanidade, em qualquer parte do mundo e a qualquer momento.

Significativamente, Ele deu a sua própria interpretação racional e científica a todos os termos filosóficos antes de serem usados no seu ensinamento do Dhamma. Por exemplo, Kamma, que antes do Buda apenas denotava ação, foi atribuído um novo significado, volição por trás da ação.

O nobre Dhamma denunciou consistentemente a injustiça social, como o rígido sistema de castas, a escravidão humana e o baixo status discriminatório concedido às mulheres. O Buda nunca foi um ditador, mas um Professor de democracia espiritual.

Começando com o Tisarana (três refúgios) e culminando com a obtenção da felicidade nibbanica, um seguidor do Buda se encontra extremamente seguro sob a orientação e proteção do Dhamma que foi bem proclamado – Svakkhato.

2. Sanditthiko

Sanditthiko transmite o significado de que, se o Dhamma for bem estudado e colocado em prática de forma sincera, os seus resultados benéficos serão visíveis no aqui e agora. Por exemplo, até mesmo um homem mau, que por acaso seja uma verdadeira maldição para si e para a sociedade, se refugie no Buda e no Dhamma e inicie uma nova vida, todos os seus problemas e misérias chegarão ao fim. Como mostra a vida do imperador Asoka; depois de abraçar o budismo, ele foi transformado de um governante perverso conhecido como Candasoka, num justo, Dhammasoka.

3. Akaliko

Akaliko implica que os efeitos benéficos derivados da prática do Dhamma são sem demora. O Dhamma, apesar do período de tempo decorrido desde seu pronunciamento, permanece sempre novo e inquestionável. Corre em paralelo até mesmo com o mais recente pensamento científico. Se houver verdade, essa verdade nunca poderá envelhecer. Dhamma é aquela verdade que não envelhece com a idade, pois retrata a realidade subjacente a toda existência fenoménica no Samsara. Sucintamente, o Dhamma afirma que o mundo é insatisfatório e que a ganância é a causa inevitável desse estado de coisas. O remédio para essa insatisfação é a erradicação da ganância a ser alcançada através da prática de oito fatores hábeis, conhecidos como o Nobre Caminho Óctuplo.

4. Ehipassiko

Ehipassiko constitui um convite aberto a todos para que venham ver, inspecionar, examinar e, se necessário, até criticar o Dhamma antes de aceitá-lo, porque não há nada mítico ou misterioso sobre ele. O Dhamma é puro e cristalino. É tão puro quanto o ouro maciço. O próprio Buda declarou: “Não aceite o que digo por mero respeito por mim. Assim como a pureza do ouro é verificada derretendo ou esfregando o ouro numa pedra-de-toque, o Dhamma também deve ser aceite somente após um exame minucioso.” Essa afirmação destemida de permitir que o ensinamento seja examinado de perto, marca a grandeza do Buda e a verdade inabalável do sublime Dhamma.

5. Opanayiko

Opanayiko significa que todos os seguidores sinceros do Dhamma trilham o caminho que leva à eterna paz e felicidade. O Dhamma afirma que existem quatro estágios de uma santidade e fruição, que vale a pena alcançar através do desenvolvimento gradual. O Dhamma leva os seus seguidores de um estágio para o outro até que se encontrem totalmente liberados de todos os laços e grilhões da existência.

6. Paccattam Veditabbo Vinuhi Ti

Esta frase “paccattam Veditabbo Vinnuhi Ti” implica que o Dhamma é para ser compreendido individualmente pelos sábios. Ninguém pode absorver o Dhamma em nome de outra pessoa, assim como ninguém pode saciar a sede de outra pessoa tomando uma bebida. Pode-se observar que há dois aspetos significativos nesse termo: primeiro, a realização da iluminação é de caráter individualista e, segundo, o Dhamma só pode ser compreendido pelos sábios.

O Buda não é um salvador, mas um instrutor – um Professor que mostrou o caminho para que os outros possam seguir. Cabe ao indivíduo em questão observar Sila, conduta e prática correta, Samadhi, concentração correta e, posteriormente, tentar desenvolver Panna, a sabedoria intuitiva que permite ao indivíduo trabalhar pela sua própria emancipação através dos seus próprios esforços.

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