Zen/Chan

O Zen não é um perfume

"Você sabe o que a palavra Zen significa? Os funcionários da sua agência de publicidade já procuraram num dicionário budista?" - Jan Chozen Bays

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A palavra Zen se popularizou e virou um rótulo para todo o tipo de produto.

Jan Chozen Bays, co-abade do mosteiro Zen Great Vow, em Clatskanie, EUA, em 2002 escreveu uma carta aberta para fornecedores de produtos comerciais com o rótulo “Zen”. As suas palavras foram publicadas na revista Buddhadharma: The Practitioner’s Quarterly e no site Lion’s Roar.

Diz Jan Chozen que como praticante Zen há mais de 30 anos deveria dominar melhor a sua irritação, mas a maneira como o rótulo “Zen” está estampado em qualquer coisa a deixa mal humorada.

O objetivo da prática Zen não é vender nada, o Zen não é o nome para um produto. A iluminação não é algo para ser comprada. É um processo, um trabalho ao longo da vida, um trabalho muito duro e muito gratificante.

Jan Chozen faz um apelo para que todos aqueles que colocam o rótulo “Zen” em garrafas, letreiros, sites, etc, para pensarem se realmente o merecem usá-lo.

“Você sabe o que a palavra Zen significa? Os funcionários da sua agência de publicidade já procuraram num dicionário budista?”, questiona Chozen Bays.

Significa samadhi, um estado mental profundamente puro e silencioso, adquirido – não, não adquirido! descoberto – através da meditação profunda. Provavelmente não adquirido através da compra do seu produto.

Chozen diz que no seu mosteiro Zen têm uma empresa chamada ZenWorks porque sabem por experiência própria que a palavra Zen funciona, mas também escolheram o nome porque os produtos que disponibilizam, como almofadas e bancos de meditação, facilitam o trabalho e a prática do Zen.

“O nome Zen realmente se aplica ao que você está tentando vender ou como vende?” Questiona Jan Chozen Bays. “Você está ajudando as pessoas a viverem uma vida de menos sofrimento e mais felicidade através da prática contínua da meditação, virtude e discernimento?”

Pense por um momento, pede Jan. “Faria sentido escolher nomes como Computador Católico, Banho de Espuma Batista ou Cerveja Luterana? Você nomearia um livro de Jesus e a Arte de Vender Jóias, ou Metodismo e a Arte de Fazer Muffins? É desrespeitoso usar um nome que você não conquistou.”

O Zen na Praça do Mercado

O livro Zen en la Plaza del Mercado, de Dokushô Villalba, oferece uma introdução à história e prática da meditação Zen.

O Zen, que chegou ao ocidente na segunda metade do século XX, no princípio foi apreciado por uma minoria de intelectuais e artistas, mas progressivamente se tornou cada vez mais popular. Mas o que é realmente o Zen? O Budismo Zen é uma tradição do despertar existencial que remonta ao Buda Shakyamuni, afirma Dokushô. A prática central é a meditação zazen.

O Zen não é uma resposta espiritual para um mundo materialista, mas uma forma de vida que transcende, unificado espírito e matéria. É uma resposta poderosa que nos põe em contacto com a nossa intimidade mais profunda e nos ajuda a nos compreendermos e nos desenvolvermos num contexto social dominado pela nova religião, a religião do Deus-Mercado.

Na sociedade atual tudo está mercantilizado, a vida humana e os seus valores não são mais que um produto de mercado, e mesmo o Zen corre o risco de se tornar em mais um produto de mercado, como algumas formas modernas de mindfulness.

Na visão de Dokushô, com a época do Renascimento, mais tarde com a Revolução Industrial, e posteriormente com o surgimento da Industria do Bem-estar a partir dos anos 60 e 70, no Ocidente a religião deixou de ser praticada de forma massiva, perdeu preponderância. Mas este desencantamento atraiu uma nova forma de religião, a religião do Deus-Mercado, do Deus-Dinheiro, e um novo ritual consistente de produção-consumo. A sociedade moderna se baseia na exacerbação do desejo.

O desejo, cultivado e usado adequadamente, se converte numa fonte de civilização, numa fonte de paz, felicidade e contentamento; mas descontrolado é um tremendo poder destrutivo.

Neste livro, Dokushô Villalba também se refere à forma como a palavra Zen foi explorada pelo marketing e retirada do seu contexto original. Considera que foi uma apropriação indevida e até imoral. Que actualmente está desvalorizada e que a maioria das pessoas não sabe da sua procedência.

A palavra Zen soa bem e por isso agora há todo o tipo de coisa com o rótulo “Zen”. É uma palavra que tem mais de 2500 anos de antiguidade, e que o mercado, o marketing, a publicidade o usa para o seu próprio benefício que é produzir e vender mais.

Não é bom a palavra “Zen” ser associada a coisas positivas?

Há sempre várias perspetivas e ao contrário das opiniões anteriores a Monja Isshin, na palestra “Tatuagens” publicada no YouTube no dia 04/08/2019, afirma que acha positivo a popularização da palavra Zen e o facto de ela ser associada a coisas positivas.

Não só a palavra Zen mas também a imagem de Buda se popularizou e a vemos em vários locais com o objetivo de transmitir paz e alegria. Isso fica no inconsciente coletivo da população. Mesmo para pessoas de outra religião ou sem religião, geralmente olham para essas imagens e associam a algo bom. É positivo que o budismo tenha essa associação.

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