«Os ensinamentos do Buda são relevantes porque nos fornecem uma estrutura ideal para ver e analisar a realidade do mundo em que vivemos e para encontrar soluções para os nossos problemas, olhando para essa realidade com uma visão correta.»
O texto que se segue é a tradução quase integral da 14ª Declaração do Dia do Vesak celebrado pelas Nações Unidas em 2017 no Sri. Lanka. Confira neste link o texto original.
«(…) Acredito firmemente que a mensagem de paz e compaixão ensinada pelo Buda é válida e relevante no mundo atual, mais do que nunca. O Dhamma ou a doutrina desse grande mestre mostrou, por mais de dois milénios, o caminho para a iluminação da humanidade, e continua a aliviar o sofrimento de milhões de pessoas com as suas virtudes universais.
Vamos refletir nesta ocasião, porque os ensinamentos do Buda são relevantes para o mundo de hoje mais do que nunca?
Os ensinamentos do Buda são relevantes porque nos fornecem uma estrutura ideal para ver e analisar a realidade do mundo em que vivemos e para encontrar soluções para os nossos problemas, olhando para essa realidade com uma visão correta.
Nas Nações Unidas, os nossos esforços visam aliviar o sofrimento humano, mantendo a paz mundial, alcançando o desenvolvimento sustentável, salvaguardando os direitos humanos e protegendo o meio ambiente, entre outros. Os ensinamentos budistas são essencialmente consonantes com esses esforços.
A dura realidade é que, apesar dos nossos esforços veementes, o nosso mundo contemporâneo tornou-se um lugar cada vez mais perigoso. O mundo continua a ser atormentado por conflitos violentos, pobreza, fome e doenças.
Nestes tempos conturbados, a humanidade é confrontada pela desconfiança mútua, aumentando o isolacionismo, o ódio e a violência. O aumento das tensões e a ameaça do terrorismo e do extremismo em todo o mundo estão ameaçando a segurança da humanidade e a sua esperança pela paz.
Esta situação pode ser melhor explicada pela primeira das quatro nobres verdades ensinadas pelo Buda, isto é, a verdade da realidade de Dukkha ou sofrimento como parte da existência condicionada da humanidade. A doutrina do Buda nos ajuda a analisar essa realidade e a encontrar as raízes de muitos problemas que o mundo enfrenta hoje.
Se quisermos nos aprofundar nas causas profundas dos conflitos violentos, nas crescentes tensões, na desconfiança mútua e no ódio, poderemos ver que elas estão sendo criadas pelas ações estimuladas por uma visão equivocada e um julgamento nebuloso. Muitas vezes vemos que visões erradas e um julgamento nebuloso estão permeando não apenas a atual ordem política global, mas também dentro dos próprios Estados, criando tensões e conflitos violentos.
Como Ven. Bhikkhu Bodhi, que nos homenageou com a sua presença neste evento hoje, escreveu certa vez: “No mundo atual, muito mais do que no antigo Vale do Ganges, visões erróneas ganharam ampla aceitação e assumiram formas mais perniciosas que nas épocas anteriores, o que jamais poderiam ter sido imaginado ”.
Não há necessidade de dizer que, num mundo onde existem capacidades militares que poderiam ter consequências inimagináveis para a própria existência da humanidade, uma visão errada ou uma decisão errada obscurecida pelo preconceito, raiva ou ignorância seria catastrófica.
Os ensinamentos do Buda nos fornecem o remédio para essa condição perigosa. Ele propôs a Visão Certa ou Samma Ditti no topo do nobre caminho óctuplo, o caminho nobre que levaria alguém ao despertar e à iluminação.
Visão correta é entendimento correto. É a visão da realidade não obscurecida pela avareza, ira ou ignorância. Para citar Bhikkhu Bodhi novamente, “a visão correta é o cinzel a ser usado para cortar a escória de visões erróneas e pensamentos confusos que impedem que a luz da sabedoria ilumine as nossas mentes”.
Nas nossas negociações nas Nações Unidas e na política entre as nações nos dias atuais, a visão correta é uma obrigação. Se quisermos aplicar os ensinamentos do Buda da visão correta nas nossas relações, as causas profundas da desconfiança mútua, do ódio e das tensões poderiam ser eliminadas, salvando milhões de vidas e aliviando o sofrimento humano.
Como Nações Unidas, esta é a mensagem que devemos procurar propagar. (…)»
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