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A meditação terá sido útil para a sobrevivência dos jovens na gruta da Tailândia?

No dia 23 de Junho, 12 jovens integrantes de uma equipa de futebol local e com idades entre os 11 e 16 anos, junto com o seu treinador de 25 anos, foram declarados desaparecidos. As autoridades encontraram as suas as bicicletas junto à entrada da gruta Tham Luang da província de Chiang Rai, Tailândia.

Prontamente são iniciadas as primeiras explorações para os encontrar e resgatar. Devido à complicação do terreno e às inundações dentro da gruta, a tarefa é de grande complexidade e dificuldade.

Passados 10 dias, as crianças são encontradas a mais de 4 km dentro da gruta. Conseguiram sobreviver praticamente sem alimentos, quase em total escuridão, com pouco oxigênio e com um desafio psicológico muito difícil de gerir.

Mas o pesadelo não terminou, o resgate é de grande dificuldade. Alguns jornalistas afirmam que provavelmente é o resgate mais difícil da história.

Quem é o treinador e qual foi o papel da meditação e do budismo?

Ekkapol Chantawong, o treinador dos rapazes, ficou órfão aos 10 anos. Durante uma década foi monge budista e só deixou de o ser para tomar conta da avó doente. Vários especialistas dizem que a sua capacidade de meditar e manter-se calmo foi fulcral para manter os rapazes vivos dentro da gruta.

Segundo o Público, os mergulhadores dizem que o treinador é um dos que está em pior condição física, já que abdicou da pouca comida que trazia consigo para a dar aos rapazes, deixando-lhes também grande parte da água que pingava das estalactites e que os manteve vivos. O treinador ensinou as crianças a meditar e a conservar o máximo de energia possível e os socorristas garantiram desde o primeiro dia em que o grupo foi encontrado que foram os esforços de Ekkapol que fizeram com que todos ficassem vivos. “Vejam o quão calmos eles estão à espera. Ninguém estava a chorar sequer, é surpreendente”, disse a mãe de uma criança de 11 anos que pertence ao grupo, sem dúvidas de que a presença do treinador foi crucial.

Acredito que [a meditação] tenha sido vantajosa – mesmo que tenha servido unicamente como uma forma de as crianças sentirem que o seu treinador estava a fazer algo para as ajudar”, argumentou o professor universitário de Psicologia, Michael Poulin, à Associated Press. Uma tia do treinador Ake, Tham Chantawong, disse à Associated Press que a sua capacidade de permanecer calmo foi a chave para manter o grupo vivo: “Ele conseguia meditar durante uma hora. E isso ajudou-o de certeza e provavelmente também ajudou os rapazes a ficarem calmos”.

Sem a ajuda do treinador e a sua capacidade de meditar a gestão psicológica poderia ter sido mais difícil. “É muito provável que enquanto os rapazes estiveram presos na caverna sem serem descobertos tenham experienciado vários graus de ansiedade, medo, confusão, vulnerabilidade e dependência, e, talvez, desespero”, afirmou Paul Auerbach, do Departamento de Medicina de Emergência da Universidade de Stanford, citado pela Associated Press.

O psiquiatra Vítor Cotovio em declarações à TSF afirmou que: “Se eles conseguirem aprender e pôr em prática uma gestão emocional e comportamental, e até cognitiva do pensamento – não terem pensamentos muito destrutivos e pessimistas -, esta prática da meditação pode ajudar a que eles se autorregulem para que, mesmo que venha a ser necessário terem de mergulhar, as sensações de claustrofóbica e sensação iminente de a vida estar em perigo sejam contrabalançadas com as variáveis de autorregulação emocional e comportamental que são fundamentais. Se praticarem meditação pode ser uma ferramenta que os ajude a autorregularem-se de forma a poderem sair bem desta situação.”

Vitor Cotovio também refere que “está provado que as práticas de meditação têm esta possibilidade de autorregulação porque acalmam uma zona do nosso cérebro que é a zona do medo.” Acrescenta também que “o facto de já serem equipa cria lanços entre eles e pode criar uma situação quer de confiança, quer de resiliência, quer de esperança que, se mantiverem o contacto com o exterior, com os familiares e com os outros que os estão a tentar ajudar, a ligação e o sentimento de pertença faz com que este círculo possa funcionar se não houver coisas que não controlamos, como as chuvas que aí vêm.”

Muito do nosso sofrimento e stress advém do facto de estarmos imersos em pensamentos sobre o passado ou futuro, de não estamos focados no momento presente. Essa ruminação mental amplia muito mais o nosso sofrimento pois ficamos em stress por algo que já passou ou por algo que ainda não aconteceu. Os jovens encontrando-se em relativa segurança apesar de ser uma situação muito complicada, se ficassem dominados por pensamentos negativos sobre o passado ou futuro estariam sujeitos a um desgaste mental e físico adicional, daí que a meditação, um dos pilares do budismo, possa ter sido de grande ajuda para as crianças e treinador.

Após terem sido estudadas várias soluções para o resgate, o processo de retirada das crianças da gruta teve inicio no Domingo passado (08/07/2018) onde foram retiradas com sucesso as primeiras 4. Atualmente decorre a retirada de mais 4 crianças e posteriormente serão retiradas as restantes mais o treinador.

Segundo diversas informações os jovens e o treinador costumam fazer várias atividades em conjunto. Desta vez foram explorar a gruta, mas uma forte chuva que caiu subitamente inundou a saída da gruta e consequentemente os impediu da sair, conforme os caminhos e galerias iam ficando inundados mais necessidade tinham de adentrar para o interior da gruta.

O treinador por carta pediu desculpa aos pais das crianças e prometeu cuidar bem delas. Os pais também fizeram chegar uma carta através dos mergulhadores afirmando para não se preocupar que não o culpam pelo que aconteceu.


“Penso nomeadamente nos tibetanos que, graças à prática do budismo, são menos vulneráveis às experiências trágicas. Tal como resistimos melhor às doenças e curamo-nos mais depressa se tivermos um corpo robusto, se tivermos um espírito são suportamos mais facilmente os acidentes trágicos ou as más notícias. Se o nosso espírito for fraco, esses acontecimentos perturbam-nos mais e de uma maneira mais duradoura.”

“Caso tenham vivido uma tragédia, compreendam que a vossa inquietude e os vossos tormentos só servem para aumentar desnecessariamente o sofrimento. Conversem sobre o vosso problema, façam-no sair, não guardem segredo dele por pudor ou por vergonha. Chegou o momento de dizer que esse problema pertence ao passado e que não vale a pena arrastá-lo para o futuro. Tentem dirigir o espírito para os aspetos mais positivos da vossa existência.”

– Conselhos do Coração, Dalai Lama


Atualização (10/07/2018): Após 18 dias, todas as crianças e o treinador que as acompanhava foram resgatados da gruta Tham Luang. Um médico e três mergulhadores dos comandos da marinha tailandesa, que ficaram junto do grupo desde que este foi encontrado, também já se encontram a salvo.

Momentos antes dos rapazes serem encontrados muitos já perdiam a esperança, e após a localização do grupo, chegou-se a temer que a retirada de todos seria uma missão impossível, pois seria extremamente difícil e de grande complexidade. Os rapazes e os vários elementos operacionais tiveram de percorreram um perigoso caminho composto por complexas galerias, com rochas afiadas, muitas delas submersas por água turva em que a visibilidade era quase nula e onde passava uma só pessoa.

A operação envolveu milhares de indivíduos de vários países e o resgate foi extraordinariamente bem sucedido! No entanto, a lamentar em toda esta operação está a morte a morte de Saman Guman, ex-membro da marinha tailandesa, que faleceu no passado dia 6 de julho, depois de levar uma reserva de ar às crianças.

O treinador é apontado como um herói por conseguir gerir esta situação mantendo as crianças com vida, e obviamente também os socorristas, mergulhadores e as diversas pessoas envolvidas no resgate.

Atualização (11/07/2018): Foi confirmado que durante o procedimento de resgate as crianças e o treinador foram sedados, pois se entrassem em pânico durante o percurso que os levava à saída da gruta a missão ficaria em risco. Soube-se também que a principal bomba de extração de água falhou algumas horas após a evacuação dos últimos jovens e do treinador, fazendo subir rapidamente o nível da água e obrigando a uma evacuação da equipa que ainda trabalhava dentro da gruta.

Do hospital, os médicos informaram que os rapazes estão em boas condições físicas e mentais.

O Rev. Mauricio Hondaku em entrevista para o UOL VivaBem salienta o facto de que a meditação não é parar de pensar e que requer treino e uma boa orientação. E na Tailândia é comum que as crianças tenham contacto com a meditação, já possuir um treino prévio pode ter garantido um maior sucesso dos meninos.

Numa entrevista para a Globo Ajahn Mudito, que viveu 13 anos na Tailândia como monge, explica que o budismo pode ter sido importante para Ekkapol e para os meninos porque o budismo tem uma característica muito forte que é o treinamento da mente. O budismo almeja a iluminação, mas para se conseguir a iluminação é necessário ter uma mente saudável, harmoniosa, uma mente que não agride a si mesma, uma mente amiga de si mesma. E numa situação difícil como essa uma mente que se ajuda e não se sabota é o que mais é útil. Nas situações mais difíceis é quando as qualidades da mente vêm à tona, Ajahn Mudito por isso diz que não é propriamente uma novidade para ele ouvir uma história como essa, mas que fica muito feliz por ter corrido tudo bem! Mudito também diz que quanto viveu como monge na Tailândia passou por um treinamento muito forte, porque dessa forma obriga a pessoa a desenvolver certas qualidades mentais, a pessoa passa a ter a sua própria mente como refúgio sem depender tanto do ambiente externo.

Atualização (18/07/2018): As crianças e o treinador tiveram alta um dia antes do previsto. E antes de voltarem à vida normal, foi dada uma conferência de imprensa onde as crianças e o treinador puderam responder a algumas perguntas.

Foi confirmado que os rapazes estão considerando tornarem-se monges noviços em agradecimento pelo resgate e também em homenagem a Saman Guman, ex-membro da marinha tailandesa que faleceu durante os esforços do resgate. Há que referir que na Tailândia é comum as pessoas tornarem-se monges por um período de tempo, não é necessariamente para o resto da vida.

Atualização (25/07/2018): 11 dos 12 jovens resgatados foram ordenados temporariamente monges noviços e vão estar em retiro durante 9 dias. Só foi possível um período de 9 dias porque de seguida terão de estudar e se prepararem para os exames. Além dos jovens, o treinador também foi ordenado monge. A cerimónia de ordenação ocorreu ontem e também serviu para homenagear todos os envolvidos no resgate e em especial o mergulhador falecido. Após a cerimónia o retiro teve início. Um dos rapazes não integrou o grupo por ser cristão mas esteve presente na cerimónia.

Crianças resgatadas da gruta da Tailândia
Créditos: Panumas Sanguanwong / AFF

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