Theravada Trechos Vajrayana (Tibetano)

8 preocupações mundanas

"As oito preocupações resumem, em geral, nossa motivação pela busca da felicidade, e este é exatamente o problema. As oito preocupações mundanas — que não são erradas em si — são a base de nossa motivação, e é a motivação, mais do que qualquer outro factor, que determina o resultado da prática espiritual." - B. Alan Wallace

Trecho do livro “Buddhism with an Attitude” (2001, pg. 15), de B. Alan Wallace.

A tradição budista lida com as preconcepções sobre o sucesso como prioridade com um diagnóstico diferencial de oito partes chamado de “as oito preocupações mundanas”, oito direções para a busca da felicidade baseadas em suposições não investigadas. A fixação nessas preocupações subverte nossos melhores esforços, conduzindo ao sucesso falso ou frustração real.

As oito preocupações mundanas consistem em quatro pares de prioridades:

(1) buscar aquisições materiais e (2) evitar sua perda;
(3) buscar o prazer dirigido pelo estímulo e (4) evitar o desconforto;
(5) buscar o elogio e (6) evitar a crítica; e
(7) manter a boa reputação e (8) evitar a má reputação.

Essas oito preocupações resumem, em geral, nossa motivação pela busca da felicidade, e este é exatamente o problema. As oito preocupações mundanas — que não são erradas em si — são a base de nossa motivação, e é a motivação, mais do que qualquer outro factor, que determina o resultado da prática espiritual.

Não há nada de errado em adquirir bens materiais — um carro, uma casa; e, inversamente, a pobreza não é necessariamente uma virtude. Não há nada de errado em aproveitar um pôr-do-sol, um bom livro, uma conversa agradável ou uma bela música. Não é errado ser elogiado. Ser amado e respeitado pelos outros também não é errado.

Por outro lado, não é ruim ser criticado pelos outros se você estiver levando uma vida benéfica e significativa. Muitos praticantes bem-sucedidos no darma estão contentes e felizes vivendo em total pobreza. A reputação pode melhorar e piorar, mas é possível que o contentamento permaneça constante. A verdadeira fonte da felicidade não está no domínio das oito preocupações mundanas. Ricos, pobres, elogiados, criticados, estimulados, entediados, respeitados, ultrajados — nenhuma dessas preocupações mundanas em si são fonte de felicidade. Nem impedem a felicidade.

O problema é que, quando nos concentramos nas preocupações mundanas como um meio para a felicidade, a vida se torna um jogo de dados. Não há garantias. Se você aspira à riqueza material, pode não conquistá-la, e se conseguir, não há garantias de que será feliz. Se aspira ao prazer, quando o estímulo acabar, a satisfação também terminará. Não existe felicidade duradoura em sair correndo atrás do prazer. As pessoas que são respeitadas e famosas tendem a ter os mesmos problemas pessoais que as outras.

A deficiência fatal das oito preocupações mundanas é que elas são Darma falsificado, modos mal dirigidos de buscar a felicidade e — ao confundir habitualmente as preocupações mundanas com o Darma genuíno — nossos esforços para atingir a felicidade genuína são continuamente sabotados.


Estas preocupações também podem ser formuladas como:

Querer ser elogiado
Não querer ser criticado

Querer ganhar
Não querer perder

Querer ser reconhecido
Não querer ser ignorado

Querer prazer
Não querer dor


O professor de budismo vajrayana, Dzongsar Khyentse Rinpoche, afirmou que:

“Atisha Dipankara, um dos maiores eruditos budistas da Índia, tinha um modo maravilhoso de colocar isto. Ele disse: ‘Oito coisas que fazem uma pessoa ficar fraca’. Ele estava se referindo aos oito dharmas mundanos, ou oito armadilhas nas quais caímos: […]

Então, devemos verificar se caímos em qualquer uma destas armadilhas.

Eu caio em todas elas, especialmente na primeira, querer ser elogiado. Sempre gosto de ser elogiado, essa é a minha maior fraqueza.

Estou certo de que isto acontece com muitos de nós; palavras pequenas, superficiais, inúteis e ridículas de louvor podem nos fazer realmente, realmente fracos.

O mesmo acontece com a crítica; algumas palavras ridículas e insignificantes de crítica podem nos ferir para sempre.

Penso que todos vocês sabem do que estou falando: como gostamos de ganhar, como não gostamos de perder; o quanto amamos a atenção; o quanto não gostamos de ser ignorados…

Todas estas são armadilhas.

Se cairmos numa destas armadilhas, nos tornaremos fracos.

Eu caio nestas oito armadilhas o tempo todo.

Não quero perder amigos, quero ser louvado, não quero ser criticado, quero ganhar discípulos, quero ter atenção, não quero ser ignorado.

Então, o que faço?

A fim de obter o que quero e de evitar o que não quero, eu termino massageando o ego de outras pessoas.

Idealmente, se eu fosse um professor de verdade, eu deveria estar lhes dizendo o que vocês precisam ouvir, o que pode ser bem doloroso.

Se eu realmente assumir seriamente o meu papel de amigo espiritual, isto irá ferir o seu ego.

A linha de fundo é que o caminho espiritual é ir além do desejo do ego.

Peço desculpas por dizer isto, mas este é o único caminho.”

Veja também:


Sobre Alan Wallace, Dzongsar Khyentse Rinpoche | Lista de Mestres e Professores