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Zazen: o que é e como praticar?

«Zazen não é outra coisa senão sentar-se tranquilamente e observar-se a si próprio objectivamente. O que é o “eu”? O meu mestre dizia: “Devemos conhecer o nosso eu puro e verdadeiro. Devemos tornar-nos íntimos connosco próprios.”» Taisen Deshimaru


O que é?

Zazen é a pratica de meditação sentada do Zen Budismo. Segue abaixo alguns trechos sobre o Zazen.

Zazen é a compreensão do nosso verdadeiro Eu | Taisen Deshimaru
Transcrição do artigo do Cap. 4 – Artigos escritos pelo mestre Taisen Deshimaru para os ocidentais, do livro “Verdadeiro Zen”, por Taisen Deshimaru. Editora Assírio & Alvim

Zazen não é outra coisa senão sentar-se tranquilamente e observar-se a si próprio objectivamente. O que é o “eu”? O meu mestre Kodo Sawaki dizia: “Devemos conhecer o nosso eu puro e verdadeiro. Devemos tornar-nos íntimos connosco próprios.”

Quer isto dizer que o que olha é o eu subjectivo e o que é olhado é o eu objectivo? Mesmo que esta relação do que olha e do que é olhado seja levada muito longe, é impossível descobrir aí o verdadeiro eu, que não é nem objectivo nem subjectivo. Este eu verdadeiro pode ser chamado o “sujeito puro”. Ele tudo governa; e não o é o sujeito, tal como o conhecemos em geral, mas um “super sujeito” individual. Ele está em relação a todo o universo. É, podemos dizer, “o espírito de Buda”. Dito isto de outro modo, zazen é olhar, do ponto de vista da objectividade, a manifestação subjectiva.

Por exemplo: precisamos de um espelho para conhecer o nosso rosto. Assim, olhando atentamente o subjectivo, podemos ver a objectividade, porque em nós, a objectividade é subjectiva e reciprocamente, a nossa subjectividade é objectiva. Se a prática deste exame for levada mais longe, poderemos, no final descobrir o “sujeito puro”.

Estamos privados deste último na vida corrente pois permanecemos cegos, devido aos nossos desejos, chamados “vontade”. Mas graças ao zazen, sentados em tranquilidade, poderemos encontrar a nossa verdadeira natureza, o nosso eu superior puro, evitando procurá-lo conscientemente; quer dizer que o encontramos sem “pensar” nisso, parando toda a actividade mental dirigida para essa procura. pode acontecer que algumas fantasias espontâneas ou pensamentos preocupantes passem diante de nós; não é preciso esforçarmo-nos por afastá-los. São como bolhas que sobem à superfície da água e desaparecem, ao mesmo tempo que o fundo do rio fica tranquilo.

Durante a actividade diária, não somos muito sensíveis a todas as impressões variadas que aparecem e desaparecem no nosso espírito, mas ao contrário, elas são muito nitidamente percebidas durante o zazen.

É assim que, durante zazen, podemos observar objectivamente a nossa mente. Percebemos os seus movimentos, observamo-los em liberdade, estamos na sua intimidade e acedemos ao nosso próprio eu, livre e aberto. Quando acabam todos os desejos da nossa actividade habitual, o nosso corpo e o nosso espírito originais aparecem, somos postos em relação directa com a verdade absoluta, não através da consciência das nossas percepções, mas através do simples treino do corpo e espírito, ou seja, zazen.

Quando praticamos zazen, tudo o que faz parte do mundo que nos rodeia, para lá do tempo e do espaço, existe e não existe objectivamente. Tudo se torna uno na nossa mente. É o resultado da actividade do nosso espírito objectivo superior. É esse o ponto mais alto da filosofia zen na nossa vida.

Desde os tempos mais antigos que a ética ocidental e oriental se opõem em numerosos ponto. A atitude oriental é muito calma, sem actividade exterior, sem agressividade; ela é negativa e passiva. Procurando a paz interior, o ideal oriental não é tornar-se um herói de renome, mas um santo pacífico. Prefere tornar-se um Buda do que um Hércules. O ideal oriental não é o poder, mas a harmonia, não são os desejos, mas a ausência de desejos. É o que diz o zen: “sem desejo: nada” O oriente aspira ao cessar de toda a luta, como se aspirasse ao cessar-fogo num campo de batalha.

Os Orientais combatem mas, no fundo do seu coração, a luta não é um fim, é um método para atingir a paz definitiva, um acordo entre o nosso mundo interior e o mundo exterior.

A postura tranquila de Buda é a imagem perfeita do ideal oriental. Ela mostra a atitude daqueles que alcançaram a paz, mostra a tranquilidade absoluta e o puro conhecimento de si. É um estado que não é nem inquieto, nem triste, nem alegre. Já não há nem desenvolvimento de desejos nem decepção, nem dia nem noite, nem juventude nem velhice, nem amigos nem inimigos, nem vida nem morte. O Oriente coloca o seu ideal para além da vida e da morte, a que ele chama nirvana.

O Oriente não é tão combativo, nem activo, nem apaixonado, nem positivo, nem empreendedor como o Ocidente. Nele segue-se um caminho muito fácil, mas claro pacífico, silencioso. É como a tranquilidade de um nenúfar flutuando num lago, na floresta. É a harmonia sem movimento nem ruptura. É para além do tempo e do espaço. Os símbolos do oriente são quase todos flores. O símbolo do budismo é a flor de lótus e é sentado nessa flor que as estátuas mostram Buda.

Vou contar-vos uma história oriental que nos vai mostrar como é difícil olhar para dentro de si. Mesmo com as meditações, mesmo nos templos, os orientais podem ser extrovertidos. Esta história também se conta na China, na Indochina, etc…

Num templo das montanhas, quatro monges praticavam zazen depois de terem feito votos de silêncio. Ao cair da noite, acenderam uma vela para continuar a meditação. Uma rabanada de vento abriu a janela e a chama da vela vacilou. O bonzo mais novo gritou: “Ah! a vela apagou-se!”. O monge seguinte exclamou: “Não devias falar!”. O terceiro bonzo, o mais importante, disse: “Estais a ser inconvenientes, a meditação é silenciosa, não deveis falar!” Então o bonzo-chefe disse: “Como sois pouco razoáveis. Só eu é que não falei!”

O silêncio em teoria é fácil, mas a sua prática é muito difícil. Olhar-se a si próprio é fácil em teoria, mas na prática é muito difícil.

Todo o homem, seja ele ocidental ou oriental, gosta de olhar para o exterior, mas é necessário olhar, o mais frequente possível, para si próprio. É isso que nós devemos empreender, sempre que praticamos zazen.

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Trailer do documentário de longa-metragem de Bruno Mitih sobre o zazen – meditação sentada. Bruno Mitih é fotógrafo, videomaker e monge zen ordenado pelo Rev. Dosho Saikawa Roshi. Música: Yoichi Okada e Francisco Casaverde.

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Zazen | Tira de BD | Shunryu Suzuki | Daniel Gisé
Ilustração de Daniel Gisé

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Sentamos em zazen para enxergarmos nossa verdadeira natureza. Nossa verdadeira natureza está além dessa existência, além desse ser que nasce e morre, nossa verdadeira natureza é compartilhada com os pássaros lá fora, com toda a vida da terra, com nossos ancestrais, com nossos descendentes. Somos muito mais do que esse fenômeno que nasceu e que irá morrer. Sentamos em zazen e não cogitamos mais passado e futuro. Não lutem com seus pensamentos, não raciocinem, não sigam idéias, apenas sentem nesse momento, ouçam os pássaros, o ruído do trafego e nossa própria respiração. Esse momento é a única realidade e se ficarmos nele adquiriremos paz. Essa paz nos permitirá enxergar mais profundamente e alcançarmos a verdadeira sabedoria. Não se trata de acreditar, mas sim de experimentar. Então, experimentem, fiquem aqui, não se deixem levar pelos seus pensamentos, retornem para cá a cada momento. Sejam senhores de suas mentes.”

– Palavras de Monge Genshô no início do zazen

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Sugestões de Leitura (links externos):

Zazen: A Postura que Reflete o Universo
O zazen, a meditação Zen que foi codificada pelo movimento de renovação do budismo japonês – em particular as Escolas Soto e Rinzai -, encarna de forma tão radical o espírito do Zen que mestres costumam dizer que “o Zen é simplesmente zazen”. Para Dogen, o criador do Soto, a postura em si já era o satori. Sua simplicidade, no entanto, está fundada em princípios que se interligam e são, muitas vezes, paradoxais: “A postura do zazen possui o universo inteiro, inclui todas as contradições“. Continue a ler…

Chan, o Dharma da Natureza
O Chan, ramo do budismo chinês que originou o Zen no Japão, foi uma reação contra o formalismo dogmatico que havia afastado os fiéis da pureza dos ensinamentos originais de Buda.

A escola bebe da essência revelada no Sutra do Lótus, em que Sakyamuni segura uma flor sem nada dizer e é compreendido apenas por Mahakasyapa: a luz da verdade é “trivial” e pode ser encontrada ao redor e dentro do homem. Continue a ler…

As Profundezas Infinitas da Banalidade
Sodô Yokoyama, chamado de “O Mestre da Flauta de Folha”, é considerado um dos cinco grandes renovadores do zen japonês no século XX. No texto traduzido abaixo, Yokoyama nos mostra sua visão particular sobre o zazen, que traz como maior presente o despertar do homem para sua banalidade e a ideia libertadora da prática eterna.

Sodô Yokoyama era um homem profundamente incomum sob o manto de sua humildade e de sua certeza de ser um homem banal. Assim como outro discípulo de seu mestre Kodo Sawaki, Taisen Deshimaru, ele não se inclinou para uma vivência dogmática do zen e foi muito pouco ortodoxo em sua prática. Era chamado de “O Mestre da Flauta de Folha”. Continue a ler…

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“A prática do Zazen é a expressão directa da nossa verdadeira natureza. Num sentido estrito, para um ser humano, não existe outra prática para além desta prática; não existe outro modo de vida para além deste modo de vida.”

– Shunryu Suzuki

Como praticar Zazen?

Instruções de Monja Coen

Como meditar? | Monja Coen explica o ZAZEN

Instruções de Monja Sodô

Documentos (links externos):

Veja também:


Sobre Taisen Deshimaru, Monge Genshô, Shunryu Suzuki, Monja Coen

Lista de Mestres e Professores | Lista de Livros, eBooks e Weblivros

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