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Karma não é Destino

"Nós mesmos somos responsáveis por nossas ações, felicidade e miséria. Nós construímos nossos próprios infernos. Criamos nossos próprios céus. Somos os arquitetos do próprio destino. Em definitivo, nós mesmos somos nosso próprio Kamma." - Narada Mahathera

Colhemos o que semeamos

Trecho do Capítulo VI. Kamma: A Lei da Causalidade Moral, do livro Budismo em Poucas Palavras de Narada Mahathera.

Nós mesmos somos responsáveis por nossas ações, felicidade e miséria. Nós construímos nossos próprios infernos. Criamos nossos próprios céus. Somos os arquitetos do próprio destino. Em definitivo, nós mesmos somos nosso próprio Kamma.

Numa ocasião, um certo jovem chamado Subha, aproximou-se de Buddha e perguntou-lhe qual era o motivo de entre os seres humanos existirem estados elevados e inferiores.

“Pois”, continuou, “encontramos entre os seres humanos aqueles de vida breve e de longa vida, os saudáveis e os doentes, os bem parecidos e os feios, os poderosos e os que não têm poder algum, os pobres e os ricos, os de elevado nascimento e os de baixo nascimento, os ignorantes e os inteligentes”.

Buddha replicou sucintamente:

“Cada criatura vivente tem o Kamma como propriedade, como herança, como causa, como origem, como refúgio. O Kamma é o que diferencia os seres viventes de estados baixos e elevados.”

Em seguida, explicou a razão para tais diferenças segundo Lei da Causalidade Moral.

Assim, de um ponto de vista Budista, nossas presentes diferenças mentais, intelectuais, morais e temperamentos devem-se principalmente, às nossas próprias ações e tendências, tanto passadas como presentes.

O Kamma, literalmente, significa ação; mas, num sentido último, significa volição meritória e demeritória (Kusala Akusala Cetana). Kamma constitui tanto o bem como o mal. Bem gera o bem. Mal produz o mal. Semelhante atrai semelhante. Esta é a Lei de Kamma.

Como alguns ocidentais preferem dizer, Kamma é “ação-influência”.

Colhemos o que semeamos. O que semeamos nós colhemos em algum lugar ou em algum momento. Em certo sentido, somos o resultado do que fomos; seremos o resultado do que somos. Em outro sentido, não somos totalmente o resultado do que fomos; Não somos absolutamente o resultado do que somos. Por exemplo, um criminoso hoje pode ser um santo amanhã.

O Budismo atribui esta variação ao Kamma, mas não afirma que tudo se deve ao Kamma.

Se tudo se devesse ao Kamma, um homem [mau] seria sempre mau, pois o seu Kamma é de homem mau. Outro homem [bom] não teria que visitar um médico para ser curado de uma doença, pois se o seu Kamma fosse assim, esse homem se curaria.

Segundo o Budismo, existem cinco ordens ou processos (Niyāmas) que operam nas esferas do físico e do mental:

  1. Kamma Niyāma: Ordem de ato e consequência – por exemplo, atos desejáveis ou indesejáveis produzem os correspondentes bons ou maus resultados.
  2. Utu Niyāma: Ordem física (inorgânico) – por exemplo, fenómenos sazonais dos ventos e das chuvas.
  3. Bīja Niyāma: Ordem dos germes ou sementes (ordem orgânico-física) – por exemplo, o arroz produzido por sementes de arroz, o sabor doce da cana-de-açúcar ou mel, etc. A teoria científica das células e genes e a similaridade entre gémeos são exemplos desta ordem.
  4. Citta Niyāma: Ordem da mente ou lei psíquica – por exemplo, os processos de consciência (Citta Vīthi), poder da mente, etc.
  5. Dhamma Niyāma: Ordem da norma – por exemplo, os fenómenos naturais que ocorrem quando chega um Bodhisatta em seu último nascimento, gravidade, etc.

Todos os fenómenos mentais ou físicos poderão explicar-se por estas cinco ordens ou processos que abarcam tudo e que são leis em si mesmas.

O Kamma é, portanto, só uma das cinco ordens que prevalecem no universo. Trata-se de uma lei em si mesma, mas não se deve inferir que deve existir um legislador. As leis atuais da natureza, como a lei da gravidade, não necessitam de um legislador. Operam em seu próprio campo sem a intervenção de um agente governante independente.

Ninguém, por exemplo, decretou que o fogo deve queimar. Ninguém ordenou que a água deve procurar o seu próprio nível. Nenhum cientista ordenou que a água deveria ser composta de H2O e que o frio deve ser uma das suas propriedades. Estas são as suas características intrínsecas. O Kamma não é nem destino nem predestinação imposta a nós por algum poder misterioso desconhecido ao qual nos devemos impotentemente submeter. São os próprios atos reagindo em nós mesmos, e portanto tem-se a possibilidade de desviar o curso do Kamma em certa medida. Até que ponto se pode desviar depende da própria pessoa.

Além disso, deve-se dizer que uma fraseologia como recompensa e punição, não deve ser autorizada a entrar em discussão a respeito do problema do Kamma, uma vez que o Budismo não reconhece nenhum Ser Todo-Poderoso que governa seus súbditos e lhes recompensa e castiga em consequência. Budistas, pelo contrario, acreditam que a dor e a felicidade que uma pessoa experimenta são o resultado natural das próprias boas e más ações. Importa referir que o Kamma tem o principio de continuidade e o principio retributivo.

Inerente ao Kamma é a potencialidade de produzir o seu devido efeito. A causa produz o efeito; o efeito explica a causa. A semente produz o fruto; o fruto explica a semente e ambos estão inter-relacionados. Da mesma forma, Kamma e seus efeitos estão inter-relacionados; “O efeito já floresce na causa.”

Um Budista que está plenamente convencido da doutrina do Kamma não reza a outro para ser salvo, mas certamente confia em si mesmo para a sua purificação, porque esta doutrina ensina a responsabilidade individual.

É esta doutrina do Kamma que proporciona consolação, esperança, autoconfiança e valor moral. É esta crença no kamma “que valida seu esforço, acende seu entusiasmo”, faz-lhe sempre amigável, tolerante e amável. É também esta firme crença no kamma que o leva a abster-se do mal, fazer o bem e ser bom sem estar ameaçado por qualquer punição ou tentado por qualquer recompensa.

É esta doutrina do Kamma que pode explicar o problema do sofrimento, o mistério do chamado destino ou predestinação de outras religiões e, sobretudo, todas as desigualdades da humanidade.

Karma não é Destino

Por Traleg Kyabgon Rinpoche.
Publicado originalmente no site Lion’s Roar.
Tradução: Budismo Petrópolis.

Você não pode negar sua herança kármica, disse o último Traleg Rinpoche, mas isso não significa que não pode mudar.

As críticas ao conceito de karma frequentemente são centradas na noção de responsabilidade individual e sugerem que essa noção gera uma atitude de antipatia em relação aos outros e leva a uma tendência à culpa. O pobre é culpado por ser pobre, e assim por diante. Diz-se, erroneamente, que o budismo culpa os indivíduos por todas as suas circunstâncias e nega-lhes o poder de ação.

Se somos pobres, por exemplo, podemos acreditar, de imediato, que ficaremos assim até acabarem as dívidas cármicas; e então, depois da morte, podemos renascer em circunstâncias afortunadas, quem sabe, nos tornando um rico empreendedor. Entretanto, este tipo de pensamento não combina com a ênfase do budismo na interconectividade de tudo, que confirma a abundante complexidade de influências sobre as pessoas, incluindo seu ambiente.

Certamente o budismo contem a ideia de um acúmulo de karma, impressões, disposições, probabilidades ao longo de nossa vida – padrões de comportamento adquiridos, etc. Mesmo assim, isso não quer dizer que simplesmente esperamos por um karma particular impresso ou dívidas ou heranças que evaporam ou desaparecem, antes que alguma coisa possa ser feita. A teoria kármica do budismo não é semelhante ao fatalismo ou predeterminação. Nós temos poder de escolha (livre arbítrio) em nossas ações. Se não tivéssemos, então a teoria kármica poderia verdadeiramente produzir julgamentos e atitudes moralistas, e os ensinamentos do Buda seriam muito menos inspiradores e muito menos efetivos.

A teoria kármica não tem se fixado em particularidades como essa e não está ligada a uma ordem moral estática. Evidentemente que um elemento de determinismo está envolvido e isso deve ser aceito. Nós somos quem somos por causas de nossa herança kármica.

Poderíamos não ser como nós somos sem essa herança, mas isto não significa que temos que permanecer assim. O ponto em questão é que a teoria kármica nos encoraja a pensar: “Eu posso me transformar na pessoa que eu quero ser e não insistir naquilo que já sou”. Esta seria uma compreensão adequada da teoria budista de karma.

Resultados das nossas ações

Por Tulku Urgyen Rinpoche.
Trecho do livro “Repeating the Words of Buddha”.

O Buda chamou o mundo em que nascemos de “Saha”, que significa “indistinto”, que não pode ser visto claramente. Se cometemos uma má ação, seu efeito não aparece imediatamente. Quando fazemos algo bom, o resultado não é evidente para ninguém. Se o resultado de uma ação negativa amadurecesse logo no momento seguinte, ninguém cometeria maldades. Do mesmo modo, as pessoas não se afastariam de ações positivas, porque o efeito seria instantâneo.

Contudo, os resultados das ações não amadurecem imediatamente; eles não são instantaneamente discerníveis, só amadurecem lentamente. Por não compreendermos os resultados positivos e negativos das ações e não entendermos a impermanência, somos completamente negligentes em relação às consequências de nossas ações. Não vemos o que está acontecendo, não vemos o resultado de nossas ações, não vemos quão pouco ou muito mérito temos, então vagamos como estúpidas vacas.

Se o efeito de uma ação se manifestasse imediatamente, então mesmo que alguém dissesse “por favor, faça uma ação negativa”, não haveria como fazermos isso, porque veríamos o resultado instantaneamente. Se temos olhos e paramos na frente de um abismo, não pulamos, porque vemos que se fizermos isso, morreremos. Se pudéssemos ver os efeitos de nossas ações, jamais cometeríamos ações negativas. Mas este mundo não é assim: aqui, os resultados das ações aparecem de maneira obscura e vaga.

Construímos o bom karma e o mau karma

Genshô Sensei escreveu:

“Meu primeiro professor, Igarashi Roshi, disse assim: “um homem sai do trabalho um dia, passa no bar e toma cachaça antes de ir para casa. No outro dia ele sai do trabalho, leva um amigo e toma novamente uma cachaça no bar. Outro dia ele sai do trabalho e não pode ir para casa enquanto não tomar uma cachaça”, porque se torna um hábito. Outro dia ele não vai poder dormir sem tomar cachaça, não vai poder viver sem tomar uma cachaça, um dia não é mais ele quem bebe a cachaça, é a cachaça que o bebe. Então tudo o que acontece com você, você constrói. Suas inclinações, seus pensamentos, tudo você constrói.”*

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Nota: Kamma e Karma são exatamente a mesma coisa. Kamma está escrito na Língua Páli e Karma está escrito em Sânscrito.

Veja também:


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