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Paticca Samuppāda: Os 12 Elos da Originação Interdependente

Paticca significa “a causa de”, ou “dependente de”; Samuppāda significa “surgimento ou origem”. Portanto, Paticca Samuppāda significa: “Surgimento Dependente”, “Origem Dependente” ou “Originação Interdependente”. Este é um dos mais importantes ensinamentos do Buda. Sobre este tema seguem-se 3 textos de diferentes professores do Dharma e links com informações adicionais.


Trecho do livro “No Que Os Buddhistas Acreditam” de K. Sri Dhammananda.

‘Nem Deus, nem Brahma pode ser encontrado
Em qualquer lugar dessa roda da vida
Apenas os meros fenômenos girando
Dependentes todos de condições’.
(VisuddhiMagga)

A Lei da Originação Dependente é um dos mais importantes ensinamentos do Buddha, e é também muito profundo. O Buddha frequentemente expressou Sua experiência da Iluminação em uma de duas formas, seja em termos de entendimento das Quatro Nobres Verdades ou em termos de entendimento da natureza da Originação Dependente. No entanto, mais pessoas ouviram sobre as Quatro Nobres Verdades e são capazes de discutir sobre elas do que em relação à Lei da Originação Dependente, que é igualmente importante.

Embora o insight de fato com relação à originação dependente surja da maturidade espiritual, é ainda possível entendermos o princípio nela envolvido. A base da Originação Dependente é de que a vida ou o mundo é construído sob um conjunto de relações, nos quais o surgimento e a cessação dos fatores dependem de alguns outros fatores que os condicionam. Esse princípio pode ser apresentado em uma pequena fórmula de quatro linhas:

Quando isso é, aquilo é
Isto surgindo, aquilo surge
Quando isto não é, aquilo não é
Isto cessando, aquilo cessa.

Sobre esse princípio de interdependência e relatividade repousa o surgimento, continuidade e cessação da existência. Esse princípio é conhecido como a Lei da Originação Dependente ou, em pali, Paticca-samuppada. Esta lei enfatiza um importante princípio de que todos os fenômenos neste universo são relativos, são estados condicionados que não podem surgir independentemente de condições sustentadoras. Um fenômeno surge por causa de uma combinação de condições que estão presentes para sustentar seu surgimento. E o fenômeno cessará quando as condições e os componentes sustentadores de seu surgimento sofrerem uma mudança e não forem mais capazes de sustentá-lo. A presença de condições sustentadoras, por sua vez, depende de outros fatores para seu surgimento, sustento e desaparecimento.

Continue a ler: parte 2, parte 3, parte 4, parte 5, parte 6.


Trecho do livro “Budismo em Poucas Palavras” de Narada Mahathera.

[1. Avijjā – ignorância]

A ignorância (Avijjā) é o primeiro elo ou causa da Roda da Vida. Nubla todo o entendimento correto.

[2. Sankhārā – formações volitivas]

Dependente da ignorância das Quatro Nobres Verdades surgem as atividades (Sankhārā) – tanto morais como imorais. As atividades enraizadas na ignorância, sejam boas ou más, que necessariamente devem ter os seus efeitos correspondentes, só tendem a prolongar o deambular pela vida. No entanto, as boas ações são essenciais para a libertação dos males da vida.

[3. Viññāṇa – consciência]

Dependente das atividades surge a consciência de religação (Viññana). Esta conecta o passado com o presente.

[4. Nāma-Rūpa – mentalidade e materialidade / nome e forma]

Simultaneamente com o surgimento da consciência de religação surge a mente e o corpo (Nāma-Rūpa).

[5. Salāyatana – seis bases dos sentidos]

Os seis sentidos (Salāyatana) são as consequências inevitáveis da mente e corpo.

[6. Phassa – contacto]

Devido aos seis sentidos, se estabelece o contacto (Phassa).

[7. Vedanā sensações]

O contacto leva às sensações (Vedanā).

[8. Taṇhā – desejo]

Dependente da sensação surge o desejo (Taṇhā).

[9. Upādāna – apego ]

O desejo resulta em apego (Upādāna).

[10. Bhava – ser/existir]

O apego é a causa do Kamma (Bhava),…

[11. Jāti – nascimento]

…que por sua vez, condiciona o futuro nascimento (Jāti).

[12. Jarā-maraṇa – envelhecimento e morte]

O nascimento é a causa inevitável da velhice e da morte (Jarā-Marana).

Se como resultado da causa surge o efeito, então se a causa cessa, o efeito também deve cessar.

A ordem inversa do Paticca Samuppāda aclara o assunto.

A velhice e a morte são possíveis em, e com, um organismo psicofísico. Esse organismo deve nascer; portanto, a morte pressupõe nascimento. Mas o nascimento é o resultado inevitável de atos passados ou Kamma. O Kamma está condicionada pelo apego que é devido ao desejo. Esse desejo pode aparecer só quando existem as sensações. A sensação é o resultado do contacto entre os sentidos e os objetos. Portanto, isto pressupõe órgãos dos sentidos que não podem existir sem a mente e corpo. Onde há mente existe consciência. É o resultado do bem e do mal passados. A aquisição do bem e do mal deve-se à ignorância das coisas tal como são na realidade.

A fórmula completa pode resumir-se assim:

  • Dependente da Ignorância surgem as Atividades (Morais e Imorais);
  • Dependente das Atividades surge a Consciência (Consciência de religação);
  • Dependente da Consciência surge a Mente e a Matéria;
  • Dependente da Mente e da Matéria surgem as Seis Esferas dos Sentidos;
  • Dependente das Seis Esferas dos Sentidos surge o Contacto;
  • Dependente do Contacto surge a Sensação;
  • Dependente da Sensação surge o Desejo;
  • Dependente do Desejo surge o Apego;
  • Dependente do Apego surgem as Ações (Kamma);
  • Dependente das Ações surge o Renascimento;
  • Dependente do Nascimento surge a Decadência, Morte, Desgosto, Lamentação, tristeza, Dor e Desespero.

Leia o texto completo…


Trecho do livro “A Roda da Vida” de Lama Padma Samten.

O modo como a mente deludida constrói todos os movimentos (nascimento, duração e cessação ou passado, presente, futuro) dos fenômenos diante dos nossos olhos, como as causas e condições do sofrimento se estabelecem de modo sutil em nossa mente e se unem em cadeia.

Quando Buda atingiu a iluminação, ainda sentado debaixo da árvore bodhi, foi assaltado por uma pergunta: “Por que os seres, tendo uma natureza ilimitada e perfeita, manifestam-se de forma limitada? O que acontece com eles?”. Percebeu então que os seres ficam encerrados no interior de um ciclo de transmigração composto de 12 etapas e as percorrem ciclicamente por vidas sucessivas.

Ele compreendeu que, por ser livre, a mente pode gerar ignorância. Por estarmos presos na ignorância, brotam as marcas mentais. Com o surgimento das marcas mentais, surge naturalmente a nossa identidade. Quando surge a identidade, tentamos perpetuar a experiência de existência. Assim, aspiramos um corpo. Surgindo o nosso corpo, fazemos contato com o mundo. A partir do contato, temos sensações. Quando surgem as sensações, tentamos sustentar as agradáveis e nos afastar das desagradáveis. Se obtivermos sucesso, estabelecemos nossa visão de mundo, em decorrência, uma identidade a partir da qual nossas prioridades serão estabelecidas. Com as prioridades, surgem as urgências e a necessidade de sustentá-las; surgem também as defessas, e assim manifestamos os três animais representados no centro da Roda da Vida – o javali, o galo e a cobra. Como a impermanência é inevitável, em certo momento tudo irá desabar. Quando tudo desabar, manteremos as sementes cármicas, ou seja, não importa qual tenha sido o tamanho do estrago, a semente cármica estará preservada. Na ausência de lucidez, essa semente cármica fará com que aspiremos um novo corpo e sigamos indefinidamente nesse processo.

Por meio dessa contemplação, o Buda percebeu que o processo que dá nascimento às nossas diversas identidades no mundo e à prisão a esse ciclo cármico pode ser revertido. E enunciou a terceira Nobre Verdade, que afirma que tudo que é construído, como o sofrimento, pode ser desfeito.


Saiba mais (links externos):

Veja também:

Olhar Budista > Recursos > Budismo: comece aqui!

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